Os oligarcas russos que "viraram as costas" a Putin e apelam ao fim da guerra

CNN , Charles Riley
1 mar 2022, 10:40
Vladimir Putin (AP Images)

Os bilionários russos Mikhail Fridman e Oleg Deripaska romperam as fileiras do Kremlin e apelaram ao fim da guerra da Rússia na Ucrânia.

Fridman, que nasceu na parte ocidental da Ucrânia, escreveu numa carta aos funcionários a dizer que queria que o "derrame de sangue terminasse".

"Os meus pais são cidadãos ucranianos e vivem em Lviv, a minha cidade favorita. Mas também passei grande parte da minha vida como cidadão da Rússia, a construir e a desenvolver negócios. Estou profundamente ligado aos povos ucraniano e russo e vejo o atual conflito como uma tragédia para ambos", escreveu Fridman.

"Esta crise vai custar vidas e prejudicar duas nações que são irmãs há centenas de anos. Embora uma solução pareça assustadoramente distante, só me posso juntar àqueles cujo desejo fervoroso é que o derrame de sangue termine", acrescentou na carta, que foi fornecida pelo seu gabinete. O Financial Times foi o primeiro a relatar a carta.

Fridman é presidente do Alfa Group, um conglomerado privado que opera principalmente na Rússia e em antigos estados soviéticos e que abrange a banca, seguros, comércio a retalho e produção de água mineral. Fridman tem um património líquido de 11,4 mil milhões de dólares, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

O multimilionário é também presidente do Alfa Bank, a quarta maior empresa de serviços financeiros da Rússia e o seu maior banco privado. Na semana passada, foram aplicadas sanções Alfa Bank que o impedirão de angariar dinheiro através do mercado norte-americano.

O empresário russo Mikhail Fridman, à esquerda, e o empresário Viktor Vekselberg falam durante uma conferência em Moscovo, a 17 de setembro de 2019.

O apelo à paz de Fridman foi apoiado por Deripaska, um multimilionário que fez fortuna no negócio do alumínio.

"A paz é muito importante! As negociações têm de começar o mais depressa possível!”, disse Deripaska, no domingo, numa publicação no Telegram.

Também abordou a situação económica numa série de publicações na segunda-feira, quando que o rublo entrou em colapso e a bolsa de valores da Rússia não conseguiu abrir para negociações.

"Quero esclarecimentos e comentários inteligíveis sobre a política económica para os próximos três meses", disse Deripaska, acrescentando que a decisão do banco central de aumentar drasticamente as taxas de juro e forçar as empresas a venderem moeda estrangeira é o "primeiro teste sobre quem irá realmente pagar por este banquete".

"É necessário mudar a política económica, temos de acabar com todo este capitalismo de estado", acrescentou ele.

Deripaska emergiu da caótica disputa por bens, após o colapso da União Soviética, com uma enorme fortuna, que a Forbes estimou em 28 mil milhões de dólares, em 2008. Em 2018, foi sancionado pelos Estados Unidos, que notaram que o oligarca "não se separa do Estado russo".

Oleg Deripaska num evento empresarial na Rússia, a 17 de dezembro de 2021.

Os oligarcas russos enfrentam o caos económico e castigos do Ocidente, após o presidente Vladimir Putin ter ordenado a entrada das suas tropas na Ucrânia, na semana passada. Os Estados Unidos e aliados, incluindo o Reino Unido, responderam com sanções, tendo como alvo os indivíduos ricos que estão próximos do Kremlin.

Os Estados Unidos têm inclusive como alvo as famílias dos oligarcas, um novo passo que visa minar o apoio a Putin entre a elite russa. Na semana passada, o Tesouro dos EUA sancionou os filhos de dois dos funcionários mais próximos de Putin.

"As elites próximas de Putin continuam a aproveitar a sua proximidade ao Presidente russo para pilharem o Estado russo, enriquecerem e elevarem os seus familiares a algumas das mais elevadas posições de poder", disse o Departamento do Tesouro ao anunciar as sanções.

Anna Stewart contribuiu para este artigo.

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