F.C. Porto-Académica, 4-1 (crónica)

3 dez 2002, 00:26

Fé e fibra de um líder com tendência para sofrer Pela quinta vez em seis jogos, o Porto começou a perder nas Antas. Demorou a reagir, mas ainda foi a tempo da goleada. Uma questão de fé.

É um Porto de fibra e de fé, este que lidera, de forma segura e confortável, a Superliga. A equipa de Mourinho demorou 48 minutos para conseguir marcar um golo, esteve longe dos seus melhores dias, mas a verdade é que fez mais uma demonstração de força anímica. Nunca acusou a pressão de estar a perder, nunca pensou que não ia dar a volta e... deu mesmo. Foi esse o seu principal trunfo.

A Académica merece o elogio de quem apareceu sem complexos, ciente da sua menor qualidade técnica, mas arrojada nos meios e ambiciosa nos objectivos. Marcou primeiro, num lance em que Xano e Dário tiveram todo o mérito no aproveitamento de abébias concedidas por Mário Silva e Jorge Costa. O conjunto de João Alves não se atemorizou com um Porto ferido por estar a perder em casa e chegou a acreditar que o escândalo seria possível. Mas o passar do tempo foi acentuando as diferenças e, na hora da verdade, a superioridade azul e branca veio ao de cima.

Mas atenção: este resultado tem muito de enganador. O 4-1 encobre os problemas que o Porto teve para conseguir chegar à vantagem: só a atingiu no 2-1, corria já o minuto 72. Foi mais um momento sublime de Deco. O melhor jogador da Superliga demorou a aparecer na partida, mas já tinha dado sinais de aviso em passes de sonho no início do segundo tempo. O livre que apontou, e que deu origem ao 2-1, é simplesmente fantástico: o arco que a bola descreve é perfeito, não dando a mínima hipótese de defesa a Pedro Roma.

Começar mal, demorar a reagir e... golear

A história deste jogo começa de forma inesperada. Quer dizer, não totalmente inesperada, porque isto de o Porto sofrer o primeiro golo nos jogos em casa já começa a ser habitual. É impressionante: em seis partidas que efectuou nas Antas para a Superliga, só o Marítimo não conseguiu marcar primeiro. Belenenses, Benfica, Nacional, Gil Vicente e Académica entraram a ganhar. Curiosamente, o Porto deu sempre a volta, excepto com os do Restelo, na primeira jornada da Superliga, numa partida que terminou com empate a 2-2.

Assim foi uma vez mais, neste jogo: quando as duas equipas ainda se estudavam mutuamante, Mário Silva perde um lance com Xano. Este centra para a área, onde Dário saltou mais alto que Jorge Costa. Estava feito o 0-1. Mas a experiência recente mostrava que um golo tão madrugador pouco poderia significar. Interessava, por isso, perceber qual seria a reacção portista.

E a verdade é que ela não foi imediata. O Porto empurrava a Académica para sua zona recuada, mas o jogo portista não saía com fluidez. As oportunidades demoravam a aparecer; faltava um «clique» no jogo azul e branco. Justiça seja feita, também, à atitude coimbrã. Foi mesmo uma Académica briosa, aquela que, durante toda a primeira parte, foi aguentando as investidas portistas.

Muito do jogo azul e branco passou, na primeira parte, por César Peixoto. Mourinho apostou nele para o lado direito do ataque, sacrificando um Capucho esta época muito irregular. A aposta foi ainda maior: Deco partilhou com Peixoto a cobrança de livres e cantos. Foram de César Peixoto muitos dos remates com perigo. Mas o ex-belenense ainda não tem o ritmo suficiente para 90 minutos e acabou por sair ao intervalo, por troca com Jankauskas.

Um «penalty» duvidoso e a revirovolta

O Porto deu a volta na segunda parte e acabou por chegar a uma vantagem indiscutível. Mas a reviravolta portista fica marcada por um lance decisivo neste jogo. Deco marca um canto, a bola vai à barra. No ricochete, Postiga cai na área, supostamente agarrado por Dino. Ficam-nos imensas dúvidas sobre se terá existido mesmo falta. Jacinto Paixão marcou grande penalidade, Maniche não perdoou.

Minutos depois, Dino foi expulso por acumulação de cartões. A Académica actuava com menos um. O Porto carregava cada vez mais forte e, desta vez, com mais soluções ofensivas. A magia de Deco deu o empurrão decisivo para que o Porto ficasse, finalmente, em vantagem.

Depois do 2-1, a tendência de um Porto dominador foi, naturalmente, acentuada. Uma Académica diminuída foi forçada a ceder mais espaços. Mas, mesmo assim, não baixou os braços. Roberto, surgido do banco, ainda deu que fazer à defesa azul e branca. O avolumar do resultado foi castigo demasiado pesado para a briosa.

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