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Coordenadora Digital CNN Portugal

O Combate dos Chefes (Dia 2): sai uma prisão perpétua para a mesa do centro

18 jan 2022, 10:15
António Costa e Rui Rio no segundo dia de campanha eleitoral. Fotos: Agência Lusa

Entre Costa e Rio, ninguém fica a falar sozinho. Hoje recuamos ao século XIX e à prisão perpétua, um assunto que a história explica. Se estes são o centro, imaginem os outros

O futuro de um país é uma questão recorrente para quem tem de conquistar votos: o que vai ser de Portugal? Quanto e como vamos crescer? O que será da vida dos nossos jovens, como trataremos os nossos idosos? Vamos aumentar salários? Descer impostos? O que vai ser, afinal, de todos nós?

No entanto, há algo no futuro que não o torna tão atrativo quanto o passado, sobretudo em campanha eleitoral. Deve ser de não nos lembrarmos muito bem deste, suponho. A história explica, como diz o primeiro-ministro, sem explicar. Por exemplo, como poderíamos contar a um comum português do século XIX que, em 2022, ao mesmo tempo que vivemos uma pandemia e mandamos bilionários passear ao espaço, um dos temas aparentemente essenciais seja uma pena abolida em 1884?

Gosto de pensar que, no próximo dia 30, cerca de zero eleitores vão às urnas para - depois de colocar gel desinfetante, pegar na caneta que levam de casa e bater na madeira três vezes para afastar o bicho – se questionar: “então, o que penso eu sobre a prisão perpétua?” Talvez esteja a ser otimista, mas também confesso não conhecer ninguém de 1884.

Felizmente, para nos esclarecer, e mesmo depois de debates gastos a aprofundar a tal pena do século XIX, António Costa voltou ao assunto. Queixou-se o socialista que a extrema-direita – spoiler alert: o Chega - está a “conseguir condicionar” os ditos “partidos tradicionais” – spoiler alert: o PSD -, levando este a “começar a achar” que a prisão perpétua “pode não ser bem uma prisão perpétua”.

Já começo é a achar que este tema vai durar para sempre. A não ser, como prometeu depois Rui Rio, que Costa fique “a falar sozinho” sobre “a ladainha” da prisão perpétua. Em solitária, portanto. Quem diria que ainda ontem andavam a trocar piadas e graçolasThat escalated quickly.

Disse o social-democrata que António Costa está “a tentar meter medo aos portugueses” com “o papão da direita” – spoiler alert: a vitória do PSD nas eleições e os apoios de que pode precisar para governar. Rui Rio sacou então de um Votómetro especial: o PSD “nem sequer é de direita”, “estou farto de dizer que é do centro”. Governar com acordo do Chega nos Açores ainda vá, mas essas coisas da extrema-direita nunca.

À medida que as eleições se aproximam, Costa e Rio vão-se acotovelando para guardar lugar à mesa. Ao centro, claro, porque o primeiro nunca governou com a esquerda e o segundo nunca governará com a direita. Quem não vir isto, só pode merecer prisão perpétua.

Resultado acumulado da campanha: António Costa 1 - Rui Rio 2

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