França e Holanda são as favoritas

10 jun 2000, 17:17

José Mourinho José Mourinho, treinador-adjunto do Barcelona, escreve nestas páginas durante o Campeonato da Europa

A horas de iniciarmos a nossa participação no Euro-2000, todos temos como inequívoca a dificuldade do nosso grupo. Alguns argumentarão com a qualidade dos oponentes. Eu prefiro lembrar a diversidade das filosofias e dos modelos de jogo com os quais nos teremos de entender. 

Em dez dias faremos três jogos que nos obrigarão a preparação distinta, quer sob o ponto de vista psicológico, quer na elaboração dos princípios de jogo. Não é fácil, mas o processo de culturização táctica ao qual os nossos jogadores a actuar no estrangeiro são sujeitos pode ajudar Portugal neste complexo grupo. 

Inglaterra 

4-4-2 ou 3-5-2. Não interessa. Eles são os reis do futebol directo, «open mind», para jogar e disfrutar. Estilo dominante e agressivo, características inalteráveis.  

Quanto à questão de jogar sempre com dois pontas-de-lança, é tradição, é cultura ou é simplesmente utilizar as suas potencialidades. Kevin Keegan terá de escolher o «twinstriker» entre Shearer, Owen, Fowler e as novas estrelas da Premier League, Heskey e Phillips. De férias em Inglaterra ou procurando o sol ficaram Andy Cole, Teddy Sheringham e Chris Sutton. 

Roménia 

Velocidade + profundidade + paciência e surpresa = perigo. Fórmula simples e eficaz, algumas vezes letal, especialmente com Adrian Ilie e o eterno Hagi. Como estrutura de base de um sólido bloco defensivo onde Dan Petrescu e Gica Popescu são classe e experiência puras. Como curiosidade, 15 dos 22 convocados jogam em equipas estrangeiras. Porque são baratos? Não, porque são bons. 

Alemanha 

Seguramente 3-5-2. Os alemães pensam o futebol pragmaticamente e este modelo potencializa claramente o seu poder físico. Defensivamente, marcações rigorosas com cobertura de um libero. Meio-campo apto posicionalmente para uma elevada pressão. Na frente, mobilidade e potência.  

Importante também o facto de este sistema ser o único que pode permitir a contribuição de Matthaus, jogando livre atrás dos dois marcadores e entrando no meio-campo em fases de construção. Sem precisar de correrias impróprias para um homem que já correu milhares de quilómetros. 

O automatismo e rigor alemães estão assegurados com a escola do Bayern. Nesta selecção estarão seis mais três jogadores dos gigantes de Munique. Seis actuais, mais Matthaus, Hamman e Ziege, formados e especializados no seu 3-5-2. 

O melhor jogador 

Figo, Raul ou Beckham? Depois da realização de temporadas fantásticas, resistirão ao desgaste físico e psicológico e conseguirão manter o nível? 

Anelka, Del Piero, Zidane ou Kluivert? Com uma percentagem de utilização inferior e um fraco rendimento em relação ao seu inegável potencial, esperam pelo Europeu para nos abrirem as bocas de espanto? 

Vieri, porque te lesionaste? Shevchenko, porque não te qualificaste com a Ucrânia? Giggs, porque nasceste em Gales e nunca te podemos ver num Europeu ou Mundial? 

Os candidatos 

Holanda e França. Eu sou assim, directo, não me escondo. Se calhar falharei e alguns de vós rirão de mim, mas o futebol não pode ser só trabalho e trabalho. Futebol não é só destruir, defender e esperar pelo erro do adversário. Futebol é impor um modelo de jogo, é construir, é provocar o erro, é fazer o público gostar, é dar espectáculo. E é ter capacidade de ser táctica e psicologicamente equilibrado para ganhar. 

        José Mourinho

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