Pedro Nuno responde a "chantagem" de Montenegro: "O trabalho do PS não é suportar ou ser bengala do PSD. Isso não farei"

3 abr, 17:58

Não quis explicar porque não marcou presença na tomada de posse, mas vem agora vincar que será "oposição" a um Governo que se apresentou como sendo "da vitimização, da lamentação do queixume". Ainda assim, espera que a "humildade" prometida por Montenegro para o diálogo se materialize. Até agora, não houve sinais. Há margem para luz verde no orçamento retificativo com medidas de consenso. No que virá a seguir é "praticamente impossível"

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, reagiu esta quarta-feira ao repto lançado pelo novo primeiro-ministro, Luís Montenegro, considerando-o uma “chantagem”. E garantiu que o PS, enquanto maior partido da “oposição”, não irá suportar a governação social-democrata.

Pedro Nuno Santos mostrou-se disponível para negociar, mas avisa que luz verde só em matérias que reflitam as ideias e compromissos do próprio PS. “O PS não cede nem tem receios de chantagens nem que nos encostem”, sublinhou.

“Seremos oposição responsável, ponto final, não quer dizer mais do que isto mesmo. Defenderemos as nossas posições, aprovaremos aquilo com que concordamos, votaremos contra naquilo que discordamos, ponto final”, afirmou na sede do PS em Lisboa.

E continuou: “O PS perdeu as eleições, está na oposição e fará o seu trabalho na oposição. Com a certeza de que o seu trabalho não é suportar ou ser bengala do PSD. Isso era inaceitável, incompreensível e não é isso que farei.”

(Lusa)

"Governo da vitimização, da lamentação, do queixume"

Pedro Nuno Santos começou por fazer uma análise ao discurso de Montenegro na tomada de posse, onde desafiou a oposição a decidir se quer ser “oposição democrática” ou “força de bloqueio”. O socialista classificou o primeiro discurso do novo primeiro-ministro como “sem ambição, sem visão, sem um desígnio para Portugal”.

Tratou-se, segundo o líder do PS, de um “discurso mais focado na oposição do que em Portugal”, que evidenciou não “um Governo de ação, que quer resolver problemas em Portugal”, mas antes um “Governo da vitimização”, “da lamentação, do queixume, de não deixarem trabalhar, de não deixarem fazer”.

Pedro Nuno deixou ainda um conselho a Montenegro: “Esperamos que o Governo não se coloque em becos sem saída. Isso sim seria criar situações de bloqueio.” Porque, daqui em diante, não é garantido que o PS vá funcionar como força de desbloqueio, como aconteceu por exemplo na eleição do Presidente da Assembleia da República, onde o PSD ficou “à espera que o PS venha resolver ou dar a maioria que o povo português resolveu não dar à AD”

“Não podem simplesmente, numa posição de arrogância, acharem que o PS está obrigado a suportar o seu Governo. Não está, não vai estar, não é esse o nosso papel, nem vai ser nunca o nosso papel”, resumiu.

Aprovar orçamentos? "É praticamente impossível, porque temos visões muito diferentes"

Pedro Nuno Santos quis também vincar a proximidade nos resultados entre PS e PSD, para confirmar o “compromisso firme do PS para defender o seu programa e o seu ideário”.

O papel do PS será de “oposição responsável”. “Se o ‘não é não’ de Luís Montenegro é para levar a sério, o que disse na noite eleitoral também é para levar a sério: o PS será oposição”, recordou.

O sucessor de António Costa lembrou a disponibilidade que já demonstrou para aprovar um orçamento retificativo “limitado às questões sobre as quais há consenso” entre os vários partidos. E lamentou não ter tido “nenhuma reação” de Montenegro nesta matéria.

“Esperamos sinceramente que esta vontade de diálogo, esta humildade que é invocada no discurso, seja vista na prática, aceitando as propostas que o PS faz”, reiterou.

Mas quanto ao Orçamento do Estado, avisou que “é praticamente impossível, porque temos visões muito diferentes”. Há “divergências de fundo”, mas “na especialidade haverá matérias nas quais concordamos”, admitiu.

Pedro Nuno Santos considerou ainda que o discurso de Montenegro, em que diz que “não há dinheiro”, é resultado não do excedente orçamental em si, mas antes “de uma campanha em que a AD prometeu tudo a todos”. “A pressão vem das promessas que a AD fez durante a campanha eleitoral”, insistiu.

(Lusa)

"Fugir ao ruído"

Pedro Nuno Santos foi questionado várias vezes sobre a sua ausência na cerimónia da tomada de posse no Palácio da Ajuda. O socialista respondeu sempre do mesmo modo: “Não pude estar presente.” E recusou dar mais explicações. Insistiu que o partido se fez representar por Alexandra Leitão, que não fez quaisquer declarações.

A CNN Portugal já tinha antecipado que Pedro Nuno Santos reagiria esta quarta-feira às palavras de Luís Montenegro, depois de ter optado por “fugir ao ruído” gerado com a cerimónia, bem como numa estratégia de demarcação face a André Ventura e ao Chega, que têm disputado o lugar de líder de oposição.

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