V. Guimarães - E. Amadora, 4-0 (crónica)

6 nov 2000, 23:58

Enganados pela estreia Receios comuns e ressacas estranhas de momentos complicados vividos no campeonato. O Vitória tentou adivinhar a ambição dos estrelistas, que poderiam querer agradar ao novo técnico. Carlos Brito tentou o empate, mas Autuori antecipou-se na ambição de chegar a uma vitória concludente para afastar fantasmas. Com esta goleada, a defesa vimaranense não sofreu qualquer tento pela primeira vez e o ataque foi bem mais produtivo do que é habitual.

Tanto tempo gasto a pensar, a maturar ideias para uma solução feliz. Nove jogos de sofrimento, preenchidos por desilusões exageradas, dores de cabeça constantes e alergias a qualquer paracetamol. Nunca os meios pareceram tão insuficientes e arreliadoramente inoperantes nos momentos mais decisivos. Algum dia o lado bom da vida iria aparecer, pressentia-se. 

Sem grandes mudanças estratégicas, o Vitória entrou para este jogo com a mentalidade habitual ¿ pode ser que desta vez corra bem (!). Do outro lado aparecia um adversário a viver tempos complicados e em transfiguração de espírito, com a entrada de Carlos Brito para o lugar de Quinito. Nestas situações surge sempre a dúvida legítima de qual será o estado de espírito da equipa: moralizada e com vontade de mostrar ao novo treinador quem é que tem valor; ou destroçada por ainda não ter conseguido evitar a derrota nos quatro jogos que cumpriu fora da Reboleira. A segunda versão será a mais correcta. 

Por falar em motivações, esse não seria um aspecto muito em voga nos vimaranenses, que têm transparecido uma postura leve e descomprometida, demasiadamente liberta de convicções. Mas não é essa a vontade de Paulo Autuori, que tem projectado as suas irritações nas arbitragens e quase nunca nas actuações incompreensíveis dos seus atletas. A pálida imagem deixada nos primeiros nove jogos pode ter quebrado na noite de hoje, onde todos os pecados tiveram a sua redenção. A defesa não teve medo e conseguiu evitar que o adversário marcasse um golo pela primeira vez ?!... Por outro lado, a frente atacante compôs-se por um trio sul-americano e chegou ao maior pecúlio averbado na temporada, levando o V. Guimarães a um saldo de golos positivo. 

A diferença está no meio-campo 

Mas, afinal alguma coisa deve ter mudado para as coisas terem corrido tão bem. A dinâmica imposta por Pedro Mendes no meio-campo foi um dos factores essenciais, pois permitiu a circulação de bola em futebol apoiado e centralizado na postura atacante de Sérgio Júnior, Maurílio e Congo. A sustentação defensiva era assegurada por um Paulo Gomes em excelente forma e pelo dinâmico Paiva. Um pouco atrás, Abel mostrou-se desinibido e sem qualquer receio de subir no terreno, pois até nem foi nada difícil segurar Hélder Quental (porque o estrelista convergia para o centro) e Semedo (preocupou-se mais com as fintas do que com os colegas). 

Existiam temores similares nas duas equipas quando tiveram de percorrer o túnel que as conduziu ao relvado. Gilberto deu o primeiro sinal de aviso, mas Tomic nem vacilou na defesa segura. A resposta em forma de aviso surgiu pouco depois pelas figuras do jogo, Congo, Pedro Mendes e Sérgio Júnior, com este último a aproveitar a excelente perspectiva de Maurílio para dar início à vantagem no marcador. A barreira psicológica dos 30 minutos foi ligeiramente ultrapassada, mas as pernas do brasileiro não tremeram. Foi o momento decisivo de libertação. 

Com poucos minutos para percorrer até ao intervalo, Carlos Brito viu os seus gestos esfumarem-se e os seus esforços provocados em vão. Nota-se que ainda não há dedo seu na equipa, principalmente pela desenfreada movimentação de braços junto ao banco, num apelo de compreensão. Os jogadores ainda não o entendem à distância, estão habituados a um discurso diferente, mais rígido e pouco fluente. Estão tolhidos pelo embaraço dos maus resultados e torna-se complicado encontrar alguém que assuma responsabilidades. 

Defesa evapora-se 

A maior vontade de um técnico quando assume a equipa é obter um resultado positivo logo no primeiro jogo. Neste caso, já seria muito bom se Brito tivesse segurado o empate. Com esse desfecho quebrado logo na primeira parte, só resistia a hipótese de arriscar mais e melhor. A sua escolha foi para Semedo, um jovem de inegáveis qualidades, mas que parece ainda viver em sonhos. Exigia-se mais profundidade ao ataque e perigo nas alas, mas a desinspiração latente de Gaúcho e, sobretudo, de Gilberto arrasava qualquer intenção mais ambiciosa. 

O ritmo avassalador imposto pelo Vitória no segundo tempo também não ajudou e isso traduziu-se, basicamente, nos restantes três golos do encontro. Olhando para os apontamentos só é possível vislumbrar ocasiões de golo para os alegres anfitriões. Um tento mais e uma bola no poste para o esforçado Sérgio Júnior e dois momentos de aparição do colombiano Congo ¿ um avançado mortífero que sabe como estar no sítio certo e no momento ideal. 

Apesar do forte dispositivo defensivo montado por Carlos Brito, o sector mais recuado evaporou-se autenticamente com a torrente ofensiva dos vimaranenses. Pedro Simões era um «trinco»/terceiro-central, mas foi inoperante, Raúl Oliveira e Rebelo deixaram passar quase tudo e Kenedy nem esteve em jogo. Muitos motivos de reflexão para o novo treinador do E. Amadora, que viu a sua equipa sofrer a maior goleada da época, somar a oitava derrota e colar-se ao lanterna-vermelha.

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