Mãe «discriminada» por ter sida teve filha na rua

Portugal Diário , - Pedro Sales Dias
11 abr 2007, 23:43
Mãe

Viana do Castelo: tinha hemorragias, mas médica mandou-a para casa

Uma mulher viu-se obrigada a ter o filho no automóvel a caminho do Hospital de Santa Luzia em Viana do Castelo. «A minha mulher fez ela própria o parto e eu fiz a bebé respirar», referiu o marido ao PDiário
.

Artur e Paula, nomes fictícios, têm ambos Sida há oito anos, razão pela qual dizem ter sido alvo de discriminação em todo o acompanhamento do parto. O caso remonta a 1 de Março, quando Paula foi sujeita, durante uma hora, a vários exames naquele hospital. «Eu tinha muito sangue na vagina», contou Paula que ainda não percebeu porque é que, apesar disso foi enviada para casa com cesariana marcada para dia 15.

Pai não apresenta queixa com medo de represálias


«Revelamos à médica, que nos acompanha, que temos HIV, mas começamos a perceber que outros profissionais de saúde também sabiam», lamentou Artur que não apresentou queixa no hospital, por medo que a filha, que «ainda vai ter muitas consultas» seja «prejudicada». Contudo, denunciou o caso à «comunicação social», depois de convencido por familiares.

Parto no banco da frente: «Foi horrível»


No dia seguinte, Paula acordou às 9h00 com «contracções e com hemorragia». Foi ao quarto de banho e berrou pelo marido. «Não aguentava mais», explicou Paula que seguiu no banco da frente ao lado de Artur.

A bebé não quis esperar e cinco minutos depois, Artur teve de parar e ajudar no parto. «Foi horrível» contou Paula. Pouco depois alguns populares apareceram. «Um senhora estava tão nervosa que nem conseguia ligar 112», disse Artur. Outra trouxe cobertores: a «bebé estava a entrar em hipotermia».

O INEM, que confirmou a situação ao PDiário
, enviou uma ambulância e uma viatura médica. A bebé nasceu a 15 minutos do hospital, com sete meses, apesar de na sua caderneta estar registada como «nascida em casa». Segundo Artur, nos documentos, o hospital diz que o parto foi «mal vigiado». Qualquer reacção foi remetida pela instituição para quinta-feira.

Os pais contaram ainda que foram impossibilitados pelo hospital de passar a noite com a recém-nascida que ficou internada.

«Houve negligência»


«Houve negligência», lamentou Artur que, apenas no final da conversa, admitiu o HIV e o pedido inicial para ser feito um aborto, garantindo que estava em condições legais para o fazer. «Mas não quiseram saber», frisa.

Médico sorriu e disse que tiveram sorte


Segundo o pai, o médico que atendeu a bebé, não se desculpou pela actuação do hospital. Apenas «sorriu e disse que tivemos sorte porque tudo correu bem». Artur considerou que existe «a forte possibilidade de voltar a acontecer algo semelhante» e revelou ter conhecimento de que uma situação semelhante aconteceu com outra mãe que «ainda hoje está internada no piso 7», o mesmo onde esteve Paula.

A presidente da Abraço, Margarida Martins, considerou esta situação «profundamente lamentável no mundo de hoje» e referiu que devido ao HIV «este parto devia ter sido acompanhado de forma diferente e mais próxima».

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