Iates, apartamentos de luxo e jatos privados confiscados. Não é a melhor altura para ser um oligarca russo

CNN , Allison Morrow
4 mar 2022, 12:12
Superiate Solaris (Getty Images)

Desde a invasão de Putin à Ucrânia, os governos ocidentais têm tentado congelar os bens dos oligarcas no estrangeiro, juntamente com os do presidente russo

Se os oligarcas russos não estivessem já com as suas botas de couro italiano feitas por medida a tremer, provavelmente estariam agora.

No seu primeiro discurso do Estado da União, na terça-feira, o presidente Joe Biden dirigiu-se aos amigos do seu homólogo russo, o presidente Vladimir Putin, dizendo-lhes que os Estados Unidos e os seus aliados se preparam para  "confiscar os iates, os apartamentos de luxo, os jatos privados."

A mensagem sublinha como o solo está a tremer sob os pés bem calçados dos oligarcas russos, uma classe de empresários que acumulou milhares de milhões em fortuna pessoal aproveitando as suas ligações ao Kremlin, na divisão, nos anos 90, dos bens da antiga União Soviética.

Desde a invasão de Putin à Ucrânia, os governos ocidentais têm tentado congelar os bens dos oligarcas no estrangeiro, juntamente com os de Putin, bem como evitar que os transfiram. O objetivo é duplo: as sanções irão agir como uma punição para a classe dominante da Rússia e um bastão para tentar obrigar Putin a recuar.

Pode dizer-se que as sanções têm, pelo menos até agora, já têm merecido a atenção dos oligarcas.

Roman Abramovich, de 55 anos, com uma fortuna estimada em 13,5 mil milhões de dólares, anunciou na quarta-feira que vai vender o seu amado Chelsea Football Club, que adquiriu em 2003.

Apesar de Abramovich ainda não ter sido mencionado na lista de sanções, os legisladores do Reino Unido estão a pressionar os líderes para que o façam. O magnata está, alegadamente, a tentar livrar-se de algumas das suas propriedades de Londres, em antecipação às sanções.

"Ele está com muito receio de vir a ser sancionado, e é por isso que vai vender a casa, e também vender outro apartamento", afirmou o legislador britânico Chris Bryant, segundo a Bloomberg.

Os oligarcas estão em movimento, e sabemos disso, em parte, devido a um jovem de 19 anos da Florida, que programou bots no Twitter que registam os movimentos de cerca de 40 aviões e helicópteros ligados a oligarcas russos. (O mesmo jovem de 19 anos que foi notícia no início do ano por recusar o pedido de Elon Musk para que eliminasse um bot dedicado ao jato privado do CEO da Tesla.)

No início da semana, pelo menos quatro super iates de multimilionários russos com ligações a Putin foram vistos a navegar em direção a Montenegro e às Maldivas, relatou a CNBC.

As Maldivas, uma nação insular no Oceano Índico, não têm tratado de extradição com os Estados Unidos, o que as torna cada vez mais um paraíso para oligarcas.

Infelizmente para a elite russa, outros portos de abrigo, anteriormente seguros, estão cada vez mais a fechar-lhes a porta. Mónaco, o minúsculo principado na Riviera francesa que se tornou um recreio dos abastados da Rússia, adotou sanções idênticas às da UE, na terça-feira. E a Suíça, tradicionalmente neutra, também se colocou ao lado da UE, esta semana, ao anunciar que iria fechar o seu espaço aéreo a voos vindos da Rússia e impor proibições de entrada a um número de amigos de Putin.

É claro que os peritos dizem que reforçar sanções contra magnatas não será rápido nem simples. Os astutos multimilionários que construíram as suas fortunas sob um governo autoritário são especialistas em ocultar os seus bens em camadas de empresas fictícias e homens de confiança.

"Se é um oligarca russo a navegar no seu iate no Oceano Índico, a maioria do seu dinheiro já não estará no seu nome", afirmou Alison Jimenez, presidente da firma de consultoria Dynamic Securities Analytics. "Terá camadas de empresas fictícias com fantoches à frente, que o substituirão."

Isso pode retirar parte do caráter punitivo das sanções: "Podem confiscar o barco, podem confiscar o avião, mas eles têm dinheiro armazenado por todo o mundo," afirma Jimenez. "Se conseguir confiscar 75% do total, eles continuarão a ser mais ricos do que toda a gente do mundo."

Mas a pressão parece estar a ter um impacto psicológico, à margem do efeito monetário imediato.

Esta semana, dois magnatas proeminentes, Mikhail Fridman e Oleg Deripaska, romperam laços com o Kremlin e apelaram ao final da guerra da Rússia com a Ucrânia.

Fridman, que nasceu no leste da Ucrânia e tem estado intimamente ligado ao círculo íntimo de Putin, escreveu numa carta ao seu staff que queria que "o derramamento de sangue terminasse," Fridman é o presidente do Alfa Group, um conglomerado privado que abrange a banca, seguros, comércio de retalho e produção de água mineral.

O seu apelo à paz foi partilhado por Deripaska, que fez fortuna no negócio do alumínio. "A paz é muito importante! As negociações devem começar o mais depressa possível!" Afirmou Deripaska, no domingo, numa publicação no Telegram.

- Charles Riley, da CNN Business, contribuiu para este artigo.

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