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Colunista e comentador

"Estas eleições do FC Porto refletem duas formas antagónicas de exercer o poder e representam um momento sensível para o futebol português"

24 abr, 20:52

As eleições do FC Porto para este sábado são não apenas um grande acontecimento para os sócios e adeptos do clube azul e branco mas também para o futebol português, uma vez que a liderança de Pinto da Costa nos últimos quatro décadas determinou uma forte influência no comportamento de muitas instituições, e não apenas no âmbito do futebol.

O maior elogio que se pode fazer a Pinto da Costa como presidente do FC Porto é que, fosse de que modo fosse, conseguiu anular - até ao aparecimento de André Villas-Boas - qualquer sinal de sólida oposição, e não apenas no universo portista.

E não há que fugir da realidade: fazê-lo, isto é, travar essas manifestações de discordância em relação à sua forma de agir, fosse no plano político, desportivo, empresarial, demonstra que Pinto da Costa, sempre muito hábil a percepcionar as zonas de influências, nos partidos, na FPF e na Liga, conhece o País como ninguém.

Sobretudo, as suas fragilidades. As fragilidades de quem sucumbe perante a percepção da geografia do poder.

Sim, Pinto da Costa é a imagem do poder. Do poder com diversas faces.

O poder expressa quase sempre as virtudes soberanas ou a maquiavélica produtividade do mal.

O poder, nas democracias, consente alternâncias, debate. No futebol, é mais difícil. O poder, no entanto, gera comportamentos totalitários e há muitas formas de o tentar eternizar.

Estamos no momento de celebrar 50 anos daquilo que representa o 25 de Abril e muito mal estaria o País, como está, se ainda tivesse dúvidas sobre a glorificação de pides ou de pidás.

É isto que figuras com responsabilidades continuam perigosamente a ignorar.

Pinto da Costa tem uma história cheia como presidente do FC Porto, vitórias, troféus, conquistas a diversos níveis mas, para manter ou exercer o poder, para o perpetuar, no fundo, tanto foi capaz de absorver apoios junto de diversas esferas de poder, agora até junto da Igreja, como — sem a mais pequena hesitação — junto de grupos marginais.

Por isso tenho dito que as nossas elites, e não apenas as elites do Porto, não estão a cumprir o seu papel social.

Não basta estar ao lado do poder. É preciso ter a noção de que tipo de poder.

Pinto da Costa teve o poder de decidir o timing do seu jubilamento mas não quis, fiel à ideia que muitos partilham segundo a qual o FC Porto é Pinto da Costa e Pinto da Costa é o FC Porto.

Uma ideia de “paixão radical” que conviveu sempre com alguma dificuldade de racionalizar, como se pode atestar através das crises financeiras.

E André Villas-Boas?

Não sei se tenho a favor ou contra mim o facto de há anos largos — era Villas-Boas apenas treinador — ter arriscado que reunia as condições essenciais para ser um dia presidente do FC Porto.

Bastou ouvi-lo nas últimas entrevistas para perceber que Villas-Boas possui pensamento do futebol e para o futebol, do “ecossistema do futebol”, como ele diz, para além das questões passionais.

É uma incógnita no sentido em que nunca presidenciou, mas tem uma visão e preparação transversais muito mais próximas das necessidades e dos desafios que se colocam ao FC Porto.

E quando diz que — e cito — “é preciso boa governança, rigor orçamental e controlo de custos para se poder olhar para a cultura desportiva do FC Porto de outra forma” — fim de citação — está a tocar em dois pontos fundamentais para que o FC Porto possa olhar para o seu futuro com optimismo.

A forma como nos últimos anos se tem acumulado passivo (que já ultrapassa os 500 milhões), sem que isso tenha provocado, para além das sinalizações da UEFA, um toque a reunir assumido com humildade, precisa de ser urgentemente invertida.

E no plano desportivo um clube como o FC Porto não pode estar refém de um treinador, não pode estar nas mãos de um treinador, nem ele pode ditar as linhas estratégicas do clube, por muita competência que possa revelar.

E há o ponto da AG de 13 de Novembro que nenhum portista responsável pode ignorar: o que se passou foi apenas a prova clara e irrefutável de uma visão monolítica e antidemocrática de manutenção de um regime através da ameaça e da força, que Pinto da Costa desvalorizou, prestando apoio aos seus fautores.

O FC Porto não precisa de aterrorizar para ser grande.

Não precisa de aterrorizar para estar mais próximo do sucesso.

O FC Porto precisa de governar, de se enquadrar, de se elevar como grande clube que é para se glorificar a si próprio e ter o lugar que merece no futebol em Portugal.

Têm a palavra os sócios do FC Porto.

A perda de competitividade não é solução.

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