O Governo vai pedir uma auditoria aos contratos de assessoria no setor da Defesa após a demissão de Marco Capitão Ferreira, “não porque haja alguma suspeita”, sublinha a ministra, mas porque é preciso “que as suspeitas tenham resposta”. Já os Caças F-16 vão mesmo ficar fora da Ucrânia, mas em agosto os militares portugueses vão começar a treinar os pilotos e mecânicos ucranianos para a guerra. Pelo meio, o ministro da Administração Interna rejeitou que tenha exercido “qualquer tipo de pressão” quando telefonou à administração da RTP sobre o cartoon polémico que visava forças policiais. Estas são as novidades reveladas no CNN Town Hall.
Ministra pediu auditoria aos contratos de assessoria na Defesa
O caso que levou a mais uma demissão no Governo - a décima terceira - deixou a ministra da Defesa “naturalmente preocupada”. Isto porque as suspeitas de corrupção atingiram o seu ministério no momento em que o ex-secretário de Estado Marco Capitão Ferreira foi constituído arguido no âmbito da Operação Tempestade.
Em causa está um contrato de assessoria de mais de 70 mil euros com a Direção-Geral dos Recursos da Defesa, onde o ex-secretário de Estado só esteve em funções quatro dias.
“A partir do momento em que há uma nova circunstância, agi de acordo do que seria exigível numa circunstância em que há ruído, suspeitas, que é preciso tranquilizar. De tal forma que pedi uma auditoria pela Inspeção Geral da Defesa Nacional às assessorias da Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional”, garantiu Helena Carreiras.
Essa auditoria, garante, não surgiu por existir qualquer suspeita, mas apenas pela necessidade de “garantir que este ruído e estas suspeitas que possam existir no espaço público tenham a resposta que devem ter”, destacou.
Helena Carreiras referiu também que, no momento em que o caso veio a público, o ex-secretário de Estado lhe passou informação que seria relevante explicar ao Parlamento. "Não tive razão para não confiar numa breve e primeira explicação que me deu sobre o seu contrato de assessoria e o Parlamento seria o lugar ideal e fundamental para prestar todos os esclarecimentos. A partir do momento em que há uma nova circunstância agi de acordo com aquilo que seria exigível", disse ainda.
Substituto para Marco Capitão Ferreira “o mais breve possível”
No CNN Town Hall, a ministra da Defesa prometeu ainda um substituto para Marco Capitão Ferreira "o mais breve possível", não revelando, no entanto, se a escolha irá ser anunciada já esta semana. "Estou a escolher bem, estou a fazer uma boa escolha".
Já João Gomes Cravinho destacou também que não tinha razão para não nomear Marco Capitão Ferreira quando tutelava a pasta da Defesa. "O perfil era exatamente o adequado. Uma pessoa que tem largos anos de experiência na área. Era a pessoa certa para aquelas funções", garante.
Militares portugueses começam a treinar ucranianos já em agosto, na Dinamarca
Outro dos anúncios feitos pela ministra Helena Carreiras à CNN Portugal foi que os militares portugueses vão começar a dar treino para formar pilotos e mecânicos na Ucrânia já em agosto. "Acabei de assinar a declaração com outros onze países que se manifestaram para fornecer esse apoio", avançou Helena Carreiras.
Este avanço no treino de soldados ucranianos surge na mesma altura em que o Governo português foi um dos Aliados criticados por Kiev por “arrastar” a calendarização desta missão. "Não existe um calendário para as missões de treino? Penso que alguns parceiros estão a atrasar e a arrastar os pés. Porque o estão a fazer? Não sei", acentuou o chefe de Estado ucraniano no início deste mês.
Agora, sublinhou a ministra, sabe-se que o treino acontecerá na Dinamarca e "continuará depois em função de decisões que tem de ser tomadas relativamente ao tipo de aeronaves e tipo de pilotos".
Já sobre os F-16 que Portugal tem à sua disponibilização, uma garantia: não irão ser enviados para Kiev. Isto porque as Forças Armadas "não têm essa possibilidade dado os compromissos internacionais que assumiu para os quais são fundamentais".
Portugal tem, neste momento, quatro caças F-16 na Lituânia.
Escolta de navios ucranianos pela Turquia "não pode colocar em causa" envolvimento da NATO
Ainda sobre as movimentações geopolíticas na Europa e, particularmente, depois de o Kremlin ter anunciado a suspensão do acordo de exportação de cereais e de a Turquia ter manifestado a intenção de escoltar os navios no Mar Negro, João Gomes Cravinho foi questionado sobre o que pode acontecer caso exista um incidente com um navio turco e se isso poderá desencadear eventual intervenção da NATO.
"Creio que é absolutamente fundamental evitar o envolvimento de forças da NATO no conflito. A eventual escolta de navios da marinha mercante ucraniana terá de ser algo que não ponha em causa esse princípio fundamental, esta não é uma guerra da NATO com a Rússia", respondeu o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Gomes Cravinho sublinhou ainda que há "uma clara tentativa de instrumentalização da fome" por parte da Rússia "como forma de pressionar para que haja um acordo de paz".
José Luís Carneiro não tentou exercer “qualquer pressão” quando ligou à RTP por causa do cartoon polémico
Outro dos temas quentes em discussão foi o cartoon polémico exibido na RTP que mostra um polícia a disparar com maior intensidade à medida que os alvos vão mudando de tonalidade. A emissão do vídeo, intitulado “Carreira de Tiro”, a 6 de julho, motivou várias críticas por parte das Forças Policiais e até do Ministro da Administração Interna que chegou a telefonar à administração da RTP a este propósito.
Questionado sobre essa conversa, José Luís Carneiro garantiu não se tratar de "qualquer pressão ou qualquer tentativa de pressão".
"Estava a existir um crescente descontentamento e tentei obter informação e dar uma palavra de tranquilidade às forças policiais", afirmou, destacando que "existiam movimentos que se estavam a desenvolver" naquela altura. "Não houve pressão, nem qualquer intenção, houve apenas procura de informação para enquadrar o contexto".
Redes de tráfico humano. "Este ano o SEF realizou mais de 3 mil inspeções e temos mais de 800 processos abertos"
O ministro da Administração Interna comentou ainda a megaoperação desenvolvida pela Polícia Judiciária para desmantelar uma rede de tráfico de migrantes em situação ilegal. "O que fica claro é que as autoridades sempre que têm conhecimento de indícios de práticas criminais atuam", explicou antes de anunciar um número: "Este ano o SEF realizou mais de 3 mil inspeções e temos mais de 800 processos abertos", adianta ainda, sublinhando que o "problema fundamental não está nas normas, está no abuso criminal destas normas" e no "aproveitamento da fragilidade destas pessoas".
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho garantiu, por sua vez, que o Governo tem feito um esforço de sensibilização juntos dos países da CPLP sobre estes riscos. "Nesses países temos vindo a alertar para as possibilidades legais de virem para Portugal e não embarcar nestes percursos criminosos".
Também José Luís Carneiro sublinha que há, neste momento, "organizações criminosas" que se têm aproveitado desses migrantes por estarem mais fragilizados. Ainda assim, adianta, é preciso encontrar soluções de abertura, porque, como destaca, nos cálculos que são feitos pela Segurança Social, há "uma hipótese de perda de cerca de um milhão e meio de cidadãos". "Significa isto que temos de encontrar mecanismos que, por um lado, garantam a capacidade da Europa de se abrir e rejuvenescer socialmente", aponta.