Rússia ataca Ucrânia: a noite em que a guerra começou

24 fev 2022, 10:57

A Rússia lançou, esta madrugada, uma ofensiva militar contra a Ucrânia, visando particularmente os centros de controlo. Putin anunciou a "operação militar especial" enquanto decorria o Conselho de Segurança da ONU e, perante os ataques que já provocaram algumas baixas civis e um número indeterminado de feridos, Volodymyr Zelensky impôs a lei marcial em todo o território e apelou aos ucranianos para evitarem “o pânico”

Pouco passava das 03:30 (hora de Lisboa) quando foram ouvidas as primeiras explosões na capital da Ucrânia. Mas não só. Repórteres em Carcóvia (Kharkiv), no nordeste da Ucrânia, testemunham também o som de diversos rebentamentos, assim como em Odessa. É o início da "operação militar especial" russa. Começou a guerra na Ucrânia.

Como Putin anunciou a guerra 

Foi às 03:09 (hora de Lisboa) que o presidente russo Vladimir Putin anunciou que tinha ordenado uma "operação militar especial" na Ucrânia, para "proteger Donbass".

"A situação exige que tomemos medidas decisivas e rápidas", disse o presidente russo numa comunicação ao país, apelando às forças ucranianas para deporem as armas e regressarem a casa.

No anúncio ao país, Putin prometeu levar a cabo a "desmilitarização e desnazificação" da Ucrânia e acabar com oito anos de guerra na Ucrânia oriental, onde separatistas apoiados por Moscovo declararam a independência de duas regiões.

Mas, antes do anúncio oficial, os sinais de que a guerra estaria quase a acontecer começaram a surgir. Na fronteira ucraniana, a Rússia concentrou “quase 200.000 soldados” e depois fechou o espaço aéreo perto da fronteira.

No discurso feito durante a madrugada, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apelou diretamente ao povo russo para impedir uma guerra, a “grande guerra na Europa”.

“Tomei hoje a iniciativa de ter uma conversa por telefone com o presidente da Federação Russa. Resultado: silêncio”, expressou.

E do silêncio resultou a entrada de forças terrestres por três lados da fronteira ucraniana: pelo norte, num posto de fronteira com a Bielorrúsia, pelo nordeste e pelo sul, na Crimeia.

"Quer que lhe mostre o vídeo?"

Uma hora depois de Vladimir Putin ter declarado o início da intervenção russa na Ucrânia, o embaixador russo nas Nações Unidas insistiu: "Não chamamos a isto uma guerra, é uma operação especial no Donbass", disse Vasily Nebenzya, que, por coincidência, preside durante este mês ao Conselho de Segurança da ONU.

O jogo de palavras de Nebenzya surgiu em resposta ao desafio do representante da Ucrânia, que pediu ao Conselho de Segurança para "travar esta guerra".

Na sua intervenção, Nebenzya repetiu o guião do Kremlin: "A raiz da crise atual em torno da Ucrânia são as ações da própria Ucrânia, que durante muitos anos sabotou as suas obrigações ao abrigo do [acordo de Minsk]". A operação militar russa visa proteger os residentes nas regiões separatistas pró-Moscovo da Ucrânia oriental, "que durante oito anos se esconderam dos bombardeamentos da Ucrânia". Na versão de Moscovo, "a provocação ucraniana contra os habitantes de Donbass não só não parou como se intensificou", o que levou os líderes separatistas a solicitar a ajuda russa.

O embaixador russo sublinhou ainda que Moscovo "não está a ser agressivo com o povo ucraniano", mas sim "contra a 'junta' no poder em Kiev".

A resposta ucraniana não tardou. Durante a sua intervenção, o embaixador da Ucrânia na ONU afirmou que Vladimir Putin "declarou a guerra", agora "é responsabilidade deste organismo travar a guerra".

"Apelo a todos, para que façam todos os possíveis para travar a guerra", disse o representante permanente da Ucrânia na ONU. Depois, olhando diretamente para Vasily Nebenzya, desafiou-o: "Ou quer que passe o vídeo do seu presidente a declarar guerra?"

Lei marcial em vigor

Depois das explosões, Volodymyr Zelensky impôs a lei marcial em todo o território, cortou relações diplomáticas com a Rússia, apelou aos ucranianos para evitarem “o pânico” e que confiem na capacidade do exército da Ucrânia para defender o país.

Sem pânico. Somos fortes. Estamos preparados para tudo. Vamos vencer todos porque somos a Ucrânia", afirmou.

As últimas informações dão conta que os ataques já provocaram a morte de dez civis e um número indeterminado de feridos. Há ainda relatos de que 40 militares ucranianos morreram no ataque, mas o Ministro da Defesa da Ucrânia garante que não houve baixas militares.

De acordo com a Reuters, que cita fonte dos serviços de emergência, um rapaz, do qual se desconhece a idade, morreu depois do prédio onde vivia ter ficado destruído nas explosões em Carcóvia.

Ao longo da noite, as explosões foram-se repetindo. Os centros de comando militar de Carcóvia e Kiev foram atacados por mísseis, enquanto eram ouvidos rebentamentos em Dnipro, Kramatorsk, Odessa, Mariupol e Kramatorsk. Também o aeroporto internacional de Boryspil foi atacado.

Mapa dos ataques russos na Ucrânia esta madrugada

A área mais afetada pelas explosões foi Carcóvia, na região de Donbass, a segunda maior cidade da Ucrânia, com perto de dois milhões de habitantes. Relatos de testemunhas citados pelas agências internacionais dão conta de várias explosões ouvidas durante toda a noite. Rebentamentos que se mantiveram depois do amanhecer, como testemunharam os enviados especiais da CNN Portugal à Ucrânia, que durante a manhã de quinta-feira têm ouvido as sirenes, sentido o impacto das explosões e assistido às movimentações do exército ucraniano na capital.

As imagens da capital, mostram filas de trânsito sem fim à vista, de quem tenta sair da capital e rumar a um lugar mais seguro ou até fugir do país. A corrida às bombas de combustível, aos supermercados (há já prateleiras vazias) e aos bancos já começou. O Banco Central da Ucrânia proibiu mesmo os levantamentos em moeda estrangeira e limitou os levantamentos a 100.000 grívnia por dia, ou seja, cerca de 3.000 euros.

"Está tudo fechado. Só estão abertos supermercados, farmácias e bombas de gasolina", conta Filipe Caetano, repórter da CNN Portugal em Dnipro.

EUA e líderes europeus condenam ataque

Após o ataque, o presidente Volodymyr Zelensky continuou as conversas com os líderes mundiais, como Joe Biden e Boris Johnson, que garantiram ao líder ucraniano que o "Ocidente não vai ficar parado" perante os ataques russos.

Também os membros da NATO mostraram estar ao lado da Ucrânia. A Polónia, a Estónia, a Letónia e a Lituânia - que declarou o estado de emergência no país após os bombardeamentos russos - anunciaram a ativação do artigo 4.º do tratado fundador da NATO.

O artigo 4.º deste tratado dispõe que "as partes (da aliança) irão consultar-se entre si quando, segundo a opinião de qualquer uma, a integridade territorial, a independência política ou a segurança de uma das partes estão sob ameaça".

Numa declaração em nome da União Europeia, o Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, sublinha que o bloco europeu, juntamente com os seus parceiros transatlânticos, se uniu na “realização de esforços sem precedentes para alcançar uma solução diplomática para a crise de segurança causada pela Rússia”, mas nota que Moscovo “não retribuiu estes esforços e optou unilateralmente por uma escalada grave e premeditada”.

Por sua vez, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa condenaram, em nome de Portugal (que já apelou aos cidadãos que saiam da Ucrânia), de forma "veemente", a ação militar desencadeada pela Rússia contra o território ucraniano.

"Durante o dia de hoje, teremos reuniões do Conselho Europeu, onde a questão essencial será as medidas de sanções a aplicar à Rússia", afirmou Costa perante os jornalistas.

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