"Houve alturas em que tive dúvidas sobre quem estava a usar o método de Ventura": 12 jovens comentam o debate AD vs Chega

13 fev, 11:58

Esta segunda-feira à noite ficou marcada pelo frente a frente entre Luís Montenegro e André Ventura. A CNN Portugal voltou a convidar um grupo de jovens para comentarem o debate

A vontade de debater política continua acesa entre os jovens, depois de a CNN Portugal ter convidado vários a assistir à estreia dos debates eleitorais. Apesar da chuva que se fez sentir segunda-feira à noite, o grupo voltou a reunir-se à volta da mesa, e desta vez com várias caras novas, num restaurante em Lisboa. 

A Aliança Democrática e o Chega foram os protagonistas do tão aguardado frente a frente, que "mais pareceu um jogo de cartas". Mas quem as jogou melhor?

Bastaram cinco minutos de debate para darem início às trocas de ideias e comentários. A alguns surpreendeu a postura nitidamente "menos agressiva" de André Ventura face a um Luís Montenegro mais assertivo. Outros voltam a queixar-se do tempo do debate, que levou a que várias questões ficassem por responder.

Mesmo sendo esta a geração mais voltada para os "vídeos curtos", a opinião de que não houve margem suficiente para a apresentação de propostas foi quase unânime. As coligações à direita também foram tema de discussão entre os mais velhos da mesa, cujas opiniões se dividiram em relação à clareza da resposta da AD. 

Coligar ou não coligar? Eis a questão

“Nunca esperei que este debate fosse informativo, o meu interesse era perceber como é que Montenegro se relacionava com Ventura”, comenta João Simões, de 30 anos. Diz que, apesar de ser um outsider neste debate - por razões ideológicas - tinha vontade de perceber se a AD viabilizaria um Governo com o Chega. João reconhece que Montenegro sempre foi vocal em relação a uma coligação pós-eleitoral. “Mas já ouvimos várias vezes os políticos a dar um gato por lebre, por isso, queria ver qual o distanciamento de Montenegro do Chega.” 

Após o confronto, João ficou praticamente na mesma. “A ideia com que fiquei foi que Luís Montenegro não viabilizará um Governo com o Chega, mas vale o que vale”, observa, sublinhando que "ainda estamos no período pré-eleitoral". 

Outro João, Chapa de apelido, também de 30 anos, discorda. “A mensagem do líder da AD não foi clara”, destacando ainda o momento em que “Ventura tentou que Montenegro assumisse a instabilidade e afirmasse que o único Governo viável seria o PSD com o Chega”. Esperava, por isso, do social-democrata uma resposta "mais incisiva", porém não ficou esclarecido. “Se dissesse que sim, seria suicídio político, mas gostava de ter visto uma demarcação clara por parte de Montenegro.” 

Quem esteve melhor

Para Manuel Gonçalves, de 27 anos, a “maneira mais correta” de fazer um balanço do debate é afirmar que “correu pior do que ambos os líderes partidários estavam à espera”. Na sua perspetiva, André Ventura não conseguiu responder à pergunta que se impõe: “irá o Chega unir forças com o PS e derrubar um Governo da AD, se o PSD não convidar o Chega para formar Governo?”. Por isso, “os eleitores do Chega ficaram sem saber com o que contar”. 

O jovem diz que os “apartes” de Montenegro foram bons e destaca um deles: "Eu sei mais sobre as contas das suas medidas do que você". “As contas do André Ventura são um truque de magia para enganar tudo e todos. Quando o próprio diz que tem coração, não tem, porque não tem problema nenhum a enganar as pessoas”, defende. 

Manuel ainda elogia a última intervenção do líder da AD: “Montenegro falou para as pessoas que votam ou podem vir a votar no Chega.” Pessoas essas que, na ótica de Manuel, “veem André Ventura como a única forma de expressar as suas frustrações (mais do que legítimas) perante o estado atual do país”. “Montenegro conseguiu falar para essas pessoas e responder frontalmente que o futuro do país pode mudar e que se pode avançar votando na Aliança Democrática.” 

Para André Branco, 30 anos, “Ventura estava à procura do voto dos descontentes, nomeadamente os polícias e os reformados”, mas que se conteve nessas áreas. “Surpreendentemente, foi mais ponderado e moderado na forma de falar e deixou-se ser um bocadinho atropelado”, observa. “Houve alturas que tinha dúvidas sobre quem estava a usar o método de André Ventura, de agressividade e interrupção, no debate”, aponta. “Mas mais no final”, acrescenta Carlos Paiva Raposo. André concorda imediatamente e defende que isso “causou um bocadinho de lama no debate que não merecia”. 

Segundo Carlos, André Ventura começou o frente a frente a querer ser moderado, "e Montenegro não ajudou a AD ao dar-lhe essa legitimidade, até ajudou o Chega". Em cima disso, considera que, por ter sido em canal aberto, este debate deu mais visibilidade ao último partido.

Já no entender de João Chapa, houve alturas que Montenegro não esteve tão bem. Uma delas foi quando Ventura tentou “politizar as forças de segurança”. “É uma mensagem perigosa”, defende o jovem, relembrando que já aconteceu em várias momentos da história as forças de segurança e militares servirem de instrumento para os partidos extremistas. “Ele está a apelar a isso”, acrescenta. “Isso é  gravíssimo”, reage Manuel. João Chapa responde: “Montenegro não fez um bom trabalho a explicar porque é que isto é inaceitável.” Nem Manuel nem Madalena concordam, mas João insiste que é “preciso recordar às pessoas o porquê, a mensagem tinha de ser mais incisiva, não foi suficiente”. 

Ana Eliz, de 19 anos, considera que Ventura “foi muito inteligente a nível de marketing político”, ao dizer que vai “dar total poder à polícia”. Mas lembra que no programa eleitoral do Chega “não há detalhes sobre isso”. “Temos frases rápidas que não explicam nada sobre nada.” Ana questiona, por isso, até que ponto não foi só um golpe de marketing para ganhar o apoio da polícia e influência. 

Programas eleitorais que não informam e debates que não explicam

O formato do debate é novamente criticado pelos jovens. No confronto entre a AD e o Chega, que se alongou (total de 39 minutos), as críticas dos jovens que a CNN juntou centram-se na falta de explicação de propostas concretas, na linguagem inapropriada e na ausência de política internacional.  

No lado da mesa que reúne os jovens mais novos, entre os 18 e os 24 anos, a conversa começa por criticar o modelo dos debates. Teresa Byrne, de 22, sugere que se apresente primeiro uma proposta e daí se parta para debate. Para a jovem, esse formato traria mais clareza ao eleitorado. 

Também critica os programas eleitorais, especialmente aqueles que são mais longos: “São uma irrealidade dos partidos.” “Há menos de 10% de pessoas que leem a longa lista de propostas dos partidos”, argumenta, defendendo que é através dos debates que as pessoas deveriam conhecer as medidas concretas dos partidos. “É preciso ter em conta que a maioria das pessoas não verifica o programa. Nem toda a gente faz ctrl + f e descobre certa medida”, graceja. Para a licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, os debates são o momento para os partidos defenderem as suas propostas, relembrando que, logo após o 25 de Abril, tiveram uma maior duração.

A poucos metros de Teresa está sentada Madalena Oliveira, que também critica os debates. “Trata-se de uma procura pelos soundbites”, critica. A jovem pondera acerca de quem será a culpa da redução de tempo: “Será do sistema ou do eleitorado?”. Assume ainda que vê vídeos com a velocidade no 1.5 [mais rápido], pelo que aponta para que a culpa seja do próprio eleitorado.

Madalena intervém. Para além do pouco tempo de debate, fica surpreendida que haja “debates dos debates”. “Tens comentadores que ficam duas a horas a analisar”, diz a jovem admirada - este ponto tem sido alvo de críticas nas redes sociais entre os jovens. “As pessoas formam uma opinião através da segunda opinião”, acrescenta, defendendo que é uma forma de enviesar o eleitorado. 

Teresa continua a defender que gostaria que os confrontos tivessem uma hora: “Temos debates de meia hora convertidos num reel ainda mais pequeno.” À sua frente senta-se Mariana Byrne, que não concorda. “Acho que a maioria dos jovens não assistiria a um debate de uma hora.” “Só se tivesse intervalo”, atira Teresa em tom de troça.

Estratégias, linguagem e Rui Tavares

Ana Eliz veio do Brasil para Portugal aos 14 anos. O sistema político no Brasil incomoda-a, especialmente pelo sistema presidencialista. ”Sempre admirei na política europeia o facto de ser parlamentarista”, diz a jovem estudante de Ciência Política e Relações Internacionais. Está em processo de obter a cidadania portuguesa, só para o ano é que pode votar. 

“O que mais falta em Portugal é o que há demais no Brasil: marketing de campanha”, observa. Para além disso, Ana destaca o papel dos moderadores de debates que, no seu entender, devem ser mais interventivos e com maior moderação. Um exemplo disso foi o debate entre Mariana Mortágua e Luís Montenegro. “Foi a prova de que não há uma estrutura de debate implementada”, defende a jovem, sublinhando que “um teve quatro minutos a mais”. 

A jovem apaixonada por filosofia, destaca que a falácia do ad hominem é demasiado utilizada e que os moderadores devem intervir quando ocorre. Ana explica que tal falácia surge quando alguém ataca o autor de uma frase e não o conteúdo da mesma. 

É aqui que Teresa volta a intervir. A menção de filosofia de Ana fê-la recordar algumas expressões que têm vindo a ser utilizadas em debates, nomeadamente ‘fezada’ ou ‘beijinhos’. “Onde está a postura política? Não estamos numa tasca”, questiona em tom indignado a jovem de 22 anos. Rodrigo concorda: “Nós estamos no ambiente para usar essas palavras, eles não”. Rodrigo reconhece no discurso e linguagem de André Ventura uma estratégia para “acabar viral nas redes sociais”. 

Então que figura tem uma linguagem política mais correta para estes jovens? Em uníssono, neste lado da mesa, onde se sentam os mais novos do grupo, ouve-se o nome de Rui Tavares. “Se pudesse, ia beber um café com ele ou até pagar para ouvi-lo numa palestra”, acrescenta Teresa, afirmando que o líder do Livre a faz lembrar os políticos do antigamente. 

Tanto Teresa, como Ana, gostariam de sentir mais respeito entre os líderes dos partidos durante os debates eleitorais. Para Rodrigo, “ambos perderam o respeito um pelo outro”.

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