É por isto que os turistas americanos têm a reputação de serem "estúpidos"

CNN , Kim Davis*
7 jul 2024, 10:00
Turista em turismo na Praça dos Heróis em Budapeste, Hungria. Foto urbazon/E+/Getty Images

Este artigo inclui urinóis, figuras tristes, reputações, preconceitos e conselhos. E é escrito por uma americana para os seus concidadãos, alguns dos quais falam aos berros e são incautos, outros que julgam não há máquinas de lavar na Europa. Os europeus podem assim ler uma "conversa" entre americanos (e também aprender algumas coisas)

Quem vê séries como "Emily em Paris / Emily in Paris" pode ser perdoado por pensar que o mundo está encantado com os americanos que viajam para o estrangeiro. As gafes tolas, como confundir um urinol público com um monumento e tirar selfies em frente a ele, são vistas como uma peculiaridade encantadora na televisão.

No entanto, como americana solteira que se mudou para a Europa e cometeu MUITAS gafes, posso garantir-lhe que o mundo real não se diverte de todo.

É difícil de engolir, mas, infelizmente, ganhámos uma reputação em todo o mundo de sermos, bom..., "americanos estúpidos".

É ofensivo? Sim. Podemos ficar chateados com isso? Claro. Mas com dezenas de milhões de americanos a viajar para o estrangeiro todos os anos, é provável que nos encontremos em qualquer parte do mundo.

Por isso, a nossa reputação é completamente compreensível.

A realidade é que TODOS nós fazemos coisas "estúpidas", especialmente quando estamos em locais no estrangeiro e não conhecemos os costumes, culturas ou ambientes locais. Ninguém está imune a esta humilhação, nem mesmo os académicos geniais.

No entanto, os viajantes inteligentes sabem que fazer coisas "estúpidas" no estrangeiro não só pode ser desrespeitoso e embaraçoso, como também pode colocá-lo em risco de ser preso, ferido ou vítima de um crime.

É por isso que, em vez de deixar que os rótulos me perturbem, opto por me concentrar na forma como me posso tornar uma viajante de excelência. Depois de mais de 20 anos a explorar o mundo, acho que já consegui perceber isso.

Por isso, aqui ficam as minhas 10 melhores dicas sobre como evitar o estereótipo do "americano estúpido" e tornar-se um "americano inteligente" no estrangeiro.

Ler os sinais sociais

Na maior parte dos países, as pessoas são extremamente educadas. Nunca lhe dirão que o que está a fazer é ofensivo ou socialmente inaceitável. Em vez disso, o mais provável é sorrirem e acenarem com a cabeça, antes de mudarem rapidamente de assunto, fugirem ou o ignorarem.

Este comportamento contribui definitivamente para uma sociedade muito civilizada, mas se for um nova-iorquino que diz tudo, como eu, pode ser muito difícil perceber os sinais sociais.

Durante anos, pensei tolamente que o que estava a dizer ou a fazer era de interesse genuíno para as pessoas à minha volta. Não fazia ideia de que estava a envergonhar-me e a afastar as pessoas. Quando conhecer pessoas no estrangeiro, tente perceber se elas estão genuinamente interessadas (por exemplo, fazendo perguntas de continuação de temas, estabelecendo contacto visual, desenvolvendo as suas histórias, pedindo para participar, etc.), ou se estão apenas a ser educadas.

Se o seu "sentido de aranha" começar a formigar, é provavelmente altura de mudar de assunto ou de passar a uma nova atividade.

Mantenha o volume baixo

É bem verdade que a maioria dos americanos tem um gosto maravilhoso pela vida. Não pensamos duas vezes antes de tagarelar com amigos (ou estranhos) nos transportes públicos ou de nos rirmos à mesa de jantar. É a nossa maneira de sermos simpáticos.

No entanto, em muitos lugares do mundo, falar alto é considerado extremamente rude e pouco comum.

Não é invulgar visitar as grandes cidades e ver pessoas a viajar em completo silêncio num comboio cheio. Também notará que não consegue ouvir a conversa da mesa ao seu lado num restaurante.

Quando me mudei para a Europa, as pessoas perguntavam-me regularmente: "Porque estás a gritar?" Eu ficava sempre chocada. Estava apenas a usar a minha voz normal! Não me parecia que estivesse a falar alto.

Afinal, estava mesmo a gritar, pelo menos em relação aos outros à minha volta (imagine como ficariam traumatizados se eu gritasse mesmo).

Ao longo dos anos, aprendi a ter mais consciência do que me rodeia e a controlar o meu nível de volume em conformidade. É uma competência com a qual terei sempre dificuldade em lidar, uma vez que o meu nível padrão é aparentemente, para a maioria, um nove em 10, mas é também uma competência que teve um grande impacto positivo nas minhas relações profissionais, românticas e pessoais.

Não me interpretem mal, quando estou em casa, em Nova Iorque, desabafo e ninguém dá por isso. No entanto, quando estou a viajar no estrangeiro, tenho sempre o cuidado de me limitar ao que parece ser um sussurro baixinho.

Misture-se

Tentar não dar muito nas vistas como turista pode ajudar a evitar burlas. Westend61/Getty Images

Normalmente, sou a favor da originalidade e de me destacar na multidão. No entanto, quando se viaja para o estrangeiro, mesmo para um local que se conhece bem, destacar-se é como usar um sinal a piscar que diz: "Sou um turista, venha aproveitar-se de mim!"

Quer se trate de carteiristas, vigaristas ou de alguém mais nefasto, há sempre maus atores à espreita, à procura de novas presas.

Infelizmente, os criminosos conseguem muitas vezes identificar um americano a um quilómetro de distância, quer pelo seu sotaque (mais uma razão para manter o volume da sua voz baixo), quer pela sua moda (calças caqui, camisas de golfe, ténis, chapéus de basebol e meias brancas são normalmente um sinal de que não há nada a fazer).

No momento em que estes predadores sabem que é de fora da cidade, eles atacam. É por isso que é inteligente misturar-se com os habitantes locais e evitar chamar qualquer tipo de atenção para si. Isso não só fará de si um americano inteligente, como também o tornará um americano mais seguro.

Seja curioso

Ninguém gosta de um sabe-tudo. É por isso que uma das melhores maneiras de conquistar as pessoas e aumentar o seu conhecimento é ser curioso. Seja uma esponja e absorva o máximo de informação nova possível. Estar genuinamente interessado num país, no seu povo, na sua cultura e na vida quotidiana é uma das formas mais lisonjeiras de mostrar respeito e de se relacionar com uma comunidade.

A "Juíza Judy" [programa de tv americano semelhante ao "Sentença", da TVI] diz sempre: "Tens dois ouvidos e uma boca por uma razão". Por outras palavras, ouça duas vezes mais do que fala.  Se conseguir ouvir sem sentir a necessidade de falar sobre "como fazemos as coisas na nossa terra" ou mostrar todas as coisas que leu num livro, então fará amigos onde quer que vá.

De facto, quanto mais perguntas fizer, mais as pessoas pensarão que é inteligente! Ninguém espera que saiba tudo. É atrativo quando se pode dizer: "Não sei nada sobre isto, por favor, diga-me mais". Demonstra humildade e abre a porta para que outros partilhem a sua sabedoria e histórias consigo, o que o ajudará sempre a crescer.

Por isso, tente esquecer tudo o que sabe, abra a sua mente e seja curioso. Se o fizer, as pessoas responderão com bondade, apreço e acreditarão que é muito sábio.

Seja inteligente na rua

É aconselhável fazer os trabalhos de casa antes de entrar num táxi em cidades como Roma. pedro emanuel pereira/iStock Editorial/Getty Images

Todas as cidades têm as suas próprias burlas e é importante que, antes de viajar, leia sobre as burlas mais comuns na zona que vai visitar, para que possa ser esperto na rua.

Uma das burlas mais populares é quando um taxista faz o "caminho mais longo" para o levar ao seu destino, acumulando uma fatura bastante elevada. Nem todas as cidades têm Uber. Os taxistas locais sabem imediatamente se é da zona ou não, simplesmente pela forma como faz o pedido quando entra no veículo.

Quando viajei para Roma pela primeira vez, entrei num táxi e perguntei ao motorista: "Quanto custa para chegar a este hotel?" Ele respondeu: "80 euros". Disse-lhe imediatamente para parar. Tirei as minhas malas, o que o deixou muito zangado, e saí do carro. Depois telefonei para o hotel e fiz a mesma pergunta. Disseram-me que não seria mais do que 5 euros.

No táxi seguinte, disse ao motorista: "Por favor, leve-me a este hotel. É mesmo ao fundo da estrada, por isso deve ficar por cerca de 5 euros, certo?". Ele respondeu: "Sim", e pusemo-nos a caminho. Ao dizer-lhe que eu não era uma "americana estúpida", pudemos viver felizes para sempre.

O objetivo desta história é fazer os trabalhos de casa. Tenha uma ideia dos preços dos táxis, da comida, das taxas, das gorjetas, etc., com antecedência, para não ser enganado e não se aproveitarem de si. Conheça as burlas locais e saiba como rejeitar as pessoas que o abordam com os seus truques.

E, acima de tudo, não deixe que a sua excitação por estar num novo local o leve a uma falsa sensação de segurança.  Tenha cuidado ao conhecer novas pessoas, especialmente através de aplicações de encontros. O perigo dos estranhos é real.

Leia as notícias

Os Estados Unidos são tão vastos que as notícias tendem a concentrar-se no que está a acontecer localmente em cada estado, com um toque do que está a acontecer no resto do país. No entanto, raramente são apresentadas notícias internacionais.

Como resultado, muitos americanos têm, muitas vezes, pouco ou nenhum conhecimento do que se está a passar em todo o mundo, aumentando assim, injustamente, o estereótipo do "americano estúpido".

Felizmente, existe uma solução rápida e fácil. Se está a planear viajar para o estrangeiro, basta ler os cabeçalhos das notícias do país que vai visitar antes de viajar.

Não precisa de conhecer toda a história do país, mas será uma grande ajuda se souber o básico: quem é o atual presidente/primeiro-ministro do país? Quais são os temas em voga e os principais títulos dos jornais? Qual é o desporto nacional do país e como está a sua equipa? Onde se situa o país num mapa e que países o rodeiam?

Ter esta informação disponível na ponta dos dedos não só o fará parecer bem informado, como o ajudará a evitar ser deixado de fora das conversas.

Aprender um pouco da língua

Aprender frases para lidar com situações básicas, como pedir uma refeição, ajuda a quebrar o gelo. Por exemplo, aprender um pouco de vietnamita pode ajudá-lo a orientar-se na cena gastronómica de Hanói. Linh Pham/Getty Images

É necessário ser fluente quando se vai para o estrangeiro? Não, de todo. Precisa de aprender o básico? Sim. Sem dúvida.

A maior parte das grandes cidades tem muitos falantes de inglês, mas nem sempre estarão por perto quando precisar deles. Quer se trate de uma emergência ou apenas de poder fazer um pedido num menu, é importante que saiba algumas palavras e frases básicas para o ajudar a passar o dia.

Recomendo que comece por: "Olá", "Adeus", "Obrigado", "Por favor", "Ajuda", "Desculpe", "Não falo ___", "Sou alérgico a ___", "Gostaria de ir a ____", "Onde fica ___" e um punhado dos seus alimentos favoritos.

É claro que existem aplicações que podem ajudar, mas memorizar estas frases será uma grande ajuda, não só na comunicação, mas também na cooperação.

Mesmo que não saiba falar as palavras, a maioria das pessoas aprecia profundamente quando tenta, pelo menos, falar a língua local. Demonstra respeito pelo facto de ter feito um esforço e ficará surpreendido com a quantidade de portas que isso lhe pode abrir.

Seja um embaixador

De muitas formas, somos todos mini-embaixadores do nosso país quando viajamos para o estrangeiro. Para o bem ou para o mal, a forma como agimos reflecte-se diretamente, não apenas em nós, mas em todos os nossos concidadãos.

No entanto, há algo na natureza humana que faz com que muitas pessoas ajam de forma diferente quando viajam para o estrangeiro. É como se algo se passasse dentro dos seus cérebros e, de repente, se transformassem numa pessoa completamente diferente, capaz de fazer e dizer coisas que nunca pensariam em fazer no seu dia a dia.

Como pode imaginar, isto pode levar a algumas situações más (estou a falar convosco, americanos que foram presos por dormirem na Torre Eiffel).

Embora possa ser tentador, quando viaja para o estrangeiro, adotar uma atitude do tipo "o que acontece em Las Vegas, fica em Las Vegas", recomendo que pense na viagem como se fosse um adepto de desporto que vai ver a sua equipa favorita num jogo fora de casa.

É um convidado em casa deles. Não pode esperar que a outra equipa tenha a mesma comida, entretenimento, transporte e hospitalidade. O seu apoio à sua equipa pode ser um insulto automático à equipa anfitriã (mesmo que não tenha intenção de o fazer) e, se não cumprir as regras, será expulso do estádio.

Mas o que nos une é o facto de todos partilharmos o amor pelo desporto.  O mesmo acontece com as viagens. Lembre-se, é um convidado. Como qualquer bom visitante, quer ter a certeza de que deixa uma impressão positiva para ser sempre bem-vindo de novo.

Não leve muita roupa interior

Não leve demasiada roupa interior para uma viagem à Europa. Lá, há máquinas de lavar roupa. Adene Sanchez/E+/Getty Images

Uma das histórias mais engraçadas que já ouvi veio de um amigo que toca trompete na Suécia. Ele ficou no quarto de um americano durante uma digressão. Disse que o homem abriu a bagagem e expôs mais de 50 pares de roupa interior.

O trompetista perguntou: "Porque é que trouxeste tantos pares de roupa interior para uma digressão de duas semanas?" O músico respondeu: "Não tinha a certeza se havia máquinas de lavar roupa na Europa".

Histórias como esta são divertidas para nós, mas o meu amigo estava fora de si. Será que os americanos pensam mesmo que a Europa é atrasada? Bem, aparentemente, alguns pensam.

Se estiver a viajar para o estrangeiro, pode ficar surpreendido por saber que muitos países estão muito mais avançados do que os Estados Unidos em algumas áreas. Por exemplo, existe desde 1994 um comboio de alta velocidade de 300 Km/h que liga Londres a Paris. No entanto, os Estados Unidos ainda não dispõem de uma rede de comboios de alta velocidade própria.

Desde 2007, a Grã-Bretanha e a maior parte da Europa utilizam pagamentos com cartões sem contacto para tudo, desde refeições a transportes.

Gotemburgo, na Suécia, é tão segura que as empresas expõem produtos reais em frente a painéis publicitários e ninguém rouba os artigos. A lista continua. A questão é que, na maior parte das viagens, não precisa de levar 50 pares de roupa interior.

Desmascare-os com humor

A minha maior arma secreta contra ser chamada de "americana estúpida" é chamar-me a mim próprio de "americana estúpida" primeiro e rir-me disso.

Deixe-me explicar. Como disse acima, aceito que toda a gente faz coisas estúpidas, e eu não sou exceção. Já fiz MUITAS coisas realmente "estúpidas" quando viajei no passado e tenho a certeza de que farei muitas mais coisas "estúpidas" no futuro.

Não faz mal! Sei no meu coração que não sou uma pessoa "estúpida".

Por isso, em vez de ficar ofendida ou chateada com isso, rio-me e faço com que os outros se riam comigo. Por exemplo, sempre que não percebo alguma coisa, tenho confiança suficiente para dizer: "Desculpe, sei que estou a ser uma americana estúpida, mas pode ajudar-me com isto?"

Acho que esta abordagem desarma instantaneamente as pessoas. Em vez de ficarem frustradas, ficam ansiosas por ajudar. Em vez de criar um fosso entre as nossas culturas, aproxima-nos.

Ao anteciparmo-nos e dizermos a frase "americano estúpido" antes de eles terem sequer a oportunidade de a pensar, inverte-se o guião e aplica-se um pouco de psicologia inversa que faz as pessoas pensar e dizer: "Não, não é estúpido. Fico feliz por o ajudar".

No mínimo, vão rir-se consigo e não de si. Não acredita em mim?  Repare como usei esta mesma técnica consigo no início deste artigo. Acredite em mim. Ponha em prática esta dica e nunca mais ninguém vai revirar os olhos ou duvidar da sua inteligência.

*Kim Davis é apresentadora de televisão, jornalista e especialista em marketing. Dedica-se a inspirar o público com as suas histórias de aventura, adversidade e sucesso. Acompanhe-a em @kimdavisreal

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