"Vamos agarrar-nos a isso". Pedro Nuno vê futuro numa nova geringonça mas esbarra nos custos de Raimundo

17 fev, 21:30

Secretários-gerais de PS e PCP encontraram-se num debate que começou e acabou com elogios e lembranças do passado. Pelo meio só divergências

Pedro Nuno Santos deseja "o melhor ao PCP, Bloco de Esquerda e Livre", mas tem outro foco que os outrora parceiros de entendimento não têm. Depois de ter dado uma nega a Mariana Mortágua, o secretário-geral do PS alinhou pelo mesmo discurso no debate com o secretário-geral do PCP, transmitido pela SIC.

É que, mesmo desejando o melhor aos partidos à sua esquerda, o socialista entende que o melhor é mesmo o voto no PS. Só esse voto garante a "estabilidade" que o candidato entende que o país precisa.

“Temos melhores condições para oferecer estabilidade ao país mesmo podendo trabalhar com partidos com quem já trabalhámos entre 2015 e 2019 havendo avanços muito importantes”, disse, prometendo lutar "pelo melhor resultado possível para derrotar a direita e a AD, que é o principal adversário".

Já Paulo Raimundo pediu que os portugueses não esqueçam as condições que levaram à maioria absoluta do PS nas últimas legislativas. Houve, sublinhou, uma "chantagem e pressão feita há dois anos pelo PS" e o eleitorado "deitou-se com a ideia de um contributo e acordou com uma maioria absoluta".

"Se alguém quer uma mudança para o País nas questões de fundo, é um voto necessário na CDU. Se há alguém com experiência acumulada é o meu partido e é a maior garantia ao combate à direita", respondeu, entrando num discurso que facilmente liga os dois candidatos. Há uma luz ao fundo do túnel que os liga: a derrota da direita.

Mas o namoro não foi muito longe. Juntos no objetivo de não deixar a direita chegar ao poder, dificilmente se entendem noutras matérias. Os salários, previsivelmente, é uma delas.

Pedro Nuno Santos acenou com a bandeira da agenda do trabalho digno, dizendo que a mesma "só teve avanços e infelizmente não pôde contribuir com voto do PCP porque não estavam lá algumas medidas defendidas pelo PCP". "Foi um avanço laboral que o PCP quis estar contra", acusou.

"Apesar de o PCP ser um partido coerente, é incoerente nesse discurso quando diz que tudo o que é no sentido positivo votamos a favor. Não aconteceu", reiterou.

Mas as acusações vão mais longe, nomeadamente nos custos que as promessas "não pagáveis" da CDU teriam no Estado. O secretário-geral do PS afirmou que a vontade do PCP em querer aumentar salários em 15% representa três mil milhões de euros de despesa contínua. "Falta fazermos um debate sobre como se dinamiza e sofistica a economia portuguesa, que é na diversificação da economia", apontou.

Pedro Nuno Santos acrescentou ainda que, enquanto a direita quer um "corte transversal e cego do IRC", "nós temos uma estratégia que implica que o País tenha capacidade de fazer o que outras economias liberais fazem", nomeadamente "selecionar setores com maior capacidade de arrastamento e concentrar recursos públicos naquilo que pode ter consequências de transformação da economia".

Talvez aproveitando a invocação liberal, Paulo Raimundo comparou o secretário-geral do PS ao presidente da Iniciativa Liberal. Disse o comunista que a reação de Pedro Nuno Santos o fez lembrar a de Rui Rocha no debate anterior. "Pedro Nuno Santos, quando vem criticar a nossa proposta, utiliza o mesmo método que utilizou Rui Rocha no debate que tive com ele, que é perguntar como é que se paga".

"Quando nós não temos vontade para as medidas, a primeira coisa que se pergunta é quanto custa". "Ninguém nos perguntou se havia 20 mil milhões para pôr no buraco na banca, foi-se buscar a algum sítio", acusou.

E foi aí que surgiram as "promessas não pagáveis". Em concreto três propostas do PCP que Pedro Nuno Santos disse representarem um aumento de despesa de sete mil milhões de euros. "É muito importante nós conseguirmos dar resposta aos problemas do País, mas com a capacidade financeira e económica que o País tem", sublinhou, lembrando quão importante é para o PS "continuar a reduzir a dívida pública".

"Nós não podemos fazer uma chuva de promessas que não são pagáveis e não são realizáveis, porque isso não é correto, até do ponto de vista democrático de relação do povo", reiterou.

Puxando o filme atrás, o PS não quer mesmo colocar um biombo com a CDU. Não há coligações ou conversas pré-eleitorais, mas os deputados da coligação esquerdista podem vir a ser importantes. Talvez por isso Pedro Nuno Santos lembrou a geringonça, um projeto que disse ter conseguido "mostrar que era possível fazer diferente do que a direita tinha feito". "Vamos agarrar-nos a isso! Mas com sentido de responsabilidade", apelou.

Paulo Raimundo salientou, no entanto, que essa solução apenas foi possível porque o PCP e as estruturas sindicais tiveram um papel determinante. "Acho excessivo", comentou o líder do PS.

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