F.C. Porto-Alverca, 6-0 (crónica)

31 out 2000, 00:43

Talento de Deco + Eficácia de Pena = Goleada A goleada é um sinal da boa exibição portista, mas esconde as dificuldades do conjunto azul e branco na primeira meia-hora. A atitude ultra-defensiva do Alverca chegou a irritar os portistas, mas o talento de Deco acabou com as inquietações. Nenhuma dúvida: o Porto está em boa forma e parece ter solidez para aproveitar o avanço que já leva na liderança da classificação. Muito macio, o Alverca só pensou na estratégia enquanto esteve empatado. Depois... desapareceu

Um jogo resolvido em seis minutos. Entre os 33 e os 39 minutos, os três primeiros golos acabaram com as dúvidas e abriram caminho para uma goleada inesperada. Um resultado de 6-0 vale por si mesmo, nem sequer é preciso enunciar argumentos muito elaborados para sublinhar a óbvia superioridade portista. Mas o que é curioso é que a primeira meia-hora estava longe de anunciar tão desequilibrado desfecho. As jogadas custavam a sair, o Alverca fechava-se a sete chaves, e não havia meio de abdicar do anti-jogo. Só uma solução de génio poderia resolver a equação complicada. E foi aí que se viu como os jogadores de excepção são cruciais para criar desequilíbrios. Deco é, certamente, um desses eleitos e foi ele que abriu um caminho não tão simples quanto resultado deixa adivinhar... 

A exibição portista merece elogios, claro que sim. Seis golos num só jogo é sempre feito que merece destaque ¿ não é por acaso que se trata da maior goleada deste campeonato. Mas há dois períodos que se impõe identificar na atitude portista: até ao primeiro golo, a equipa azul e branca não se deu bem com o esquema montado pelo Alverca. A táctica hiper-defensiva de Jesualdo Ferreira estava a dar os seus efeitos. De tal modo que durante 33 minutos o empate foi um resultado perfeitamente justo. Mas depois de estar a ganhar, já liberto do estigma de ter que desfazer a igualdade, o Porto deu uma lição de bem atacar. Deco, Pena e Drulovic foram os maestros de uma orquestra bem afinada. 

Resolver tudo em seis minutos 

Com seis jogadores de cariz exclusivamente defensivo (os quatro homens da defesa e ainda Diogo e Pedro Martins, dois médios de recuperação que nunca atacavam) e outros três médios demasiado recuados (Ramires, Milinkovic e Rui Borges), o Alverca defendia com dez homens atrás da linha da bola: só mesmo Caju importunava os defesas portistas. Perante este esquema, é escusado referir que o jogo teve sempre sentido único: o da baliza à guarda de Paulo Santos. Perante tanta falta de ambição ofensiva do adversário (apesar das tentativas solitárias de Rui Borges e Milinkovic de esboçar alguma coisa parecida com aquilo que se costuma chamar de... contra-ataques), o Porto só teve que se preocupar com o ataque.  

Se nos jogos das Antas ver o F.C. Porto jogar deliberadamente ao ataque não constitui propriamente uma surpresa, o que foi novidade foi ver a turma da casa com tantas dificuldades em desmontar a estratégia do adversário. Capucho voltou a acusar quebra de rendimento, tendo mesmo obrigado Drulovic a baralhar as contas, aparecendo pela direita. Esquerdinha dava uma ajuda ao ataque pela esquerda, Alenitchev imprimia mais acutilância ao miolo portista, se comparado com o dono do lugar que ocupou esta noite, Chainho.  

Só o golo de Deco (alcançado num altura em que o Alverca estava com menos um, por lesão de José António) aliviou as inquietações do líder do campeonato. A atitude ultra-defensiva deixou de fazer sentido, mas o Alverca nem teve tempo de corrigir o esquema. A infelicidade de Veríssimo, ao marcar na própria baliza, quase resolveu um jogo que prometia ser complicado para o vice-campeão nacional. 

O grito de Liberdade 

Mais descansado, o Porto pôde, então, dar um ar da sua graça. A equipa soltou-se e os pormenores de génio brotaram, como se tivessem descoberto a Liberdade depois de muito tempo de opressão. Drulovic fez os seus slaloms, Deco os seus passes de mágica, Pena brilhava, mostrando que é um jogador completo. Estava reposta a normalidade nas Antas. 

E a partir daqui, quase nem é preciso explicar mais nada. As diferenças de andamento são tão grandes que nem vale a pena emitir juízos de valor sobre o resultado. Com tudo resolvido em relação ao vencedor, o jogo no segundo tempo foi mais aberto. O Alverca percebeu que não havia razões para continuar a defender como tinha feito na primeira meia-hora e deu mais espaços aos portistas. Como, ao mesmo tempo, as substituições operadas por Jesualdo Ferreira nada trouxeram de novo no ataque do Alverca, o Porto acabou por ter uma segunda parte muito mais fácil. Com muito menos esforço, repetiu a dose dos primeiros 45 minutos. Tudo somado, deu... 6-0. 

Apesar de alguns erros de pormenor, Jorge Coroado fez um trabalho à sua imagem: sério, rigoroso e justo.

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