Pedro Nuno Santos vs. Rui Rocha: o que se passou visto de outra maneira. De 15 outras maneiras
“O que é que se está a passar aqui?”, está a passar-se Pedro Nuno Santos contra Rui Rocha, está a passar-se no estúdio da TV que o transmite mas está a passar-se também na tela de uma esplanada na Avenida da Liberdade, Lisboa, é uma daquelas telas que costumam passar futebol, 11 contra 11, "o que é que se está a passar aqui?", está a passar-se PS vs. Iniciativa Liberal, 1 contra 1. É mais próximo do ténis, bola lá bola cá sem falarem um por cima do outro, que do futebol.
"Mas o que é que se está a passar aqui?", está a passar-se que a CNN juntou gente entre os 18 e os 30 anos, 15 jovens com mais ou menos ligações partidárias, esquerda e direita, "o que é que se está a passar aqui?", perguntam clientes e perguntam os empregados, está passar-se divergências e convergências entre os jovens ali reunidos e por isso os demais clientes fazem como a CNN Portugal, testemunham em direto como os jovens sentem a política, o que dizem dela e como a avaliam enquanto a política se debate na TV. E como se desiludem e entusiasmam com ela, a política.
“Agora que o Rui Rocha tirou os óculos veio o Carlos com eles postos”, fala André, 30 anos, André é um dos 15, Carlos Paiva Raposo está sentado ali perto, Carlos é liberal, é coordenador do núcleo de Cascais da Iniciativa Liberal, Carlos tira os óculos, Carlos faz esse gesto em homenagem à nova imagem do adversário de Pedro Nuno Santos. O debate de 30 minutos "soube a pouco", não gostam do modelo, questionam a moderação - "demasiado interventiva", "foi tudo discutido de forma muito leve, quase blasé", "faltaram assuntos importantes", que assuntos?, a crise da habitação, os professores, o ambiente e medidas concretas direcionadas a eles, os jovens. Outros sentiram que foi um debate "preso em ideologias", onde "cada um deu os murros que tinha a dar", "um debate para fãs do PS e da Iniciativa Liberal e que não serviu para mudar a opinião de ninguém", não basta um político tirar os óculos para entrar pelos corações adentro.
"Não houve ninguém que se tivesse sobressaído", é André de novo, "mas contrariamente ao que muitas pessoas esperavam Pedro Nuno Santos não se saiu mal", é André outra vez e agora intervém Rita, Rita é mais nova, 26 anos, advogada, Rita esperava um Pedro Nuno "mais assertivo e impulsivo", não basta um político moderar-se para entrar pelos corações adentro. Entretanto Carolina intervém, gostou de Pedro Nuno, "acho que teve uma posição muito exímia e muito clara, fez bastante sentido ter vindo desta forma", Rita volta a discordar, "não ouvi propostas concretas, quem vem a um debate tem de apresentar medidas", Rita gostou mais de Rui Rocha, "identificou problemas concretos e apresentou soluções". Uma mesa ao lado intromete-se, é uma mesa que tem seis dos 15 jovens, "eu esperava mais dele", dele do Rui Rocha, "aliás, esperava mais da IL", fala Luísa, “foram precisos 20 minutos de debate para o Rui Rocha acordar", diz Luísa e entretanto Madalena, Madalena está ao lado de Luísa, Madalena também quer dizer, "o Rui Rocha é o pior líder partidário", Luísa ainda não acabou, "o Rui Rocha foi melhor a expor as suas ideias do que propriamente a debater".
Rui Rocha tentou abdicar dos óculos para projetar seja lá o que lhe disseram que ele iria projetar e isso foi tópico de conversa entre os 15, mas também foi tópico de conversa outra característica ótica, essa de Pedro Nuno Santos, a tonalidade das lentes valeu-lhe críticas, "Pedro Nuno Santos vê o país com uns óculos cor-de-rosa, descreve o estado de um país que nenhum português vê", argumenta Madalena, "as pessoas não sentem crescimento económico nenhum na sua vida real, não é palpável", acrescenta Madalena e Luísa também está chocada com isto, "temos vários problemas, vários serviços degradados: polícia, saúde, educação, desemprego, emigração, justiça", Luísa diz que Portugal é dos países mais atrasados da União Europeia, "falar de crescimento económico é ser o André Ventura da esquerda, é ser o Ventura do PS, é um desrespeito por todos os funcionários públicos deste país", Diogo intervém, está noutra mesa, intervém para defender o secretário-geral do Partido Socialista, "esteve muito bem a mostrar aquilo que não era exequível", Diogo Sereno é presidente da concelhia da Juventude Socialista de Tomar.
Há algo que os une a todos, que une os 15: queriam mais tempo, mais debate, mais habitação, "o tema veio demasiado tarde, teve pouco tempo", querem partidos mais próximos, mais íntimos deles, "é preciso os partidos irem às escolas, às universidades, estarem presentes nas redes sociais, comunicarem para nós", diz Rita, Carolina sente o mesmo e sente mais do que isso, sente que os partidos não comunicam devidamente para eles, eles os jovens, mas também não comunicam devidamente para ele, o avô dela, "se eu ligasse ao meu avô a perguntar se gostou do debate a resposta seria 'olha, não percebi grande coisa, falaram-se de muitos números mas de poucas coisas concretas'", Carolina, 22 anos, está prestes a tornar-se militante do Bloco de Esquerda, é a vez dela de provar se é capaz de falar uma linguagem que o avô entenda.