Jogo em aberto na Madeira. Chovem negas a Albuquerque e a Cafôfo, que correm à procura de parceiros para governar

27 mai, 00:02

Líder dos sociais-democratas diz que quer governar e vai conversar com todos os partidos. Paulo Cafôfo vai fazer o mesmo, traçando a sua linha vermelha no Chega. Iniciativa Liberal já deu nega a ambos e André Ventura só avança para um acordo se Albuquerque estiver fora do poder

Oito meses depois da última eleição regional, os madeirenses voltaram este domingo às urnas e o resultado deixou os líderes partidários colados às calculadoras. Para uma maioria no parlamento regional, são precisos 24 deputados. O PSD elegeu 19 e o seu parceiro mais óbvio, o CDS, conseguiu dois. Fora do partido de Nuno Melo, mais nenhum outro se manifestou, à partida, disposto a encontrar uma solução à direita - pelo menos com Miguel Albuquerque ao leme. 

Minutos depois de o líder do PSD Madeira cantar vitória - "clara e inequívoca" -, André Ventura, que viu o seu partido manter os quatro deputados regionais, disse que poderia vir a fazer parte de um acordo de governação, desde que os sociais-democratas trocassem de líder. “O PSD sabe que tem de ceder e encontrar uma solução,  Albuquerque não tem condições de ficar à frente do Governo Regional da Madeira", afirmou, destacando que o resultado ficou aquém do esperado.

“Estou em crer que será possível chegar a alguma forma de entendimento, e se for sem Miguel Albuquerque e sem estes protagonistas até será possível chegar a um entendimento mais alargado, a quatro anos. Com estes protagonistas não”, afirmou André Ventura, gerando, mais tarde estupefação do primeiro-ministro. ."Pedir a alguém que ganhou se demita não faz sentido", refletiu Luís Montenegro

Se do Chega há um sim muito improvável, da Iniciativa Liberal, que manteve o único deputado da região, há um não muito claro. Rui Rocha, na sede dos liberais em Lisboa, disse-o de forma evidente: "Avaliaremos caso a caso, entendimentos com o PS ou com Miguel Albuquerque estão neste momento fora de questão", garantiu, lançando a dúvida sobre “como as peças se encaixam no mosaico parlamentar".

Mesmo com menos 20 mil votos do que o PSD, Paulo Cafôfo recusou-se a conceder vitória ao rival político ou mesmo a aceitar um mau resultado. "O PS e o Juntos Pelo Povo (JPP) juntos elegem mais deputados do que o PSD, que teve o seu pior resultado de sempre". Perante esta realidade, o líder dos socialistas na Madeira disse que ia tentar uma geringonça insular, não revelando quais serão - para além do JPP, o terceiro mais votado que subiu a representação parlamentar de 5 para 9- os outros partidos que se unirão contra Albuquerque. "Pela primeira vez temos a possibilidade de construir através de um acordo partidário um novo governo sem o PSD, com estabilidade e de estabilidade. Iremos encetar contactos com todas as forças parlamentares", garantiu, sabendo mais tarde que não iria contar com o apoio da Iniciativa Liberal.

Na mesma linha, o secretário-geral do JPP às eleições da Madeira rejeitou qualquer entendimento com o PSD para criar uma solução governativa. Ainda assim, Élvio Sousa garantiu que o partido será um agente de estabilidade. "Miguel Albuquerque e o PSD estão fora da equação".

Para além da Iniciativa Liberal, quem prontamente deu uma nega ao repto de Cafôfo foi Nuno Melo, líder do CDS-PP, deixando, inclusive, um recado:  “Devia estar a pensar na derrota que acabou de ter”. Melo congratulou-se por ter conseguido eleger dois deputados, e manteve lealdade ao PSD, garantindo que Miguel Albuquerque é o líder do partido que venceu eleições" e "o CDS saberá estar à altura das circunstâncias”.

Já Miguel Albuquerque escolheu manter o jogo em aberto, mesmo depois de, durante a tarde, ter prometido que iria revelar qual seria o "parceiro favorito" para uma solução governativa. O líder social-democrata declarou estar disponível para dialogar com “todos os partidos”, sem mencionar nenhum em específico. E declarou "vamos ver" à possibilidade de governar em minoria, ou de negociar um acordo de governo ou parlamentar. Das eleições, o ex-presidente do Governo Regional declarou que a esquerda foi “copiosamente derrotada pelo povo madeirense”, salientando que “para além da derrota do PS/Madeira, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista deixaram de fazer parte do parlamento regional”.

Desconhece-se também para que aliança penderá o PAN que nas últimas eleições foi a peça fundamental para que Albuquerque pudesse governar, tendo-lhe retirado o apoio quando o líder do PSD Madeira foi constituído arguido por vários crimes, incluindo corrupção. O partido de Inês Sousa Real elegeu um deputado. 

 

Bloco e CDU deixam de ter representação na Madeira

Claramente derrotados saíram os comunistas e os bloquistas que não conseguiram eleger qualquer deputado nestas eleições, perdendo no total 2.584 votos. Em oito meses, Mariana Mortágua viu o seu partido cair de 3.036 votos para 1.912 votos. Já a CDU de Paulo Raimundo não foi além dos 2.217 votos - perdendo no mesmo espaço de tempo 1460 votos. 

Para Mariana Mortágua, o resultado indica "um cenário de enorme instabilidade" na região. "O BE fez uma campanha combativa nestas eleições da Região Autónoma da Madeira, tínhamos regressado ao parlamento nas últimas regionais. Era nosso objetivo manter essa representação, esse objetivo não foi cumprido, o BE teve um mau resultado nestas eleições", reconheceu. 

Já Paulo Raimundo atribuiu a derrota deste domingo a “fatores de dispersão relativos àquilo que estava em causa nas próprias eleições regionais, as circunstâncias em que as eleições se realizaram” - com a dissolução da assembleia regional e a convocação de eleições por parte do Presidente da República -, que fizeram com que “aspetos associados à dissolução” se tenham sobreposto à apreciação política. “Essas circunstâncias foram aproveitadas pelo PSD para se vitimizar, travando dessa forma uma descida ainda mais significativa do que aquela que ocorreu, e foram também aproveitadas por outras forças políticas para empolar artificialmente diferenças e ocultar convergências que têm de facto com a política que esteve e que está em curso”, sustentou.

 

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