O grupo de mercenários liderado por Yevgeny Prigozhin já não está a recrutar prisioneiros nas cadeias russas para engrossar as fileiras. Kremlin poderá estar a reduzir influência do magnata que é conhecido como o "chef" de Putin
O líder do Grupo Wagner admitiu que o grupo de mercenários que lidera está a enfrentar dificuldades na Ucrânia e vai reduzir o número de membros, depois de ter deixado de recrutar reclusos das prisões russas para se juntarem à guerra em território de Kiev.
"O número de unidades do grupo Wagner vai diminuir e não seremos capazes de desempenhar tarefas tão abrangentes quanto gostaríamos", disse Yevgeny Prigozhin a um grupo de bloggers russos pró-guerra, citado pelo Guardian, na quarta-feira.
"Todos ouviram que o recrutamento de prisioneiros para as nossas fileiras parou", acrescentou. O grupo de mercenários russos terá recrutado, nos últimos meses, cerca de 40 mil reclusos das prisões russas. Ainda que não tenha dado explicações para o fim deste programa de recrutamento, os observadores admitem que Prigozhin esteja a enfrentar oposição dos serviços de segurança russos. E mesmo a sua influência dentro do Kremlin parece estar a desvanecer-se: Yevgeny Prigozhin, empresário e magnata, tem sido conhecido como o "chef" de Putin, por ser proprietário do serviço de catering sempre escolhido pelo presidente russo, mas a proeminência que assumiu com a invasão ucraniana não terá agradado às elites. E o próprio Putin terá passado a encará-lo como uma potencial ameaça.
Só no ano passado Yevgeny Prigozhin admitiu ser o fundador do grupo de mercenários Wagner, que viria a constituir-se como um braço paramilitar do Kremlin e com um papel preponderante na invasão russa da Ucrânia: em janeiro deste ano, foi o Grupo Wagner que capturou a cidade de Soledar, a única vitória territorial de Moscovo contra Kiev em meses, e são os mercenários de Prigozhin que estão a liderar a batalha pelo controlo de Bakhmut - que não está a ser "tão rápida" quanto gostariam, admitiu o próprio Prigozhin.
O líder do grupo Wagner deixou mesmo uma crítica velada ao Ministério da Defesa da Rússia, dizendo que foi a "horrenda burocracia militar" russa que impediu os mercenários de conquistarem Bakhmut no início do ano.
"Se houvesse entre três a cinco grupos como o Wagner, já estaríamos a mergulhar os pés no rio Dnipro", garantiu.
O Guardian aponta que, desde o início da guerra, Yevgeny Prigozhin tem batido de frente com a liderança militar russa, nomeadamente com o chefe do Estado-Maior do Exército, Valery Gerasimov, e com o ministro da Defesa da Rússia. No mês passado, Gerasimov foi apontado pelo Kremlin para comandar a totalidade das operações russas na Ucrânia, substituindo Sergey Surovikin, que se acredita ser um aliado do fundador do grupo Wagner.
Vários grupos de ativistas pelos direitos humanos também relataram que foi o Ministério da Defesa da Rússia que assumiu o recrutamento de soldados nas cadeias, retirando a Prigozhin a possibilidade de engrossar as fileiras do Grupo Wagner por essa via.