Pedro Nuno clarificou, agora Montenegro só tem uma forma de sair por cima: imitando António Costa. Estes são os cenários para uma morte anunciada do Governo que o PSD idealizou

3 abr, 22:00

Pedro Nuno Santos respondeu à "chantagem" de Montenegro e do seu Governo de "vitimização, lamentação, queixume": o PS não vai ser "muleta", só vai poder contar com os socialistas para aprovar medidas que interessem ao próprio PS. Isso implica aprovar orçamentos? "É praticamente impossível, porque temos visões muito diferentes", antecipou

Significa isto uma morte anunciada para o executivo de Luís Montenegro? Os politólogos dizem que não é assim tão linear. Há vários cenários que se podem desenhar a partir de outubro, com um chumbo do Orçamento do Estado. Só num, o terceiro, é que Montenegro fica a ganhar: se imitar António Costa.

Até lá, dar luz verde ao orçamento retificativo, como já admitiu o secretário-geral do PS, desde que o documento integre medidas de consenso, “serve sobretudo os objetivos táticos do PS”, diz o politólogo João Pacheco. Para “mostrar que é um partido colaborante, responsável”, ter um argumento sólido para quando, mais à frente, a verdadeira crise se instalar.

“Pedro Nuno Santos fá-lo para depois cobrar à AD”, aponta João Pacheco. Ou seja, para tentar ter no OE2025 a “moeda de troca”, as medidas que verdadeiramente lhe importam. Ou para, em última instância, reconquistar votos pelo sentido de responsabilidade se for preciso ir às urnas mais cedo, “alegando que respondeu às necessidades mais prementes”.

Os politólogos ouvidos pela CNN Portugal admitem que o discurso de Pedro Nuno Santos tem sido claro e sólido. Ao contrário de Montenegro que, considera João Pacheco, “vai experimentando”. “Põe o açúcar e o sal na mesma medida. Significa que está a experimentar narrativas. Demonstra que não sabe o que esperar da oposição”, explica.

Também o politólogo Bruno Ferreira Costa identifica no primeiro discurso de Montenegro “uma falha estrutural”: “Parece que dá uma visão de que há um mandato pleno para aplicar um Programa de Governo.”

Pedro Nuno Santos, indica, com a sua ausência no Palácio da Ajuda criou “um facto político” e deu “um claro sinal” de que, apesar de já ter dado a mão ao PSD, por exemplo na eleição do Presidente da Assembleia da República, não quer uma “excessiva proximidade” com o Governo. Agora, veio “identificar discordâncias ao nível das políticas, princípios e prioridades”.

(Lusa)

Cenário 1: PS atira Montenegro para Chega

“É normal que este PS queira assinalar as diferenças. Mas, se não houver um caminho de aproximação ao nível das políticas dos dois partidos, é natural que haja um momento de rejeição”, aponta Bruno Ferreira Costa.

Sem o PS, Montenegro poderá ter de virar-se para o Chega, dizem os especialistas, cedendo no ‘não é não’, argumentando que o maior partido da oposição foi irresponsável e que, desse jeito, para garantir o bem do país, não resta outra alternativa que não seja tentar essa via chamada Chega.

“Pode ser o afunilar do caminho da AD para negociar com o Chega, ser o argumento que a AD precisa para negociar com o Chega”, traça João Pacheco.

Cenário 2: PS faz Montenegro virar à esquerda

Pedro Nuno Santos tem dito que está disposto a aprovar medidas que respeitem o ADN socialista. Acenou até com a possibilidade de deixar passar o orçamento retificativo, se ele refletir questões de consenso.

Mas depois disso, se Montenegro quiser continuar a honrar o ‘não é não’, tem de ceder ao PS. É um caminho que satisfaz sobretudo os socialistas, porque vincam o seu papel de “oposição colaborante” e veem passar adiante as suas medidas. Tem é um problema: para dar cobertura a este parceiro, Montenegro teria de ceder nos próprios valores, virar mais à esquerda, abdicando do seu desejo de mudança.

“O PS tem interesse que este Governo leve o tempo suficiente para reconstruir a sua relação de confiança com os eleitores”, diz João Pacheco.

(Lusa)

Cenário 3: Montenegro vira Costa

Quando a geringonça se desfez, a esquerda chumbou o Orçamento do Estado, António Costa foi a eleições e saiu de lá com maioria absoluta. É um cenário que também Montenegro pode replicar, dizem os especialistas.

“Se encerrou o diálogo com o Chega e com o PS, é a porta a fechar-se”, diz Bruno Ferreira Costa. Mas, enquanto a porta se for fechando, Montenegro vai “dramatizando, colocando o ónus na oposição”, destacando sobretudo “medidas ou apoios sociais que incidem diretamente sobre setores da sociedade que têm reivindicado bastante”.

Em resumo, Montenegro diria assim: queríamos fazer, eles não deixaram, deem-nos a força necessária para executar estas medidas que tanto importam para a vossa vida. “É esvaziar o Chega e o PS com o argumento da irresponsabilidade”, resume o politólogo.

Cenário 4: Marcelo não quer ficar com a fama e acaba tudo em duodécimos

O cenário acima só teria efeitos se Marcelo Rebelo de Sousa decidisse dissolver a Assembleia. Mas, diz Bruno Ferreira Costa, na tomada de posse avisou que o tempo é "muito curto" para cumprir o que "foi prometido em campanha". Mas se não quiser ficar com o título de Presidente da República que mais ativa a chamada “bomba atómica” que alternativa resta? “Deixar um Governo em duodécimos.”

Este cenário prejudicaria o próprio Montenegro, concordam os politólogos, que não seria capaz de levar adiante o projeto de transformação que fixou para o país. “Esta ideia das reformas estruturais está muito patente no discurso, mas fica a faltar a indicação de como implementar sem diálogo à esquerda ou à direita”, adverte o politólogo.

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