Reino Unido, Austrália e Canadá juntam-se ao boicote aos Jogos de Inverno em Pequim

9 dez 2021, 07:34
Olímpicos China

Três aliados dos EUA anunciaram boicote diplomático à prova, em protesto contra a violação dos direitos humanos na China. Japão e Coreia do Sul pressionados a juntar-se ao grupo

Depois dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Canadá anunciaram nas últimas horas que se juntam ao boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno, que arrancam daqui a dois meses em Pequim. O movimento iniciado pelos norte-americanos conta juntar o apoio de ainda mais governos, incluindo da Coreia do Sul e do Japão que, de acordo com a comunicação social destes países, estão a ser pressionados nesse sentido. 

Washington também espera que vários países da UE se juntem a este forma de protesto contra as constantes violações dos direitos humanos por parte do governo chinês. Para já, apenas a Lituânia o fez.

Um boicote diplomático significa que os países em causa não enviam qualquer representação política de alto nível, mas os respetivos atletas continuam a poder participar na competição.

O anúncio do boicote diplomático britânico foi feito na quarta-feira pelo primeiro-ministro, Boris Johnson, perante o parlamento. Apesar de ter ressalvado que o seu país “não apoia boicotes desportivos” - ou seja, os atletas britânicos estarão em Pequim - Johnson confirmou que “não há planos para que qualquer membro do governo inglês se associe ao evento em representação do país.

Poucas horas depois, foi a vez de Justin Trudeau, primeiro-ministro canadiano, a anunciar o mesmo passo. “Não me parece que a decisão do Canadá ou de muitos outros países seja uma surpresa para a China”, ironizou o chefe do governo canadiano. “Temos sido muito claros ao longo dos últimos anos sobre as nossas enormes preocupações em relação às violações dos direitos humanos [na China], e esta é uma forma de continuar a expressar essa preocupação”, disse Trudeau.

Já na manhã desta quinta-feira, foi a vez do chefe do governo da Austrália fazer um anúncio semelhante, em conferência de imprensa, apontando o dedo às “violações dos direitos humanos e às questões de Xinjiang”, numa referência à perseguição que tem sido movida pelas autoridades chinesas, naquela província da China, contra a minoria muçulmana uigur.

“Terei todo o gosto em falar com o governo chinês sobre estes assuntos, e não temos colocado obstáculos a que isso aconteça, mas o governo chinês tem reiteradamente recusado as oportunidades para falar connosco sobre essas questões”, sublinhou o primeiro-ministro australiano.

Também a Lituânia, que está num braço de ferro com a China por causa de Taiwan, anunciou um boicote diplomático aos Jogos de Inverno. Mas é esperado que outros países europeus venham a decidir fazer o mesmo, apesar da dependência de vários países em relação a investimentos e empréstimos oriundos da China.

Tóquio e Seul hesitam

Quem também terá de decidir de que lado fica são os dois principais aliados dos EUA na Ásia, Japão e Coreia do Sul. A Austrália, a outra grande potência pró-ocidental nesta região, já tomou o lado de Washington.

A imprensa japonesa tem especulado sobre que decisão será tomada pelo novo primeiro-ministro Fumio Kishida, que apesar de estar nas primeiras semanas nesse cargo, não se tem coibido de tomar posições firmes em relação a Pequim. Kishida já admitiu que o Japão contribuirá mais para financiar as despesas da presença de forças militares norte-americanas no país, e o governo japonês tem lançado avisos sérios em relação a qualquer tentação intervencionista da China sobre Taiwan.

Hirokazu Matsuno, que ocupa o equivalente ao cargo português de ministro da presidência, assegurou esta semana que ainda não há qualquer decisão, e que esta “será tomada de forma independente, no momento oportuno, tendo em conta uma grande variedade de questões”.

De acordo com o jornal Sankei, o governo japonês já estaria na fase de escolher quem seriam os seus representantes nas cerimónias de Pequim. No entanto, após a decisão da Administração Biden, Tóquio poderá optar por uma terceira via: enviar apenas representantes sem relevo político, como o diretor-geral da Agência de Desporto japonesa e o presidente do Comité Olímpico nipónico, em vez de ministros.

A Coreia do Sul está num dilema semelhante, sobre colocar-se do lado do aliado americano e afrontar o gigante chinês. Com a agravante de que Seul esperava que os Jogos Olímpicos de Inverno pudessem constituir mais um período de degelo nas sempre tensas relações regionais. 

"Ninguém os convidou"

Na terça-feira, após o anúncio do boicote americano, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros sul-coreano insistiu na importancia de que estes jogos “contribuam para a paz e prosperidade no Sudeste Asiático e no mundo, e na relação entre as duas Coreias”. O mesmo responsável confirmou que Seul tinha sido avisada previamente sobre a decisão de Washington, mas negou que haja pressões americanas para seguir o mesmo caminho.

Contudo, segundo o jornal online The Diplomat, essas pressões têm mesmo existido, colocando a Coreia do Sul numa posição desconfortável. Seul sabe que precisa da aliança de segurança com os EUA, mas também depende do apoio chinês para poder continuar os esforços de paz com os vizinhos do norte.

Entretanto, as autoridades chinesas oscilam entre a desvalorização destes boicotes e a promessa de “retaliações decididas”. Pequim considera que as decisões de boicote violam o espírito de desportivismo, são manipulativas e sensacionalistas, e assegura que não ficarão sem resposta. Os Estados unidos “vão pagar um preço” por esta atitude, assegurou o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Mas nada se sabe sobre essas retaliações.

Por outro lado, o governo chinês tenta mostrar descaso em relação a boicotes que não impedem a participação dos atletas desses países, mas apenas a representação dos respetivos governos. “Ninguém quer saber se eles vêm ou não”, declarou o chefe da diplomacia chinesa. 

Mas as reações mais curiosas foram protagonizadas pelos representantes diplomáticos chineses em Washington e em Camberra, ridicularizando o boicote diplomático. “Não houve qualquer convite a políticos norte-americanos, portanto este ‘boicote diplomático’ surge do nada”, disse uma fonte da embaixada chinesa nos EUA. 

Apesar destas tentativas de desvalorização, há sinais de algum nervosismo da parte de Pequim. Segundo diversos meios de comunicação internacionais, a palavra “boicote” terá sido banida das pesquisas online na China desde que houve o anúncio dos Estados Unidos.

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