Penafiel-Gil Vicente, 3-1 (crónica)

17 nov 2001, 23:40

Os erros saem sempre muito caro

Este jogo tinha tudo para ser uma história colorida para o Gil Vicente. Daquelas histórias cor-de-rosa, ao jeito das telenovelas mexicanas. Tudo corria bem, o golo aconteceu na altura exacta, quando começou a segunda parte e urgia fazer qualquer coisa pela vida. Mas depois tudo foi uma espécie de pesadelo negro, escuro e frio como a noite que cobriu Penafiel. A expulsão de Casquilha condicionou a estratégia da formação de Barcelos e o adversário cresceu até à vitória. 

O espírito da Taça de Portugal voltou a pairar na atmosfera, em que os mais pequenos são capazes de se pôr em bicos-de-pés, agigantar-se e olhar os grandes olhos nos olhos. O Penafiel foi uma equipa assim. Atrevida, aguerrida, sem medo, sem receio, apesar de jogar frente a um adversário de outro escalão. Surpresa? Só para quem não viu o desafio. A vitória é justa e premeia o conjunto que mais fez, ou melhor, que menos erros cometeu. 

A viagem até à quinta eliminatória da prova rainha é uma certeza para um grupo de homens que nunca baixou os braços. Acreditaram sempre, mesmo quando estavam a perder e o triunfo parecia ser um oásis, daqueles que só existem numa paisagem bela de uma terra quente. O público foi o primeiro a acordar o seu rebanho, mas o pontapé fulminante de Paulo Torres, de livre directo, marcado quase do meio-campo, foi como o grito do Ipiranga. A partir dos 63 minutos, só esteve uma equipa em campo. Certo, adivinharam. Começa por «P». 

A expulsão de Casquilha 

Errar é sempre uma palavra feia e no mundo do futebol ganha contornos carregados. O Gil Vicente errou, muito, mesmo muito. E só se pode queixar dele mesmo, porque a saída de Casquilha condicionou a estratégia, ainda para mais, porque o adversário tinha chegado ao empate minutos antes. A partir daí, a equipa eclipsou-se e não adiantava nada o treinador lançar avançados na relva. Não adiantava mesmo nada, porque, como se sabe, um conjunto com menos um elemento fica tão frágil como um castelo de cartas. 

Em boa verdade, as melhores oportunidades foram sempre do Penafiel. Filipe Azevedo fazia a diferença no flanco esquerdo do ataque e os avançados eram como pedras pontiagudas, capazes de rasgar a pele da defesa. Assim, aconteceu. Na primeira parte, chegaram a marcar um golo, prontamente anulado, por mera distracção de que o executou. Rui Gomes assistiu Marco Almeida, em posição ilegal, quando poderia ter rematado à baliza. Azar. Mas depois o final acabou por ser feliz para bem de quem merecia. 

Uma equipa em apuros 

A jogar com menos um elemento, o Gil Vicente foi sempre um adversário em apuros. Não conseguia atacar, mesmo quando o fazia o filme da primeira parte repetia-se: o guarda-redes Sérgio Leite, o mesmo que levou os avançados espanhóis à loucura, agarrava todas as bolas. Ultrapassar o homem que estava na baliza era missão praticamente impossível. O que fazer? Confiar na inspiração divina. Douala ainda inaugurou o marcador, mas a fatídica expulsão de Casquilha deitou tudo por terra - mais uma vez, tem de se pôr o dedo na ferida. 

De livre directo, quase do meio-campo, Paulo Torres marcou um golo soberbo, a fazer lembrar o futebol louco e fantástico que se vivia no tempo de Pelé. Com golos para todos os gostos. O campeão do Mundo de sub-20 aproveitou a infantilidade do guarda-redes Adriano, que não quis barreira. Compremeteu-se, claro. Depois, Filipe Azevedo, logo a seguir ao vermelho de Casquilha, fez o resto e Marco Almeida imitou o colega, em lance de contra-ataque puro. Melhor era impossível. 

O árbitro esteve em bom plano, apesar de ter sido excessivamente rigoroso no capítulo disciplinar.

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