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Coordenadora Digital CNN Portugal

O Combate dos Chefes (Dia 4): o Zé Albino precisa de afetos

20 jan 2022, 10:00
Rui Rio e António Costa no quarto dia de campanha.

Onde há muita gente, é difícil não aparecer Marcelo. O humor de Rio continua e usa um animal para miar ao PAN. Costa prefere morangos, mas distribui fruta com o IRS

Nada é tão certo neste mundo como a morte, os impostos e a omnipresença de Marcelo Rebelo de Sousa. Com o PSD de ajuntamento em ajuntamento, Rui Rio lançou a relação do Presidente com o primeiro-ministro para o combate. É “uma coisa curiosa”, acha Rio, “que António Costa diga que podem confiar na maioria absoluta do PS porque temos o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa”. Rio quer ter piada, mas memória é que decerto não lhe falha. Desde aquele encontro de Marcelo com Paulo Rangel em Belém que teria esta guardada.

Costa foi o primeiro a pedir maioria absoluta e o primeiro a chamar Marcelo para a vigiar, e Rio pergunta: será que o socialista “tem mais confiança” neste Presidente do que em Soares, Sampaio, ou Cavaco? Costa não sei, mas Rio não parece mesmo: “Não é uma questão de Presidente da República, mas de os portugueses quererem ou não dar uma maioria absoluta”. Também é preciso ter azar: com tantos portugueses a terem votado no candidato apoiado pelo PSD a Belém, que o secretário-geral do PS até possa ter sido um deles.

Para quebrar o gelo, Costa vestiu a samarra e voltou ao IRS. Em terras que conquistou à CDU, a cassete continuou a mesma: Rio só admite descer impostos às pessoas “lá para 2025 ou 2026”, enquanto ao PS basta aprovar o Orçamento para ser já. Escrevo basta porque aquele enorme calhamaço passará certamente despercebido na Assembleia da República. Nem estou a ver alguém que já lhe tenha cortado as pernas.

Sobre Presidentes nada, mas Costa insiste que a maioria absoluta não é “um papão”. “Toda a gente sabe que sou uma pessoa de consensos, de compromisso e de diálogo”. Só quando Rui Rio propõe acordos é que a coisa se complica. O que será que falta ao presidente do PSD? Se fosse ao debate em Lisboa, Costa podia explicar-lhe como fez na Câmara: “Não foi pelo facto de ter maioria absoluta que deixei de dialogar com todos.” A conversa está boa, mas já soa a blá, blá, blá.

Ou talvez seja miau, miau. O Zé Albino voltou ao Twitter e o gato de Rui Rio está “desolado” com esta “aproximação” do PAN ao PS. Serão ciúmes, ou necessidade de afetos? Conheço um Presidente que gosta de os dar. É certo que Inês Sousa Real e António Costa andam a ronronar um ao outro, mas isso até já valeu uns arranhões no PS.

Manuel Alegre tinha escrito que não compreende “como é possível o PS colocar-se na eventual dependência do PAN”, Costa garantiu ontem que só depende dos portugueses e “de mais ninguém”. Diálogo sim, mas “sem ceder” em “valores essenciais”. Foi o que nos trouxe a esta campanha eleitoral, aliás. Se nos tivéssemos ficado por consensos, compromisso e diálogo, talvez o calhamaço fosse outro.

No quarto dia de campanha, Costa falou de impostos, Rio trouxe Marcelo. O combate a dois mantém-se, há animais terceiros metidos ao barulho e a única morte dada como certa é a da geringonça.

Resultado acumulado da campanha: António Costa 2 – Rui Rio 4

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