Coreia do Norte testa novo míssil intercontinental, EUA lançam novas sanções

11 mar 2022, 04:15
Kim Jong Un visitou na quinta-feira uma base de lançamento de satélites

Forças americanas no Pacífico elevaram nível de alerta por causa de nova geração de mísseis norte-coreanos e vão intensificar recolha de informações, prontidão e vigilância

A Administração norte-americana acusou a Coreia do Norte de estar a testar um novo míssil balístico intercontinental, e comunicou que as unidades de defesa antimísseis norte-americanas destacadas na Ásia estarão num estado de "maior prontidão" para eventuais novos lançamentos por parte do regime norte-coreano. Os serviços de informação dos EUA admitem que aconteça em breve outro lançamento, destinado a testar todo o alcance do novo míssil.

Num briefing ao fim desta quinta-feira, um alto responsável norte-americano alertou para uma “escalada séria” na capacidade militar da Coreia do Norte. Pelo menos dois lançamentos recentes (a 26 de fevereiro e a 4 de março) visaram testar "um sistema relativamente novo", capaz de enviar ogivas a distâncias muito maiores do que seria possível com lançamentos anteriores.

Segundo Jung Pak, número dois do Departamento de Estado para as questões da Coreia do Norte, em nenhum dos lançamentos ficou demonstrada a capacidade de alcançar território americano. Porém, o Departamento de Estado suspeita que estes dois lançamentos tenham servido apenas para testar "elementos do sistema", antes de efetuar um disparo com capacidade total. Apesar de estarem em causa mísseis intercontinentais, os dois testes em causa foram de alcance bastante curto, o que sugere que os componentes dos mísseis ainda estarão a ser testados.

Ao divulgar publicamente a informação recolhida pelos serviços secretos sobre as movimentações da Coreia do Norte, os Estados Unidos estão a tentar travar um teste mais abrangente, que pudesse demonstrar a capacidade desta arma chegar às costas americanas.

De acordo com o Financial Times, a Administração Biden estará também a tentar “avisar os tradicionais rivais geoestratégicos da América contra a utilização da guerra da Ucrânia como uma oportunidade para desafiar os EUA”, aproveitando o facto de Washington ter como prioridade fazer recuar a invasão da Rússia.

Com uma guerra aberta no Leste da Europa, e o regresso do fantasma de uma guerra nuclear, os ensaios da Coreia do Norte provocam preocupação acrescida, até porque Pyongyang é também uma fonte constante de ameaça nuclear.

 

Novas sanções anunciadas hoje

 

O mesmo alto funcionário da Administração Biden classificou os ensaios norte-coreanos como uma "violação descarada de múltiplas resoluções do Conselho das Nações Unidas", que irá aumentar as tensões e desestabilizar "a situação de segurança na região".

Os EUA partilharam a informação que recolheram com os países aliados - nomeadamente com a Coreia do Sul e o Japão, que estão mais próximos da ameaça norte-coerana - e também com as Nações Unidas.

Esta sexta-feira, espera-se que o Departamento do Tesouro norte-americano anuncie "novas ações para ajudar a impedir o acesso da RPDC [República Popular Democrática da Coreia] a artigos e tecnologia estrangeiros que lhe permitam avançar com programas de armas proibidos", disse o responsável norte-americano, acrescentando que "haverá uma série de outras ações nos próximos dias".

 

Japão confirma ICBM

 

Já esta sexta-feira, o Ministério da Defesa do Japão confirmou que os dois últimos mísseis que a Coreia do Norte lançou eram mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla inglesa). O Ministério da Defesa divulgou os resultados de uma análise dos dois mísseis balísticos lançados no fim de fevereiro e no início de março. A análise foi feita em coordenação com os Estados Unidos.

Segundo a informação do governo japonês, a análise mostrou que os dois mísseis eram da classe ICBM e idênticos a um míssil identificado pela primeira vez num desfile militar realizado em Pyongyang em Outubro de 2020.

 

O logro do lançamento espacial

 

Desde o início do ano, Pyongyang já fez nove lançamentos de projéteis, o que representa um ritmo inédito de ensaios. Têm sido testados mísseis hipersónicos, o que surpreendeu os observadores, pois não se sabia que o regime tivesse acesso à tecnologia necessária para esta nova geração de armas - nem há certezas sobre em que medida a Coreia do Norte domina estes mísseis.

Os serviços de segurança norte-americanos, japoneses e sul-coreanos também suspeitavam que alguns lançamentos teriam como propósito testar a capacidade da Coreia do Norte lançar satélites militares. Essa possibilidade ganhou força desde que Kim Jong Un defendeu a necessidade de ter satélites de reconhecimento. Ainda ontem, o líder norte-coreano reafirmou que o país irá lançar uma série de satélites militares nos próximos anos para recolher informações em tempo real sobre ações militares "hostis" dos Estados Unidos e dos seus aliados.

Numa visita à Administração Nacional de Desenvolvimento Aeroespacial do país, Kim afirmou que é importante obter "informação em tempo real sobre ações militares” por parte das “tropas de agressão do imperialismo norte-americano e das suas forças vassalas na Coreia do Sul, Japão e Pacífico".

Porém, apesar de este ser um objetivo de Pyongyang, não será esse o propósito dos dois lançamentos que deixaram perplexos os serviços de informação norte-americanos, japoneses e sul-coreanos. 

No briefing desta quinta-feira, Washington acusou a Coreia do Norte de tentar esconder a natureza destes dois testes, e “esconder esta escalada" da sua capacidade ofensiva. A suspeita é que o logro espacial continue a ser utilizado para camuflar as verdadeiras intenções dos ensaios. Quando os norte-coreanos fizerem um teste completo do novo míssil, “potencialmente vão tentar disfarçá-lo como lançamento espacial”, acusou  Jung Pak. 

 

Prontidão e vigilância aumentam

 

A revelação de ontem assinala uma mudança de atitude da Administração Biden em relação aos testes de mísseis norte-coreanos. Washington tem sempre condenado publicamente os ensaios, mas ainda em Fevereiro considerava que não constituíam uma ameaça. Por isso, não tinha ainda subido a prontidão das suas forças na região. Esta semana, isso mudou.

O Comando do Indo-Pacífico dos EUA anunciou quarta-feira a intensificação das "atividades de recolha de informações, prontidão e vigilância" relacionadas com a Coreia do Norte.

O comando disse ter "ordenado a intensificação das atividades de recolha de informação, vigilância e reconhecimento no Mar Amarelo, bem como uma maior prontidão entre as nossas forças de defesa contra mísseis balísticos na região".

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