Elevado nível de conhecimento da língua inglesa da população local, um ambiente seguro, uma cidade que acolhe bem a comunidade LGBTQIA+, por onde é fácil caminhar e que oferece vários locais a partir de onde é possível (tele)trabalhar. Estes são alguns dos fatores listados pela Nomadlist que colocam a capital lisboeta no pódio dos melhores lugares do mundo para nómadas digitais. Lisboa recebe a medalha de prata, imediatamente a seguir a Bali (Indonésia) e à frente de Banguecoque (Tailândia), que sobe ao terceiro lugar do pódio. Mas há mais cinco destinos nacionais no top 40.
Com uma pontuação global de 4,1 em 5, a capital portuguesa pontua especialmente bem no que toca à segurança, ausência de criminalidade, diversão, vida noturna, conhecimento da língua inglesa por parte da população local, facilidade de percorrer a cidade a pé, ambiente acolhedor para comunidade LGBTQIA+, variedade de sítios a partir de onde é possível trabalhar e rede elétrica.
Há, no entanto, alguns fatores em Lisboa que não agradam de igual modo aos nómadas digitais, começando desde logo pelo custo de vida, considerado “demasiado elevado”. De acordo com os profissionais que participam nesta lista da Nomadlist, um nómada digital necessita, em média, de 4.135 dólares por mês para viver em Lisboa, o equivalente a cerca de 3.770 euros por mês.
Recorde-se que, para cidadãos extra-comunitários conseguir o visto de nómada digital — que entrou em vigor com as alterações à Lei de Estrangeiros, e que permite a cidadãos de fora da União Europeia e do Espaço Económico Europeu viverem e trabalharem para fora a partir de Portugal durante um ano — é necessário cumprir determinados requisitos. Entre eles comprovar rendimentos médios mensais nos últimos três meses de valor mínimo equivalente a quatro remunerações mínimas mensais garantidas. O que se traduz num ordenado de cerca de 3.040 euros brutos por mês.
A par do custo de vida, os nómadas digitais não pontuam muito bem os hospitais, nem o critério que avalia o acolhimento de estrangeiros, considerando-nos “maus”.
Numa lista que coloca frente a frente prós e contra, surgem outros fatores que não agradam a estes trabalhadores: “muitas pessoas fumam tabaco”— um fator que, aliás, está presente na lista de contras dos seis locais nacionais presentes no top 40 –, a cidade está “sobrelotada” e, agora mesmo, está “muito calor e humidade”.
Do outro lado: é “muito fácil fazer amigos” e “negócios”, as “estradas são seguras”, a “Internet é rápida” e é uma cidade “segura para mulheres” e “agradável para famílias”, lê-se na plataforma que avalia os melhores locais para viver e trabalhar remotamente.
Madeira e Porto no pódio nacional
O arquipélago é o segundo nome português que surge no ranking mundial, com uma pontuação global de 3,82 em 5 e na quarta posição global. A seu favor estão alguns fatores que partilha com Lisboa, como é o caso da segurança, ausência de criminalidade, rede elétrica, sítios a partir dos quais trabalhar e “LGBTQIA+ friendly”. Mas surge também como uma pontuação alta no que toca à liberdade de expressão e wi-fi gratuito.
Ainda que a Madeira, ao contrário de Lisboa, não apresente nenhum critério com uma pontuação considera “má”, tem também alguns aspetos que podem ser melhorados. Felicidade, vulnerabilidade às alterações climáticas e ausência de racismo são alguns dos parâmetros que não pontuam tão bem.
Já o custo de vida, avaliado em 2.476 dólares por mês (cerca de 2.260 euros) é considerado, por sua vez, “acessível“.
Santana, Madeira (Getty Images)
O arquipélago da Madeira não é, contudo, ‘novo’ nestas andanças. Em grande parte devido ao Digital Nomad Village Madeira Islands , o projeto de parceria entre o governo regional da Madeira e da Startup Madeira que tem como objetivo criar condições para atrair nómadas digitais de todo o mundo para o arquipélago, potenciando as vantagens da ilha.
Nas ‘aldeias’, os profissionais têm acesso a um espaço de coworking gratuito, ajuda na reserva de apartamentos ou hotéis, pequenos eventos, atividades desportivas e o contacto com uma comunidade de trabalhadores remotos para criar oportunidades de negócio e networking com a comunidade local.
De volta ao continente, o Porto completa o pódio nacional. Surge na 16.ª posição do ranking global, com um score de 3,56 em 5. Os nómadas digitais valorizam, sobretudo, os hospitais, a rede elétrica, o ar condicionado ou sistema de aquecimento, a facilidade para caminhar, a segurança, a ausência de criminalidade, a liberdade de expressão, o bom acolhimento da comunidade LGBTQIA+ e os lugares a partir dos quais se pode trabalhar.
Por outro lado — e apesar de, à semelhança da Madeira, a cidade Invicta não apresentar com parâmetros com avaliações realmente negativas — o nível de educação é considerado “medíocre”, enquanto a segurança rodoviária, a vida noturna, a felicidade, o wi-fi gratuito na cidade, a ausência de racismo e a pontuação de startups estão no patamar “okay”.
O custo de vida, embora não tão elevado como na capital, é considerado “caro“. De acordo com os nómadas digitais, são precisos, em média, 3.300 dólares por mês, o equivalente a cerca de 3.004 euros por mês.
Destinos de praia completam a presença nacional
Os restantes três locais portugueses que constam deste top 40 têm algo em comum: a praia. Falamos de Lagos (29.º lugar), Portimão (33.º) e Ericeira (37.º). O primeiro, com uma pontuação de 3,46 em 5, destaca-se, principalmente pela segurança, internet, liberdade de expressão, por ser “LGBTQIA+ friendly” e ainda pelos lugares destinados a trabalhadores remotos.
A Lagos Digital Nomads, criada por Joana Glória em 2020, é um das comunidades que contribuiu para aumentar a diversidade avaliada neste último critério. Em fevereiro, a comunidade contava já com cerca de 6.500 membros. E o segredo, para a fundadora, esta precisamente na comunidade.
“Os nómadas digitais, na sua grande maioria, não viajam para países. Viajam entre comunidades. (…) É preciso preparar todo um terreno junto das comunidades locais para oferecerem as melhores condições possíveis para os nómadas digitais, e acima de tudo, criar uma comunidade em cada região que quiser atrair este mercado”, dizia, em declarações ao Trabalho by ECO.
Olhos de Água, Algarve (Getty Images)
A vida noturna e a diversão são os únicos fatores na cidade algarvia que aparecem com uma pontuação considerada “má”. Já o custo de vida é “okay” (2.679 dólares por mês, cerca de 2.439 euros).
Em Portimão (3,43 em 5), o critério que menos agrada aos nómadas digitais é outro: a Internet, não sendo muito comum haver wi-fi gratuito na cidade. O custo de vida, por seu turno, é similar ao de Lagos (2.772 dólares mensais ou 2.523 euros mensais). De resto, todos os fatores que pontuam melhor em Lagos repetem-se em Portimão, acrescentando ainda a qualidade do ar.
Quatro lugares abaixo no ranking mundial está a Ericeira (3,4 em 5). A vila muito conhecida pelo surf que ainda pertence ao distrito de Lisboa (município de Mafra) apresenta, de uma forma geral, uma pontuação muito positiva. São vários os critérios onde pontua bem, desde a diversão à segurança, passando pelos conhecimentos da língua inglesa ou internet (considerada “super” rápida).
Não há nenhum parâmetro a vermelho. Apenas o nível de educação (considerado “medíocre”), a segurança rodoviária, a felicidade e a pontuação da comunidade (os três “okay”) têm espaço para melhorar.
De referir ainda que o custo de vida para um nómada digital na Ericeira se situa nos 3.502 dólares por mês (cerca de 3.188 euros mensais), mais caro do que no Porto.
Se olharmos, contudo, para os 200 primeiros destinos apresentados pela Nomadlist como os mais atrativos para nómadas digitais, outros locais portugueses voltam a surgir. É o caso de Peniche (113.ª posição), Açores (135.ª) e Braga (174.ª).
Consulte o ranking completo aqui.
Segundo os últimos números fornecidos pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) ao Trabalho by ECO, desde o final de outubro passado, altura em que a nova tipologia de visto entrou em vigor, e até ao dia 10 de março de 2023, Portugal já tinha emitido “cerca de 550” vistos para nómadas digitais trabalharem remotamente a partir do país . Informáticos, profissionais liberais e de outras atividades diversas eram os perfis mais recorrentes entre os que solicitam esta autorização. Os cidadãos da União Europeia e nacionalidades Schengen não precisam de visto para entrar e residir em Portugal em regime de trabalho remoto.
Os interessados em solicitar o visto de entrada temporária e de autorização de residência para estes nómadas digitais devem fazê-lo nos consulados portugueses e no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Segundo a regulamentação publicada em DR, os requerentes ao visto temporário para nómadas digitais de trabalho subordinado têm de apresentar comprovativo de residência fiscal; contrato de trabalho ou promessa de contrato de trabalho ou declaração de empregador a comprovar o vínculo laboral; e documento a comprovar rendimentos médios mensais nos últimos três meses de valor mínimo equivalente a quatro remunerações mínimas mensais garantidas (os tais cerca de 3.040 euros brutos por mês).
Em caso de atividade independente, e além dos comprovativos de residência e de rendimentos médios mensais nos últimos três meses de valor mínimo equivalente a quatro remunerações mínimas mensais garantidas, os trabalhadores devem apresentar também o contrato de sociedade ou contrato de prestação de serviços ou a proposta de contrato de prestação de serviços.
Quem estiver em Portugal com visto de estada temporária ou visto de residência e decida mudar-se para o interior do país passa a beneficiar do apoio “Emprego Interior Mais” , desde que trabalhe remotamente, independentemente de a entidade empregadora ser portuguesa ou estrangeira. O apoio estende-se a contratos de trabalho já existentes.
Uma medida que — aplicando-se a todos os trabalhadores em atividade remota, independentemente de o empregador ser ou não uma empresa portuguesa — pretende promover uma maior coesão territorial e corrigir as assimetrias entre o litoral e o interior, num momento em que Portugal é muito procurado por nómadas digitais ou, em geral, por pessoas que estão a trabalhar à distância, e que tem a braços um sério problema habitacional.