Um dos bilionários da corte de Putin já perdeu o seu iate de luxo, apreendido pelas autoridades alemãs. Agora que até o Mónaco decretou sanções aos oligarcas russos, e os EUA prometem uma campanha de "clepto-captura", muitos estão a colocar as suas embarcações longe das autoridades europeias e norte-americanas
Desde que começou a invasão da Ucrânia, e as democracias apontaram as suas sanções também contra os oligarcas russos que têm sido um dos grandes suportes de Vladimir Putin, vários destes multimilionários têm tentado esconder das autoridades ocidentais algumas das suas propriedades mais vistosas: os luxuosos aviões privados e os megaiates.
Não é possível fugir com um chalé suíço ou uma mansão no Lago Cuomo, mas é possível dar ordens para que um super-iate procure portos distantes das autoridades europeias e norte-americanas - é o que têm feito diversos magnatas russos. O movimento dos iates mais luxuosos do mundo começou no fim de semana, mas acentuou-se nas últimas horas, sobretudo desde que Joe Biden proclamou, no discurso do Estado da União, que as autoridades dos EUA irão atrás dos oligarcas russos para “apreender os seus iates, apartamentos de luxo e jatos privados”. O Departamento de Justiça norte-americano fala numa campanha que batizou como “clepto-captura” - apreensão de bens ligados à cleptocracia do Kremlin.
Segundo uma investigação da CNBC, os portos das Maldivas, no Oceano Índico, e de Montenegro, no Adriático, na costa da antiga Jugoslávia, são as duas principais escolhas dos amigos de Putin super-ricos que querem colocar as suas embarcações de luxo a salvo das sanções.
A pérola do Índico
Pelo menos cinco megaiates de oligarcas russos estão atualmente no Índico, alguns já fundeados na capital das Maldivas, Malé, e outros aparentemente a caminho do mesmo porto. As Maldivas não têm acordos de extradição com os EUA ou os países da UE, e são há muitos anos um dos destinos de eleição dos mega-ricos da corte de Putin. Montenegro também não tem esses acordos de cooperação com as autoridades europeias e norte-americanas.
Outro sério revés para estes oligarcas russos foi ver as autoridades do Mónaco a acompanhar as sanções da UE. O porto do Mónaco é, tradicionalmente, uma das paragens preferidas dos bilionários russos e dos seus meganavios.
Megaiate apreendido em Hamburgo
A pressa dos oligarcas russos é compreensível: nesta quarta-feira, ao fim do dia, a revista Forbes deu conta de que a Alemanha apreendeu o megaiate do bilionário russo Alisher Usmanov num estaleiro naval de Hamburgo. Usmanov está na lista de oligarcas sob sanção da União Europeia, e o seu iate Dilbar - 512 pés de comprimento, avaliado em 600 milhões de dólares - foi o primeiro a ser apreendido pelas autoridades alemãs.
Não são só os iates que estão “em fuga”, mas também os luxuosos aviões privados dos bilionários de Putin. Os movimentas destas aeronaves podem ser seguidos através de contas de Twitter criadas por um jovem de 19 anos da Flórida, que rastreia o paradeiro de cerca de 40 aviões e helicópteros ligados aos oligarcas russos.
Entrevistado pela CNN Internacional, Howard Stoffer, professor da Universidade de New Haven e estudioso da oligarquia russa, há cerca de 120 oligarcas russos identificados, cuja fortuna somada está estimada entre 800 mil milhões de dólares e 1 bilião de dólares (ou seja, 1 milhão de milhões). Nem todos estão na lista negra das sanções da União Europeia e dos Estados Unidos. O Reino Unido é o país ocidental cujas sanções atingiram mais bilionários russos.
Um dos alvos de sanções será Roman Abramovich, que recentemente obteve nacionalidade portuguesa num processo que está a ser revisto pelas autoridades nacionais. Abramovich, cuja fortuna está estimada em cerca de 13,5 mil milhões de dólares (12,1 mil milhões de euros), ainda não foi incluído na lista negra do Reino Unido, mas há fortes pressões nesse sentido. Antecipando esse desfecho, o bilionário está a tentar desfazer-se de todos os seus bens no Reino Unido antes da sua possível apreensão.
Nesta quarta-feira, Abramovich anunciou que vai vender o clube de futebol Chelsea, que adquiriu em 2003 - Hansjoerg Wyss, um milionário suiço, já terá sido abordado para comprar o clube onde José Mourinho foi campeão inglês, de acordo com a Bloomberg.
O magnata também está, alegadamente, a livrar-se de algumas das suas propriedades em Londres. "Ele está aterrorizado [com a hipótese de] ser sancionado, razão pela qual vai vender a sua casa já amanhã e vender também outro apartamento", disse Chris Bryant, parlamentar do Partido Trabalhista.
“Apenas uma pequena parte de enormes fortunas”
Porém, boa parte da fortuna dos oligarcas russos está bem escondida em diversas partes do mundo. “Há muito tempo que eles estão à espera deste dia”, diz Howard Stoffer, e os iates, aviões e mansões que têm em seu nome são apenas uma muito pequena parte da sua riqueza.
"Se for um oligarca russo a flutuar no seu iate no Oceano Índico, a maior parte do seu dinheiro já não estará em seu próprio nome. (...) Pode-se apreender o barco, pode-se apreender o avião, mas eles têm dinheiro escondido por todo o globo", diz à CNN Alison Jimenez, presidente da empresa de consultoria de litígios Dynamic Securities Analytics. "Se conseguirmos capturar 75% da sua riqueza, eles continuarão a ser mais ricos do que todos os outros no mundo".