Boavista vence Barry Town (2-0) e deixa acesso à Taça UEFA entreaberto O segredo dos galeses ddurou poucos minutos a ser desvendado. Os golos de Silva e Rogério deixam a eliminatória bem encaminhada, mas são insuficientes para a considerar resolvida.
Em vez da goleada programada no «escuro», o Boavista interrompeu-se a meio de um resultado que não chega a ser mais do que minimamente confortável, que não garante uma viagem tranquila a Gales, mesmo adivinhando o acesso à Taça UEFA. Mas mais pela pobreza dos pés adversários do que pela genialidade de quem deveria ter arrasado.
Não foi preciso muito. Num punhado de pontapés, em duas acelerações, desfez-se o segredo galês. As fragilidades transpiravam dos movimentos britânicos, arrastados, receosos, perfeitamente incapazes e razão mais do que suficiente ¿ percebe-se agora ¿ para a estratégia de segredo que escondeu pormenores e nomes até ao último instante.
O sigilo resumia todos os méritos do Barry Town, sem ponta de arte nem pingo de classe. Sobrava-lhe apenas uma tendência natural para a dureza, herdada do râguebi, e uma propensão excessiva para defender e protelar a derrota, ainda que o peso negasse vantagens que a estatura parecia garantir.
Assim, tão encolhidos, comprimidos em três dezenas de metros, os galeses erguiam o segundo obstáculo, embrulhavam os ensaios ofensivos do Boavista, que se prepara na mais completa ignorância sobre o adversário. Sem trabalhos de casa, fazia o estudo tarde, já no relvado, mas não se demoraria na apalpação.
Sem paciênca para ponderar o método, com uma pressa inexplicável a comandar-lhe os movimentos, o Boavista testou a velocidade, apelando repetidamente aos arranques de Duda, para abusar, mais tarde, da procura da linha final e dos cruzamentos em série, todos eles previsíveis. Faltava brilho, lapsos de inspiração, instantes de desequilíbrio, que nenhum dos executantes transmitia a sensação de poder fabricar.
O Barry Town, que deixou William ao relento, seria derrotado pelo cansaço, pela insistência, com a vantagem de ter evitado que as reais diferenças, garantidas apenas numa goleada, transparecessem de um resultado que lhe foi simpático e animador. Resistiu por 22 minutos, recompôs-se por outros tantos e manteve o suspense sobre o desfecho da eliminatória, com a ajuda e complacência de um adversário mais preso em amarras próprias, feitas de crises de criatividade, do que propriamente numa estratégia básica de defesa, receio e contenção.
Por isso Jaime Pacheco se exasperava, gritava e gesticulava, insatisfeito com a lateralização abusiva, com a inconsequência de todos os gestos boavisteiros ou a calma de Rogério, autor de um dos golos, que cedeu o lugar demoradamente, degustando a ovação.
Jaime, que já havia esmurrado o banco de suplentes num acesso de raiva, queria mais, esperava a goleada perante o adverário mais frágil que defrontara desde os primeiros pontapés da pré-temporada, mas a equipa decidira-se a complicar, a deixar-se enredar no plano galês, que não previa sequer uma trama de subterfúgios ou meras segundas intenções. O Boavista teve o adversário aos pés e, em vez, do massacre, cuidou em não o «magoar». Em troca, recebe a dúvida quanto ao acesso à Taça UEFA. A porta ficou entreaberta.
Jogo no Estádio do Bessa, no Porto
Assistência: três mil espectadores
Árbitro: Jack Van Hulten (Holanda)
Auxiliares: Talens Berend e Zuidema Keimpe
BOAVISTA¿William; Rui Óscar, Litos, Pedro Emanuel, Erivan; Geraldo, Rui Bento, Pedro Santos (Sanchez, 45m); Duda, Silva (Whelliton, 69m) e Rogério (Martelinho, 80m)
Treinador: Jaime Pacheco
BARRY TOWN¿Kendall; Brown, Phillips, Yorke, Lloyd;Holsgrove (McLean, 83m); Jones, Ince (Jenkins, 29m), Stanton (French, 74m); Lambert e Moralee
Treinador: Peter Nicholas
Ao intervalo: 2-0
Marcadores: Silva (22m) e Rogério (40m).
Cartão amarelo: Ince (6m) Lloyd (85m)