Sim, pode comer para ter um coração saudável

CNN , Sandee LaMotte
6 mai 2023, 17:00
Dieta Vegetariana (foto: V. Shes/ Unsplash)

A doença cardíaca é a principal causa de morte de homens e mulheres em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, mas existem formas de reduzir significativamente o seu risco.

Juntamente com exercício regular e não fumar, uma dieta saudável é fundamental para manter as doenças cardíacas sob controlo. Mas qual é a dieta que melhor satisfaz as diretrizes dietéticas da AHA - American Heart Association [Associação Americana do Coração]?

Numa nova declaração científica, os principais especialistas em nutrição classificaram 10 dietas populares de acordo com a sua capacidade de cumprir as orientações dietéticas baseadas em evidências da AHA para a saúde do coração, publicadas em 2021.

O vencedor? A dieta DASH, que estava 100% alinhada com os objetivos da AHA para uma alimentação saudável para o coração. DASH [Dietary Approaches to Stop Hypertension] significa abordagens dietéticas para parar a hipertensão; a pressão arterial elevada é um dos principais contribuintes para doenças cardíacas e AVC.

A dieta piscitariana, que permite o consumo de produtos lácteos, ovos, peixe e outros mariscos, mas não de carne ou aves, estava 92% alinhada com as diretrizes da AHA. A dieta ovolactovegetariana, que permite a ingestão de lacticínios e ovos, e as variações que incluem um ou outro, estava alinhada em 86%.

A premiada dieta mediterrânica estava 89% alinhada com as recomendações dietéticas da AHA. A popular dieta ficou em terceiro lugar principalmente porque recomenda um copo de vinho tinto por dia e não limita o sal, explicou o autor principal Christopher Gardner, professor de medicina no Stanford Prevention Research Center, na Califórnia, onde dirige o grupo de pesquisa de estudos nutricionais.

"A Associação Americana do Coração diz que ninguém deve beber álcool se não tiver começado", esclareceu Gardner. "E se beberem, que o façam minimamente."

A investigação associou a dieta mediterrânica à redução do risco de diabetes, colesterol elevado, demência, perda de memória, depressão e cancro da mama, bem como à perda de peso, ossos mais fortes, um coração mais saudável e uma vida mais longa.

Mas todas estas dietas têm tanto em comum que podem ser agrupadas como um "nível" superior de padrões alimentares, sublinhou Gardner.

"Basicamente, estamos a dizer que uma dieta não tem de ser 100 para ser boa", esclareceu. "Todas as dietas no nível superior têm por base vegetais e se eles estão um pouco fora da base não é algo difícil de corrigir. Paleo e Keto [dietas paleolítica e cetogénica, respetivamente], no entanto, não podem ser corrigidas. Teríamos de reformulá-las por completo."

As dietas muito pobres em hidratos de carbono, como a Atkins, e outras dietas cetogénicas, como a WFKD [Well-Formulated Ketogenic Diet], encontravam-se no nível inferior dos padrões alimentares saudáveis para o coração, devido à sua ênfase na carne vermelha, nos lacticínios e nas gorduras saturadas, bem como na ingestão limitada de frutas e vegetais.

Uma dieta vegana que incorporasse mais de 10% de gordura e dietas com baixo teor de gordura, como a volumétrica, estavam no segundo nível - ambas cumpriam 78% das diretrizes dietéticas da AHA.

As dietas com muito baixo teor de gordura, menos de 10%, que se aplicam a alguns estilos de vida veganos (72%), e as dietas com baixo teor de hidratos de carbono, como a South Beach, a Zone e a de baixo índice glicémico (64%), estavam menos alinhadas e constituíam o terceiro grupo de dietas.

Destinado aos médicos

Embora as pessoas preocupadas com a saúde do coração possam e devam usar a nova classificação da AHA das 10 dietas, a declaração científica foi escrita para os médicos, observou Gardner. O objetivo é atualizar os médicos, uma vez que a nutrição não é considerada uma prioridade na faculdade de medicina.

"É uma cábula para os médicos", disse Gardner. "Quando eles perguntam sobre dieta - o que eu acho que não é frequente - e um paciente diz: 'Ah, sim, eu sou paleo. Sou vegan. Sou keto ou sou DASH', penso que eles não sabem realmente o que isso significa."

Isso é absolutamente verdade, afirmou o cardiologista Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar da National Jewish Health, um hospital em Denver, nos EUA.

"Fizemos um inquérito a 1000 cardiologistas há cinco ou seis anos e descobrimos que cerca de 90% de nós não sabe quase nada sobre nutrição", assumiu Freeman, que não esteve envolvido no documento da AHA.

No entanto, os pacientes precisam que os seus médicos conversem sobre nutrição com eles durante os exames regulares, acrescentou Freeman.

"Se me perguntarem se deveríamos ter apoiado a nutrição nos últimos 100 anos? Sim. Por isso, sempre que pudermos divulgar um pouco mais, sou sempre a favor", disse.

Agora, com uma tabela explicativa por cores, os médicos estarão mais bem informados para discutir os alimentos nessas dietas e quais realçar, limitar ou evitar, apontou Gardner. Em vez de falar sobre os benefícios de nutrientes e alimentos específicos saudáveis para o coração, os conselhos devem concentrar-se num padrão geral de alimentação.

"Quando se tratava de um único nutriente saudável para o coração, podia-se simplesmente introduzir esse nutriente na comida e afirmar que se tratava de uma alimentação saudável, o que não era o caso", observou. "Ou se houvesse um superalimento como as sementes de chia, poder-se-ia pegar num alimento pouco saudável e polvilhar com sementes de chia e dizer: 'Ah, agora estou protegido'. Não, é preciso fazer parte de um padrão geral de alimentos saudáveis."

Nesse sentido, Gardner sublinhou que cada dieta incluída na classificação foi avaliada como deveria ser consumida, e não como as pessoas poderiam fazer na vida real. A nova declaração fornece informações sobre como os médicos podem aconselhar os pacientes que não estão a comer da melhor forma possível, seja devido aos custos, à falta de tempo ou outras pressões.

No entanto, para corrigir estas preocupações, pode ser necessário mais do que a força de vontade individual, considerou Freeman.

"É difícil aderir a uma dieta numa sociedade que permite que os alimentos de conforto ultraprocessados, como bacon no espeto, sejam a norma, e pedir à sociedade que mude um dos principais elementos da vida quotidiana será um grande desafio", antecipou.

"Mas eu também diria que o movimento dos alimentos à base de vegetais é o movimento alimentar que mais cresce no país. Portanto, há esperança."

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