"Já não é cool ser de um partido", mas há segredos para mobilizar os jovens

8 fev, 18:00
Jovens

As novas gerações decidem com base em causas e têm várias identidades. E "estão cada vez menos dispostos a carregar bandeiras velhas”

Rita Costa Lima, de 26 anos, gosta de política e assume que se identifica mais com a direita liberal, mas não quer associar-se a um partido definitivamente. Até porque, conta, as suas ideias, se “alteram constantemente”. Uma postura que parece ser hoje em dia comum nas gerações mais novas. Segundo o politólogo José Filipe Pinto, os jovens millennials e da geração Z não têm necessariamente uma identificação a 100% à direita ou à esquerda. “Interessam-se por causas concretas, umas de uns partidos, outras de outros. Não se revêem por inteiro num programa”, diz, explicando que é por isso que não deixam tão claro de que estrutura partidária são, como sucedia antigamente, em que até “vestiam a camisola” pelo partido.

O especialista em Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, João Pacheco, concorda e sublinha que “as estruturas das juventudes partidárias deixaram de ser uma ideia tão jovem”. E explica:. “Começaram a ser vistas como estruturas de jovens a segurar a bandeira, de um jogo cansado e muito jogado”. Daí, considera que pertencer a uma juventude partidária “já não é tão atrativo”.

“Já não é ‘cool’ ser de um partido, como era no tempo dos nossos pais”, garante mesmo Rita Costa Lima, que confirma que entre os jovens que conhece são poucos os que “os que vestem a camisola por um partido” - assumindo que ela também não o faz. 

João Dias tem apenas 18 anos e assume que se sente uma exceção no seu círculo de amigos. É militante do PS e um entusiasta da política, mas admite que representa a sua geração. “Para alguns dos meus amigos não é assim tão ‘cool’”. Aliás, Rita e João estiveram a assistir a um debate político com outros jovens, numa iniciativa lançada pela CNN Portugal, e garantem que atualmente é mais difícil ver jovens interessados e ligados à política e aos partidos.

Entre as muitas causas deste afastamento está, indica Rita, “a falta de tato para com a juventude”. Além disso, exemplifica a jovem a política usa uma “linguagem distante”. “A política é uma coisa séria, mas deve ser desmistificada e direcionada para nós jovens com outra linguagem”.

"Há cada vez menos filiados"

A explicação para este fenómeno da difícil relação entre jovens e política não é simples, mas o politólogo e investigador José Filipe Pinto acredita que os partidos têm grande responsabilidade ao “não perceberem que houve uma mudança de identidade entre os jovens".  Ou seja, acrescenta, há que ter em conta que se passou por uma “evolução sociológica da geração, em que os jovens passaram a sentir uma multiplicidade de pertenças”. O que acaba por dificultar a proximidade. O especialista João Pacheco, por seu lado, diz que a contribuir para esse cenário de afastamento está -o facto de os jovens serem “falados como um bloco”. “Por isso, não se sentem incluídos ou abrangidos”, avisa. 

Isto é, nota José Filipe Pinto, o que mudou foi exatamente o “sentimento de pertença”.   E essa tendência está a levar a que os partidos tenham “cada vez menos filiados”, frisa ainda o investigador em Ciência Política e também sociólogo, explicando que “ser filiado é ter um vínculo com o partido” - algo que os jovens millennials e da geração Z têm dificuldade em aceitar - precisamente, por terem, “várias identidades”. “Filiar num partido implica uma adesão total à ideologia do partido”.

Hoje os jovens “decidem mais em função de causas, do que por ideologias”, diz o politólogo, para quem os partidos tradicionais têm muito para aprender com os mais recentes: “Os novos partidos esbatem o elemento ideológico e estão mais propensos a ancorar as preocupações de um determinado momento”. É assim que agarram os jovens, argumenta. E isso resulta do facto das novas gerações terem “centros de interesse momentâneos”, o que leva a que mesmo que defendam uma causa, “não fazem dela o centro de interesse”.

Está tudo relacionado, conclui o investigador, com uma característica particular desta geração que é a de ser marcada pelo “agorismo”: “Para a juventude a política é momentânea, os seus centros de interesse variam de acordo com os ambientes em que se inserem”, conta, falando de uma “plasticidade” desta geração que não se compromete.

“Há um preconceito de que os partidos são algo gasto”, afirma ainda João Pacheco, defendendo que os jovens “estão cada vez menos dispostos a carregar bandeiras velhas”. Contudo, para José Filipe Pinto, é “redutor” dizer que os jovens não se interessam pura a simplesmente pela política. “Os partidos tradicionais é que não os conseguem mobilizar”.

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