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Colunista e comentador

O “Bibota” partiu e deixou ouro nas botas, no relvado e na Cidade Invicta

26 nov 2022, 22:24
Fernando Gomes (FC Porto)

Rui Santos escreve sobre Fernando Gomes e recorda sua importância no contexto do FC Porto e do futebol (inter)nacional

O Fernando partiu.

Sofreu antes de partir.

Não merecia sofrer tanto antes de partir, depois de nos ter deixado uma obra.

Uma obra futebolística. Uma obra futebolística gravada a letras de ouro.

Duas botas douradas, na década de 80, a assinalar a sua dimensão (também) internacional.

Um jogador de uma técnica aprimorada, com a bola colada ao(s) pé(s) ou quando tinha de explorar o espaço aéreo.

Um jogador nobre (da nobre Cidade Invicta).

Um jogador fino.

Um jogador elegante.

Um jogador com classe.

Nos relvados e fora dele.

Um daqueles jogadores que, se tivesse pertencido aos agenciamentos e à indústria — ai, a indústria, com todos os seus mistérios —, valeria 300 milhões. Ele e tantos outros.

Um jogador, acima de tudo, com golo.

Quem marca 420 golos ao longo de uma carreira tem de estar na galeria dos notáveis.

O seu brilho nas Antas foi tão intenso que teve um momento em que se tornou mais popular do que Pinto da Costa.

Quando ia às Antas, e quando se falava de futebol e só de futebol, o tema era quase sempre Fernando Gomes. A influência, a capacidade de marcar, e aquilo que significava no FC Porto e para o FC Porto.

Tenho belas memórias desse tempo áureo de Fernando Gomes e das horas de conversa com os ‘homens da Formação’ — com o António Feliciano, o Raul Peixoto, o Joaquim Carvalho e o Costa Soares —, e o tema muitas vezes tinha a ver com a aposta no futebol juvenil, do qual Fernando Gomes saiu para se estrear com 17 anos na equipa principal, com Monteiro da Costa, antes da entrada em cena de José Maria Pedroto.

Diria que Pedroto e Pinto da Costa foram os homens que mais transformaram o FC Porto no clube que é hoje e, independentemente dos magníficos jogadores que pisaram o relvado das Antes e, mais tarde, do Dragão, talvez seja justo dizer que Fernando Gomes foi, nos relvados, a figura mais importante e mais icónica da história do clube portista.

De tal maneira ele foi marcante no FC Porto que houve um tempo em que se começou a falar de Fernando Gomes com perfil de presidente. Foi, talvez, um sonho não cumprido, mas o que interessa isso se foste tantas vezes presidente sem o ser?

Talvez fosse a sua postura, a forma como comunicava, o modo como existia com os colegas e também com os adversários. Ele tinha uma palavra pausada e serena, e não me esqueço das entrevistas que lhe fiz, em Lisboa e no Porto, uma das quais na sua casa de Miramar.

Na proximidade e na distância, e mesmo quando Fernando Gomes representou o Sp. Gijon e o Sporting, o Bibota foi sempre Bibota e o Bibota foi sempre azul e branco. Todavia, inclusivo e não dogmático. Com dimensão nacional e internacional.

O Bibota partiu e deixou ouro nas botas, mas não apenas nas botas. Também nos relvados e, principalmente, na Cidade Invicta.

(As minhas condolências à Família e aos verdadeiros Amigos. Descansa em paz, Fernando, e obrigado pelo que foste e ainda és, porque há sempre uma forma de viver após a morte).

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