O Psicólogo Responde: Como lidar com a raiva?
Raiva

O Psicólogo Responde: Como lidar com a raiva?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Joana Amen
Psicóloga e membro da direção da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses

E se em vez de classificarmos as emoções como boas ou más, as víssemos como fontes preciosas de informação? E se aprendêssemos a ouvir o que a raiva nos diz? Tendemos a ver a raiva como algo mau quando efetivamente o problema não é esta emoção, mas sim o não saber lidar com ela. A maioria dos comportamentos violentos advêm da acumulação da raiva não reconhecida, logo, não devemos reprimir a raiva mas sim o comportamento agressivo.

Não saber gerir a raiva de forma segura poderá ser indicador da existência de problemas de saúde psicológica. Pode levar à depressão, ansiedade, alterações do sono, perturbações alimentares, comportamentos compulsivos ou aditivos e até doenças físicas. Nas crianças e jovens, a dificuldade em gerir as emoções pode afetar a forma como se desenvolvem, aprendem, interagem com os outros e lidam com eles próprios.

Assim, estar zangado ou sentir raiva não é um problema, mas a forma como gerimos as emoções poderá ser. Quando não expressamos a raiva ou o fazemos de forma e em momentos desadequados podemos prejudicar-nos e às pessoas à nossa volta, por isso falamos em aprender a regular/gerir as emoções e não em evitar ou substituí-las.

Gerir as emoções passa por compreender, reconhecer e saber expressar o que sentimos, processos fundamentais no desenvolvimento da “famosa” inteligência emocional, que nos permite também saber lidar com as emoções dos outros. Com as crianças e jovens é tão importante ajudá-los a compreender e validar o que sentem, como fornecer e modelar estratégias de gestão emocional - já que aprendem bem mais pelo que vêem do que pelo que ouvem.

Sugestões

  1. O método R.A.I.N. serve para sairmos da reatividade e não para nos libertar das sensações desafiantes. Consiste em começar por reconhecer a emoção (raiva, neste caso), aceitar e permitir o que estamos a sentir (sem repelir, ignorar ou julgar a reação emocional), investigar observando as sensações corporais e os pensamentos associados (o que estou a sentir? onde é que isto está no meu corpo? como está a minha respiração?), não identificação com a experiência (quando nos tornamos no observador-curioso das nossas emoções criamos um distanciamento que permite atenuar a sensação que nos desafia).
     
  2. Semelhante à anterior, a técnica P.A.U.S.A. é ligeiramente mais simples e acessível às crianças e jovens. Pare e observe o que está a sentir, aceite e reconheça a emoção, una-se com a respiração – colocando o foco no processo de inspiração e expiração, avance quando estiver mais calmo e tiver compreendido porque se sentiu assim.
     
  3. A raiva é uma emoção básica e importa saber que as emoções são sempre passageiras e mensageiras. Frequentemente não as "ouvimos" e passamos da emoção à ação num ápice. Assim, é necessário aprender a criar um espaço entre a emoção e a reação e a respiração das melhores ferramentas que temos, além de estar sempre acessível.
     
  4. A raiva e a irritação surgem de expetativas frustradas. Ao identificar que está a senti-las procure perceber que necessidades insatisfeitas estão por detrás destas emoções. É capaz de se responsabilizar pela satisfação das suas necessidades? Ou está a atribuir aos outros esta tarefa? Auto-responsabilize-se pelos seus sentimentos e desresponsabilize-se pelos sentimentos dos outros, pois não lhe pertencem.
     
  5. Para uma criança aprender a gerir as suas emoções é importante sentir-se segura e ouvida quando as exprime. Diga-lhe que se preocupa com ela, recordando-a que não é dela quem não gosta, mas sim do comportamento desadequado que teve. De seguida, faça sugestões sobre como expressar o que está a sentir. Estimular que ela o faça é fundamental para que saiba lidar com o que sente e consequentemente se desenvolva de forma saudável. Embora seja possível, e por vezes até recomendável, ignorar comportamentos pouco adequados, o comportamento agressivo nunca deve ser ignorado. Tente ser modelo de um comportamento calmo e não violento, mostrando quando está a gerir as suas emoções. Revele que existem formas adequadas de expressar emoções fortes e negativas, como respirar lentamente até desacelerar o batimento cardíaco, contar de 20 até zero ou sair do local onde está para criar um espaço de reflexão e distanciamento.
     
  6. Quando sofre com a forma como está a lidar com as suas emoções, quando não está a conseguir orientar o(a) seu(a) filho(a) para a alteração de comportamentos que o(a) estão a prejudicar, procure um(a) psicólogo(a). Cuide de si e dos outros.

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