opinião
Diretor de Informação da TVI

“Atirei o pau ao Costa…

13 jan 2022, 08:38

… e o Rio não morreu.” Sendo a canção da nossa infância — a original, claro — agora politicamente incorreta, neste caso, ela serve o propósito de ajudar a explicar o período eleitoral que estamos a viver.

Defendo, desde o início desta crise política, que estas eleições correm o risco de ser pouco úteis à clarificação que as justificou. Pior: podem servir apenas para nos deixar num pântano político ainda maior do que aquele em que navegámos nos últimos dois anos. No fim do dia, sobrará sempre a pergunta: quem nos governa?

E a que preço?

Se cruzarmos alguma opinião publicada com a tendência das sondagens e descontarmos o fel de uns quantos adversários internos de Rui Rio, todos os caminhos apontam na mesma direção: António Costa tem uma maior probabilidade de sair vencedor destas eleições do que Rui Rio. Apesar do desgaste que lhe apontam, dos erros — e foram muitos — que cometeu enquanto líder do Governo e considerando ainda o falhanço da defunta geringonça, não há quem se atreva a dizer que Rui Rio vai ser um claro vencedor das próximas eleições. Mas eu não daria isso por adquirido.

Percebendo que António Costa se sinta na obrigação de pedir uma maioria absoluta - na qual duvido que o próprio acredite - e tendo em conta as linhas vermelhas que já assinalou à sua direita, ao PS de Costa resta uma oportunidade de governar: que a esquerda toda junta - e o que restar do PAN - chegue para se equilibrar numa corda cada vez mais fina e instável. Ora, para isso, seria preciso que a direita não crescesse nada nestas eleições e que a esquerda conseguisse, no mínimo, manter a votação das últimas eleições. Um cenário que, não sendo impossível, é, ao dia de hoje, muito pouco provável.

À direita, as dúvidas são diferentes, mas nem por isso menos relevantes. Depois de quatro anos na oposição e de todo o desgaste do Governo socialista, Rui Rio nem se atreve a pedir maioria absoluta. O que significa que - como o próprio tem deixado bem claro nos debates - o líder do PSD mete todas as fichas numa maioria de direita, de preferência sem precisar do Chega. E eis-nos chegados a um novo cenário, também ele, ao dia de hoje, pouco provável.

Claro que há sempre outros cenários, mas sobre eles podemos debruçar-nos mais tarde. A verdade é que Rui Rio - gabe-se-lhe a coerência - defendeu sempre que o PSD nunca chegaria ao poder apenas por mérito próprio, mas, primeiro, por demérito de quem lá está. E sempre foi esta, até hoje, a estratégia do líder social-democrata: ficar quietinho à esquina, encostado ao poste, resistindo a todas as intempérides, à espera que o poder lhe caia dos céus aos trambolhões. Como é que governa depois? Isso logo se vê.

Bem sei que nenhuma sondagem o diz, mas esta é a primeira vez que Rui Rio tem uma oportunidade real de se tornar primeiro-ministro. E se, depois de tudo o que aconteceu à esquerda, o líder do PSD não conseguir uma vitória, isso dirá muito mais sobre a sua liderança do que sobre quem governou o país nos últimos seis anos.

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