Folga a menos não será desculpa, garante Lemerre

27 jun 2000, 19:41

Seleccionador francês tranquilo Roger Lemerre garante que o facto de a França ter tido menos um dia de folga que Portugal não servirá de desculpa a um eventual desaire. Confiante mas respeitador, o seleccionador gaulês antevê um «duelo colectivo» e não uma apenas uma luta entre Figo e Zidane..

BRUXELAS - Roger Lemerre, seleccionador da França, não teme o dia a menos de descanso da sua equipa em relação a Portugal. Referindo-se sempre aos «amigos portugueses», o treinador francês prevê um bom jogo para amanhã, apoiado no futebol ofensivo das duas equipas. 

«Já estamos numa fase muito adiantada da competição, temos assistido a jogos abertos, com muitos golos e futebol ofensivo, e estas duas equipas são espelho disso mesmo. Espero, por isso, um jogo fiel a estas características. De qualquer maneira, não tenho dúvidas de que o jogo se soltará depois do primeiro golo», garante Lemerre. 

Portugal jogou os quartos-de-final no sábado, enquanto a França defrontou a Espanha no domingo. Menos um dia de recuperação que o treinador francês não considera problemático. «Não há muito a fazer, a estrutura do torneio era esta e estamos nas melhores condições possíveis. Se virmos as coisas pelo lado optimista podemos ganhar este dia a menos para a final - se vencermos Portugal teremos um dia a mais de descanso...» 

Uma coisa que Lemerre não quer fazer é usar as 24 horas a menos de preparação para a meia-final como desculpa para um eventual desaire. «Portugal ganhou o seu grupo, nós não, por isso o nosso adversário teve mérito ao conquistar este dia extra. O ideal no futebol não existe, mas estamos nas melhores condições possíveis para este jogo», reconhece. 

«Geração extraordinária» 

Ainda assim, a tarefa da França não vai ser fácil. Lemerre elogia a Selecção portuguesa, apoia-se nos resultados conseguidos pela equipa de Humberto Coelho para afastar argumentos de fraquezas dos portugueses e faz a apologia dos jogadores lusitanos. «Não é surpresa nenhuma Portugal estar aqui. O percurso que conseguiu é a prova do mérito de uma geração extraordinária de jogadores, muito talentosos.» 

Por isso mesmo, o seleccionador francês não encontra grandes falhas em Portugal. «Não se pode falar de pontos fracos numa equipa que chega a esta fase com estes resultados e que se qualificou num grupo extremamente difícil.» 

E mesmo a alegada superioridade física dos franceses é algo que Lemerre não dá como adquirido. «Quem faz um percurso como o de Portugal, marcando tantos golos e sofrendo poucos, não pode ser uma equipa com problemas físicos», justifica. 

O duelo Zidane/Figo, que está a dominar a antecâmara do encontro, pode ser uma mais-valia do jogo, mas não será decisivo, diz Lemerre. «São dois jogadores muito talentosos, o público fica a ganhar se os vir no seu melhor, mas o França-Portugal não será um duelo individual mas um duelo colectivo.» 

«Favoritismo nada vale» 

Apesar dos elogios a Portugal, a França continua a ser dada como favorita para o jogo de amanhã. «Isso tornou-se inevitável depois de termos vencido o Campeonato do Mundo», explica Roger Lemerre. «Toda a gente joga connosco com a máxima motivação. Não podemos impedir as pessoas de pensarem aquilo que quiserem. Não é pressão que nos perturbe, até porque sabemos que o favoritismo nada vale a partir do pontapé de saída.» 

A equipa francesa apresenta-se a 100 por cento para o encontro com Portugal, uma vez que Petit já recuperou de lesão, depois de ter falhado o jogo com a Espanha, dos quartos-de-final. «Foi uma das boas notícias que recebi», admite Lemerre, apesar do excesso de opções no meio-campo com que se confronta agora. «Desde que estou no futebol nunca a abundância foi um problema.» 

Dugarry, que partiu o nariz durante o encontro dos quartos-de-final, também está em condições. «A resposta foi dada pelo próprio Dugarry no jogo com a Espanha. Ele partiu o nariz muito antes do final e como viram aguentou até ao fim.» 

Dois pontas-de-lança? 

Diante da Espanha os franceses apresentaram-se com apenas um ponta-de-lança, uma forma de conseguir consistência nos flancos e travar os laterais contrários, depois de terem jogado com dois nos três encontros da primeira fase. Roger Lemerre esconde o jogo em relação à equipa que escolherá para amanhã. «Não é uma questão importante, vamos tomar a melhor opção em função do adversário e da nossa maneira de jogar. Vamos ter atenção a Portugal, mas damos prioridade à nossa forma de actuar, não vamos mudar só por isso.» 

De qualquer maneira, perspectiva-se um regresso à estrutura com dois atacantes. Um jornalista francês referiu a Lemerre que Portugal era semelhante à Espanha, atacava muito pelos flancos, ideia que o treinador contrariou. «Nós temos uma opinião diferente», esclareceu, indicando que não estará muito preocupado com a necessidades de travar os laterais portugueses. 

Didier Deschamps vai cumprir amanhã 100 jogos na Selecção francesa, recolhendo muitos elogios do seu seleccionador, apesar de uma época em Inglaterra (no Chelsea) aquém das expectativas. «É um grande jogador, muito importante para o grupo. Tem tido uma carreira magnífica, espero que continue muitos mais jogos connosco. Continuo a ter total confiança nele.»

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