Marcelo avisa Montenegro para "tempo muito curto" para cumprir "o que foi prometido em campanha"

2 abr, 19:49

No primeiro discurso do Presidente da República ao novo primeiro-ministro, Marcelo Rebelo de Sousa pediu a Luís Montenegro que mantenha a credibilidade política e financeira de Portugal, e pediu-lhe que "não crie problemas onde eles não existem"

Luís Montenegro tinha acabado de tomar posse como novo primeiro-ministro de Portugal e já Marcelo Rebelo de Sousa o confrontava com o seu caderno de encargos definido durante a campanha eleitoral. O tempo, afirmou o Presidente, “é muito longo em teoria, porque são quatro anos”, mas “na prática para o que é muito urgente e para o que foi prometido em campanha é muito curto”.

O tempo “é muito curto”, prosseguiu Marcelo, para tornar realidade os compromissos para executar o plano de emergência para a saúde, prometido para os próximos 60 dias e que não deve “esquecer a estabilização do modelo de gestão do SNS”. As recomendações estendem-se também ao setor da habitação: “a maior abertura ao privado e social", deve ter "em atenção as classes médias, sem esquecer os que necessitarão sempre de habitação de iniciativa pública”. 

Em contrarrelógio, avisou Marcelo, é também necessário atingir a “pacificação dos anos letivos, em especial na escola pública, sem esquecer os professores”, decidir a localização do novo aeroporto, a solução da TAP, a contínua aposta na ferrovia, “a mais visível eficácia da entidade da transparência no combate à corrupção”. Outra urgência, sublinhou o Presidente da República, é a valorização do estatuto militar e o “fim da discriminação entre as várias seguranças”.

Na primeira mensagem dirigida ao novo chefe de Governo, Marcelo pediu também que Montenegro mantenha a credibilidade política e financeira de Portugal, avisando que o seu Executivo não deve criar entraves onde eles não existem. “Onde não temos problemas não os devemos criar”, disse, apontando para consenso “em mais crescimento, investimentos e exportações, no rigor das contas públicas e no controlo da dívida externa”.

Sublinhando que o cenário internacional “não ajuda” e que “a governação económica e social interna pode ajudar”, Marcelo disse não acreditar que seja impossível, mas “será muito difícil, certamente”. Para além da economia e do tempo, há ainda outras duas razões por trás da complexidade do próximo mandato, observou.

Por um lado, "o mundo está pior em 2024 do que em 2023 e isso pode piorar, dependendo da influência das eleições dos EUA nas guerras”. O que Portugal pode fazer, afirmou o Presidente da República é “ter bom senso de fazer na Europa e no mundo o que resolva problemas e não os agrave". 

Por outro, referiu, a base de apoio político em que governará Montenegro vai exigir dele um diálogo “mais aturado e muito mais exigente”. “Para decisões como reformas estruturais ou OE, essa exigência é ainda de mais largo fôlego”, acrescentou, garantindo que terá “o apoio solidário e cooperante do Presidente da República, que aliás nunca o regateou ao seu antecessor”.

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