V. Guimarães-Marítimo, 1-3 (crónica)

11 mar 2002, 23:12

Tradição à chuva O V. Guimarães voltou a não vencer o Marítimo (1-3), pela sexta vez consecutiva. O contra-ataque fez estragos.

A tradição cumpriu-se: pela sexta época consecutiva, o V. Guimarães não venceu o Marítimo. Dura e cruamente, a história repetiu-se, à chuva, num jogo que valeu essencialmente pela segunda parte, quando houve emoção e o marcador conheceu a marcha rápida dos insulares. As linhas desta vitória escrevem-se com simplicidade, à imagem das equipas de Nelo Vingada, sempre disciplinadas a defender e com intenções de chegar à frente em contra-ataque. Sempre em contra-ataque - esse foi o segredo para a conquista dos três pontos no Estádio D. Afonso Henriques. Simples, eficaz e sem truques na manga.

Este desafio fez lembrar outros jogos em que os mais pequenos são capazes de ganhar nos recintos dos chamados grandes. Parênteses: nem os vimaranenses têm a força dos grandes nem o Marítimo possui a fraqueza dos pequenos. Longe disso. Mas foi assim que os insulares apareceram no relvado, com espírito de miúdos pequeninos, encolhidos atrás e geniais à frente, quando tinham a bola nos pés. Sobretudo rápidos e inteligentes para bater um adversário sempre balanceado no último terço, sempre faminto de golos, mas em noite francamente desinspirada. Os centrais anularam quase sempre um ponta-de-lança de um Estado brasileiro com nome maldito - Ceará.

No entanto, há que dizê-lo com frontalidade, as melhores oportunidades do desafio pertenceram sempre ao V. Guimarães. Acutilante na primeira parte, marcou um golo, mandou uma bola ao poste e rematou muito à baliza, onde murou um guarda-redes que nem necessidade teve para fazer defesas vistosas. Logo por aqui se vê muita coisa. Mas esta postura de nada valeu. Nem mesmo a tendência avassaladora do segundo tempo, porque a formação madeirense já sabia de cor a táctica do adversário. Esteve poucas vezes na cara do Palatsi, é certo, mas quando os avançados se cruzavam com o francês era para fazer estragos. E numa pequena mão-cheia de ataques marcou três golos, um de bola parada, mas dois deles de acordo com as regras do contra-ataque, em velocidade, a aproveitar a desastrosa defesa em linha do adversário.

Os extremos dos extremos

Todos pensavam que esta seria a noite do V. Guimarães, a noite em que se quebraria o jejum de ficar a seco o Marítimo. Puro engano. Os vimaranenses ainda marcaram primeiro, estiveram a vencer, mas depressa o opositor chegou ao intervalo com o empate no bolso, num lance felino de quem sabe melhor do que ninguém jogar nos limites da correria. Antes, a formação da casa actuava a seu bel-prazer, com a bola no pé e pelos extremos, mas sem grande objectividade, apesar de ter a posse do esférico. A prova da falta de ideias é clara como água: o remate certeiro dos minhotos surgiu graças a um pontapé de Cléber, um defesa central que, segunda parte, ainda mandou uma bola ao poste.

Por isso, a posse de bola de nada valia. Mesmo nada. Porque, do outro lado, havia uma equipa ambiciosa, com os avançados sempre a trocar de movimentos. Gaúcho era o expoente máximo de como se podia levar à ruína o adversário e trocava as voltas, fazia assistências e procurava, acima de tudo, estar no sítio certo. Por isso, marcou, ainda para mais na melhor fase dos vimaranenses. No apoio a esta tendência, havia um jovem com talento chamado Danny, que permitiu a melhor defesa do jogo a Palatsi. A melhor defesa do jogo, note-se. Por aqui se vê a sede da formação de Vingada, apenas acanhada no papel, pois era mais do que desinibida na prática.

A potência de Dinda

Na segunda parte, o V. Guimarães entrou bem, mas faltava-lhe fio de jogo. Havia músculo a mais no meio-campo e imaginação a menos. André e Jorge Duarte destruíam, mas Nuno Assis não tinha talento para construir. Enfim, até os melhores têm direito a uma noite menos boa. Havia um fosso entre o meio-campo e o ataque, que só os extremos procuravam anular. Para quem defendia era tudo muito simples, porque as inúmeras bolas bombeadas para a grande-área morriam na cabeça de Van der Gaag, sem dúvida um dos melhores centrais da I Liga. Os adeptos começavam a desesperar, especialmente porque a defesa em linha da equipa de Inácio começava a claudicar, a tornar-se muito premeável. Danny, mais uma vez, só não pôs o Marítimo mais cedo em vantagem por pura inexperiência. Por aqui se vê...

Mas a vantagem não tardaria. Por Dinda, de livre directo, num remate fortíssimo no qual o guarda-redes Palatsi tem algumas culpas. O grito do Impiranga estava dado, num pontapé de raiva, numa fase de jogo em que o V. Guimarães já não sabia desmontar o puzzle que tinha pela frente, ou seja, não tinha soluções para desbravar uma defesa equilibrada, bem estruturada e disciplinada na hora de meter o pé e cortar as bolas. E quando se ataca muito tem-se dissabores. Foi assim que nasceu o golo de Dinda; foi assim que se escreveu o remate certeiro de Kenedy. Um verdadeiro espectáculo à chuva. O árbitro esteve bem. Passou despercebido.

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