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Colunista e comentador

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20 abr 2022, 12:47
Liverpool-Manchester United: adeptos aplaudem Ronaldo

O mundo gira à volta de realidades e é impossível perspetivar o todo.

Antes do advento da internet já havia as realidades e as realidades publicadas.

Agora o fenómeno das realidades publicadas cresceu exponencialmente porque toda a gente publica e cada vez mais é preciso ter a noção da importância da comunicação social para filtrar, porque a informação (com e sem aspas) entra nos dispositivos móveis a toda a hora e o utilizador necessita de de fazer um esforço extra para perceber o que é credível e o que não é.

Acresce que as redes sociais amplificaram o ruído e os filtros existentes não são suficientes para contrariar esta nova piolheira dos tempos modernos, diferente daquela a que Eça de Queirós, Trindade Coelho e Fialho de Almeida se referiam no século XIX em relação a Portugal e às suas insanidades e assimetrias.

É preciso despertar para esta realidade, porque o que se publica, sem regras, nas redes sociais causa impacto nas pessoas, muitas das quais não sabem como lidar com ela(s).

Isto a propósito da morte durante o parto de um dos gémeos do casal CRISTIANO RONALDO-GEORGINA RODRIGUES.

A extraordinária homenagem que os adeptos do Liverpool prestaram a CRISTIANO RONALDO no minuto 7 do jogo com o Manchester United honra o ser humano na sua melhor dimensão.

O internacional português, mergulhado na sua dor, foi naturalmente poupado à participação desta partida correspondente à jornada 30 da Premier League, mas os 54 mil espetadores presentes em Anfield Road usaram a voz para colocarem o coração nas mãos e encostarem-no ao peito de CRISTIANO RONALDO, num gesto de comovente e arrebatadora solidariedade.

O camisola 7 do MANCHESTER UNITED mereceu ao minuto 7 a homenagem dos Reds e a minha homenagem aqui vai: 7x7x7x7x7x7x7 (7 vezes 7).

Os adeptos do Liverpool, que utilizam o mítico You’ll Newer Walk Alone (‘vocês nunca caminharão sozinhos’) para aproximar forças e sentimentos entre os Reds mas também em muitos momentos para celebrar o futebol e valorizar os adversários, deram um grande exemplo de humanidade e deram uma lição a todos aqueles que não sabem utilizar a génese do desportivismo para elevar outros valores muito mais importantes do que as vitórias e os títulos.

CRISTIANO RONALDO merece como ser humano, mas merece também como figura icónica que deu muito ao futebol durante estes mais de 20 anos de carreira.

O que CRISTIANO RONALDO não merece, nem como ser humano nem como futebolista de eleição, foi o conjunto de imbecilidades e de ataques que povoaram as redes sociais, visando-o e à sua mulher GEORGINA RODRIGUEZ, num momento devastador para ambos.

As invejas, a falta de respeito e de educação e o lado miserável que o ser humano é capaz de projectar na vida e nas sociedades, promovendo o seu lado destrutivo, fazem de Portugal a nova piolheira de que EÇA DE QUEIROZ falava, nesta versão de piolheira cibernética que nos invade as entranhas e na qual alguns departamentos de comunicação dos clubes e os seus canais televisivos têm um papel — perdoe-se-me a expressão — absolutamente nojento.

Os valentões do teclado que insultam, ofendem e inventam estórias para visar pessoas que não gostam (nem delas próprias gostam) são tão frustradas que, na sua sede de visarem protagonistas que afinal não conhecem, são incapazes de perceberem que, nesse papel, são os primeiros a projetarem a verdadeira miséria humana.

Em Portugal, esse tipo de gente que pulula nas redes sociais tem no futebol um escape vergonhoso e é preciso dizer, sem reservas, que esse comportamento é fomentado historicamente por lideranças de clubes que mandam fazer para depois esconderem a cara e a mão.

Não devia haver sequer UM adepto a aplaudir esse tipo de comportamento.

O futebol pode ser como é em Inglaterra um espaço de desportivismo, convívio e de rivalidade positiva.

Inglaterra já teve gravíssimos problemas de violência associados ao desporto e resolveu-os a partir da intervenção de THATCHER.

Em Portugal, as claques — as legalizadas e as não legalizadas — continuam à solta, a exercer a sua influência (visível ou invisível) sobre pessoas e instituições, mas são acima de tudo ‘braços armados’ da ‘ideologia do negócio’, ganhando obviamente com ele.

As pessoas morrem, pessoas de bem, assinale-se, e não há respeito nenhum nos estádios portugueses. Quando se trata de adversários assobiam, fazem chacota, não demostram respeito algum. Uma piolheira!

Pode não concordar-se com tudo o que CRISTIANO RONALDO faz e diz, mas o que significa para Portugal e para o Mundo, num momento de perda, merece respeito e espero que possa ter algum reflexo nos estádios portugueses.

Perdoa-lhes, CRISTIANO. Eles não sabem o que fazem nem sabem o que dizem.

Recebe o meu abraço sentido e as minhas condolências.

Há dores que nunca se acabam, mas, como sempre, vais vencer: 7x7x7x7x7x7x7!

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