A resistência continua

22 mar 2022, 15:01

Um mês desde o início da guerra. A Ucrânia resiste mas a dúvida mantém-se: até quando?

Parece uma eternidade desde o anúncio madrugador que soprou a tempestade da guerra na Europa. Outra vez. O amanhecer de uma nova era, o advento cinzentista do tempo autocrata e dos ditos “homens-fortes” empenhados no revisionismo destes tempos. Décadas de paz duradoura estilhaçadas.

Mas a resistência continua.

E no presente destes novos tempos, duas frentes. Kiev, cidade barricada; Mariupol, cidade encurralada. A lenta asfixia da população que não quis, não conseguiu fugir. Falta luz, falta água, falta comida aos milhares que ficaram. Bombardeamentos ininterruptos, capitulações impostas em troca de corredores humanitários para fazer sair os sobreviventes do desespero, num ataque de terra-queimada já ensaiado pela Rússia noutros palcos. E com os últimos jornalistas ocidentais forçados a sair, alvos numa lista de nomes a abater, na guerra mais transmitida de sempre apagam-se as luzes que relatam a verdade no terreno. Se tudo morre na escuridão, o pior de tudo, em todos os tempos, será sempre o silêncio nos infernos conhecidos.

Mas a resistência continua, alimentada pela determinação de um povo em afirmar a sua identidade e soberania, contra neutralidades impostas à lei da bomba e à mesa das negociações. Há eternidade no combate pela sobrevivência. E continua a resistência, armada pelo Ocidente que, mesmo resoluto em relegar a Rússia à condição de pária, segue indisponível para pisar novos limites da expansão a leste, espectador à distância numa impotência autoimposta, ciente do amanhecer possível de outra guerra aberta, total. Como que suspenso no abismo.

Há eternidade nas trevas de outros tempos.

Milhões já fugiram, na maior fuga ao desespero desde os tempos que forçaram e forjaram décadas de paz duradoura após a última descida às trevas da Europa. Milhões fugiram mas, na escuridão constante, a certeza de que a resistência continuará. Com a dúvida óbvia: até quando?

Há eternidade também em acreditar que amanhecerá outra vez.

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