A militar que chegou a desejar "um Putin na Ucrânia". Quem é Iryna Vereshchuk, a vice-primeira-ministra da Ucrânia

8 mar 2022, 18:00
Iryna Vereshchuk (Getty Images)

Uma das grandes aliadas do presidente Zelensky e europeísta convicta, Vereshchuk já colecionou algumas polémicas na sua curta carreira política

Surgiu durante a invasão russa como uma das vozes mais ativas do governo ucraniano. Como uma das vice-primeiras-ministras e ministra para a Reintegração dos Territórios Provisoriamente Ocupados, Iryna Vereshchuk desempenha um papel importante no executivo da Ucrânia agora que muitas regiões do leste e sul do país estão ocupadas.

Nascida em 1979 na cidade de Rava-Ruska, colada à fronteira com a Polónia, Vereshchuk dedicou uma boa parte dos primeiros anos de vida às forças armadas ucranianas. Após licenciar-se no Instituto Militar do Politécnico de Lviv, serviu cinco anos no Exército do país, ingressando posteriormente na Universidade de Lviv para estudar Direito. Tanto o seu ex-marido, com quem teve um filho, como o atual, são militares, tendo-os conhecido durante o tempo de serviço.

O ingresso na política surge depois de uma passagem como funcionária no gabinete da primeira-ministra Yulia Tymoshenko quando, em 2010, foi eleita presidente da câmara da sua terra natal. Os primeiros anos foram isentos de polémicas relevantes, mas tudo mudou com os protestos do Euromaidan. Esta revolta, espoletada pela decisão do presidente Viktor Yanukovych não assinar o acordo de associação com a União Europeia e preferir uma aproximação à Rússia, levou a que Vereshchuk procurasse um acordo separado com a União Europeia somente para Rava-Ruska.

Este ato valeu-lhe acusações de separatismo e traição à pátria. Acabou por demitir-se do cargo em 2015, alegando estar “cansada de pressões constantes e acusações estapafúrdias de pseudonacionalistas”.

Contudo, está longe de ser a única polémica em que se viu envolvida. Em dezembro de 2013, antes da anexação da Crimeia e da guerra em Donbass, Vereshchuk deu uma entrevista a uma revista russa em que elogiou Vladimir Putin.

“Se tivéssemos um Putin na Ucrânia, votaria nele. Está a fazer o melhor para a Rússia, a agir de acordo com os interesses do país. Todos os presidentes deveriam defender o seu país dessa maneira”, afirmou.

Com o desenrolar dos eventos no ano seguinte mudou de posição, tendo inclusivamente acusado o então presidente Petro Poroshenko de ter felicitado Putin no Dia da Rússia em junho de 2014.

Iryna Vereshchuk foi também forçada a pedir desculpa pelas afirmações que proferiu sobre a NATO durante um talk show da televisão ucraniana. “Nós queremos entrar (na NATO), mas eles não nos querem. Estamos a bater a uma porta fechada e a desgraçar a nossa reputação. Não podemos querer ir onde não somos desejados”, disse. Durante a invasão russa à Ucrânia, o presidente Zelensky tem contado com e pedido mais apoio à Aliança Atlântica, e tem insistido na adesão da Ucrânia à organização.

Uma outra declaração controversa envolveu uma figura sagrada para muitos ucranianos, o fascista e ultranacionalista Stepan Bandera, que colaborou com a Alemanha Nazi durante a Segunda Guerra Mundial e é considerado o pai do movimento independentista da Ucrânia. Vereshchuk afirmou que Bandera “nunca terá lugar no panteão dos heróis ucranianos” e que apenas é idolatrado por “políticos manipuladores”. As afirmações foram repudiadas por muitos na região de Lviv, onde Bandera tem mais apoiantes e de onde Vereshchuk é natural.

Após uma candidatura falhada ao parlamento ucraniano, ainda durante o mandato de presidente de câmara, em 2014, Vereshchuk consegue a eleição em 2019, como número 29 da lista do Servo do Povo, o partido do presidente Volodymyr Zelensky. No ano seguinte, conseguiu ser a escolhida do partido para concorrer à Câmara de Kiev e enfrentar o antigo pugilista virado político Vitali Klitschko, presidente daquela autarquia desde 2014.

Vereshchuk, que tinha elogiado Klitschko antes de saber que era candidata, considerando-o um “bom presidente”, foi quinta na eleição e, após a tomada de posse do incumbente, acusou-o de não entender “os problemas das pessoas” e de nada fazer para reparar a cidade de Kiev.

Iryna Vereshchuk ocupa o cargo de vice-primeira-ministra desde novembro de 2021, altura em que já as tensões com a Rússia eram bem palpáveis. Nos últimos dias, tem sido uma das gestoras do complexo dossiê das evacuações dos civis das cidades cercadas pelos russos, como Mariupol, Kharkiv e Sumy, sendo também a responsável por comunicar ao país e ao mundo como decorre todo o processo. O sucesso das suas decisões será também o sucesso de toda a Ucrânia e a salvação de milhares de pessoas.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Mais Lidas

Patrocinados