Benfica-FC Porto, 1-0 (crónica)

Sérgio Pereira , no Estádio da Luz, em Lisboa
29 set 2023, 22:37

O risco de ter Schmidt no seu perfeito juízo

O triunfo do Benfica no clássico foi, antes de mais, um triunfo de Roger Schmidt. Um triunfo do risco, do perigo, daquela vertigem pelo abismo que torna o alemão um treinador diferente.

Vamos ser francos, era muito mais fácil colocar João Mário de início e apostar numa posse de bola trabalhada a ponto-cruz. Era muito mais fácil, mais cómodo até, introduzir um jogador que sabe tudo sobre os momentos do jogo, que percebe que há alturas em que é melhor segurar a bola e fazer um passe lateral, um jogador, enfim, que é um certificado de equilíbrio e serenidade.

Apesar disso, e naquele jeito de quem estudou engenharia mecânica, mas tinha vocação mesmo era para investimentos de risco, Roger Schmidt optou pelo caminho mais sinuoso.

Deixou João Mário no banco, meteu David Neres de início e jogou com dois extremos que só têm olhos para a baliza adversária. 

Com isso levou o jogo, basicamente, para o campo em que o FC Porto é mais forte: o jogo de transições e contra-transições, de repelões, empurrões e outras palavras terminadas em ões para rimar com safanões.

Podia ser perigoso, claro. Antes de mais porque o FC Porto é mais forte (muito mais forte, aliás) quando o jogo está partido. Mas também porque Sérgio Conceição debate-se com várias baixas, que o obrigam a tornar o futebol da equipa ainda mais simples.

Talvez por isso, preparou uma tática em que colocava Pepê na frente, ao lado de Taremi, mas a cair sobre a esquerda, de forma a juntar-se a Wendell e Galeno, para os três juntos carregarem sobre um muitas vezes desamparado Bah: Di Maria costuma falhar nesses apoios.

Quem olhava, portanto, para este xadrez estratégico no início do jogo, não conseguia deixar de pensar que Roger Schmidt estava a lançar-se para fora de pé: o perigo de defrontar o FC Porto no terreno psicológico em que o adversário geralmente é mais forte ameaçava ser um risco tremendo.

A verdade, porém, é que foi no terreno psicológico do FC Porto que este Benfica ganhou o clássico. No tal jogo de transições e repelões. Foi numa dessas mudanças de velocidade, aliás, que David Neres fugiu a Fábio Cardoso e foi derrubado, o que justificou a expulsão do central.

A partir daí, quando se tinham jogado apenas vinte minutos, Sérgio Conceição teve de mudar a estratégia, Pepê deixou a esquerda e viajou para a direita, a ideia de carregar sobre Bah caiu por terra e o FC Porto foi obrigado a baixar o bloco.

Sempre, claro, sem deixar de sair rápido em contra-ataque, quando conseguia ter a bola a tempo de apanhar o adversário em contrapé. Foi dessa forma, aliás, que Taremi surgiu na cara de Trubin, para uma grande defesa do guarda-redes, e que João Mário fugiu pela ala até servir Pepê para um remate que obrigou o guarda-redes ucraniano a outra grande defesa.

O Benfica, na primeira parte, só ameaçou verdadeiramente num cruzamento de Neres que desviou num adversário e quase traía Diogo Costa.

Sim, é verdade, a equipa encarnada demorou a encontrar-se depois de estar em vantagem. O FC Porto, mesmo com menos um, acabou a primeira parte com as melhores ocasiões de golo.
 

O intervalo fez bem ao Benfica, nesse aspeto.

Na segunda parte a atitude foi completamente diferente, o equipa circulou a bola com mais velocidade e surgiu em campo um tal de Kökçü, que com a qualidade de passe foi encontrando formas de tornar a equipa mais perigosa à entrada do último terço.

O FC Porto encolhia-se, encolhia-se, encolhia-se. João Mário, Pepê e até Galeno apresentavam sinais de uma fadiga evidente e o Benfica ia criando sucessivas ocasiões de golo. Musa, Neres, Kökçü, Otamendi e novamente David Neres ameaçaram, até que Di Maria encheu-se de graça.

O Benfica chegava por fim ao golo e ao triunfo que na segunda parte fez por merecer.

Um triunfo que a equipa precisava para sossegar um início de época mais errático e que vem recordar os mais distraídos como Roger Schmid mantém intactas certas qualidades.

Sobretudo aquela vertigem pelo risco que faz os adeptos felizes.

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