Terminou um ciclo, a Era Costa. E, com esse fim, há vidas que se alteram. Ou que, pelo menos, voltam ao ponto onde estavam antes da aventura que foi governar. Desafiámos os ex-ministros a contar como vai ser este primeiro dia sem um gabinete cheio de decisões para tomar
António Costa foi o primeiro a dar o sinal de uma vida nova. O agora ex-primeiro-ministro voltou à faculdade, para uma pós-graduação. Está a estudar Contencioso Contratual, Mediação e Arbitragem na Universidade Católica. Há quem tenha visto nessa formação o primeiro passo para um percurso em Bruxelas.
Contudo, a partir desta quarta-feira, há muitas vidas socialistas que mudam. A CNN Portugal contactou vários ministros socialistas. Alguns acederam a revelar os planos daqui em diante.
Nesta quarta-feira de manhã, Manuel Pizarro, o último titular da Saúde, vai ao Parlamento “cumprir os procedimentos de acolhimento. Ontem esteve a tratar do passe, para poder ir de metro para o novo trabalho como deputado. Mas depois da Assembleia da República, para hoje, há mais planos: “ver a exposição das fotografias de Maria Lamas na Gulbenkian”.
Também José Luís Carneiro, ex-ministro da Administração Interna, vai aproveitar este primeiro dia sem funções governativas para “tratar das declarações relativas ao registo de interesses na Assembleia da República” e “preparar as condições de trabalho no Parlamento”.
O ex-ministro antecipa também como outros passarão hoje pela experiência de se habituar a um novo gabinete como ministros. “Cada um tem o seu método de trabalho, mas, no meu caso, no primeiro dia procurei ver o que estava na pasta de transição e fui apresentar-me aos funcionários da secretaria-geral do Ministério”.
“Vou tirar a minha vida do estado ‘suspensa’, em que está há oito anos”. Ainda assim, Ana Mendes Godinho, ex-ministra do Trabalho, vai ter de acordar cedo. Não por causa dela, mas do filho, que tem de levar às 07:00 ao aeroporto “porque vai fazer voluntariado para Cabo Verde”.
Ana Mendes Godinho, que esteve na governação socialista desde o primeiro dia, primeiro como secretária de Estado do Turismo, depois como ministra, passa agora a deputada. Vai criar um email para que as pessoas possam enviar propostas “para esta nova missão”. Mas tem muitos planos para ocupar os dias: “ler, estar com os meus filhos e amigos”.
À sucessora, traça o cenário do que vai encontrar: “terá uma chuva de emails, telefonemas e mensagens com convites e pedidos de reuniões”. Há quatro anos, começou o mandato “conhecendo todas as pessoas” que trabalhavam no Ministério. Agora, deixou “preparada uma pasta de transição” e um “manual de acolhimento”.
Depois de ter tratado do regresso à faculdade e de ter ido à tomada de posse, Pedro Adão e Silva, ex-ministro da Cultura, dedicou o resto da noite ao Benfica-Sporting. Mas hoje, os planos são longe da capital: “vou fazer surf para a costa alentejana”.
Quem também volta à faculdade hoje é João Costa, ex-ministro da Educação. O plano para este novo ciclo, diz, “não é nada de especial”. Antes de entrar no Governo, em 2015, estava à frente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Na agenda estão já várias exposições: "as exposições da Maria Lamas e do Gageiro não vão falhar nos primeiros dias".
Elvira Fortunato, cientista que se estreou em funções governamentais no último governo, reconhece que “nestes dois anos a minha vida ficou um bocadinho desorganizada”. Por isso, estes primeiros tempos vão ser para descansar, para se organizar. “Depois vou continuar na investigação. É lógico que vou regressar à Universidade Nova de Lisboa, que é a minha casa profissional”.
