Como é que Roberto Carlos e Beckham marcam livres tão bem?

12 abr 2003, 19:44

Estudo sobre os efeitos dos remates à baliza A eficácia de um remate tem a ver com a velocidade a que a bola vai e com o efeito que faz. Conheça um estudo surpreendente.

Último minuto do Inglaterra-Grécia. Os ingleses estão a perder por 1-2 e precisam do empate para assegurarem a qualificação directa para o mundial-2002. Só um grande jogador, com uma enorme capacidade de abstracção à pressão, poderá resolver o problema. Livre directo a favor dos ingleses. O lance ocorre numa zona frontal à baliza, bem antes da meia-lua. Um serviço ideal para David Beckham.

A estrela do Manchester e da selecção inglesa executa o lance de forma perfeita: remate forte, efeito ideal, sem qualquer hipótese para o guarda-redes grego.

Beckham, toda a gente o sabe, é um especialista na marcação de livres. Mas será que só a arte e o talento podem explicar o sucesso do remate? Há cada vez mais dados para se achar que não. O inglês Steve Haake, especialista em biomecânica e professor na Universidade de Sheffield, apresentou nesta tarde de sábado, uma comunicação no 5.º Congresso Mundial de Ciência de Futebol, que decorre na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, até à próxima terça-feira, que expõe as conclusões do estudo que a sua equipa universitária fez sobre «O comportamento da bola de futebol após um remate».

A ideia é perceber como é que os mestres da marcação de livres, como Roberto Carlos, David Beckham, ou Figo conseguem ter níveis de aproveitamento tão elevados. Haake começou por mostrar imagens, em câmara lenta, do golo que Roberto Carlos cobrou de livre, num particular com a França. O lateral-esquerdo brasileiro aplica um remate violentíssimo e com um arco completamente imprevisível: a bola parece encaminhar-se para o lado esquerdo da baliza, mas, a meio do seu trajecto, desvia subitamente a sua rota e entra fortíssima na baliza, batendo um Barthez boquiaberto. A forma bizarra como o lance decorreu tem uma imagem exemplar neste pormenor: antes de a bola ter desviado a sua rota, um «apanha-bolas» baixa-se, com medo de apanhar com o tiraço do brasileiro.

São lances como este que Haake e a sua equipa estudaram. Será que Roberto Carlos calculou esse desvio de rota, ou teve simplesmente sorte? Em função do estudo feito, o mais provável é que o brasileiro já soubesse mais ou menos o que ia acontecer. «Há um valor óptimo na relação entre a velocidade da bola e o efeito que ela adquire. A 20 metros por segundo, a bola atinge o maior desvio», explica Haake.

Velocidade e efeito estão relacionados

Acima dessa velocidade de 20 metros por segundo, o efeito da bola já foi mais baixo em relação àquele «valor óptimo». Há, por isso, uma relação entre estas duas variáveis (velocidade e efeito), mas não é líquido que quanto mais potente for o remate mais probabilidades haja de o efeito ser o mais desejado.

No caso do golaço de Beckham frente à Grécia, Steve Haake concluiu que «não foi só a potência do remate; foi a forma como ele encontrou o ponto certo da bola para que ela atingisse o alvo desejado, no menor tempo possível».

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