«Bilhetes do Euro» - VI
«Sou fã do Ronaldo desde miúdo. Por acaso não têm bilhetes para o jogo de Portugal?»
Depois de um cumprimento, estas foram as duas frases seguintes do rececionista da unidade hoteleira onde estamos instalados em Hamburgo. Horas do pequeno-almoço? Lugar para estacionar? Nenhuma informação, além dos números dos quartos.
Quando percebeu que éramos jornalistas portugueses, os olhos do jovem rececionista brilharam como quem tem esperança em conseguir algo pelo qual anseia há demasiado tempo.
Explicámos, naturalmente, que estamos a trabalhar e que não temos acesso a qualquer tipo de bilhetes, visto que é a credencial para o Euro 2024 e para jogos em específico que nos permite entrar nos estádios.
O assunto ficou arrumado, pensámos. Instalámo-nos, voltámos a descer ao hall do hotel para organizarmos o dia seguinte. No entanto, temos algumas dúvidas sobre o funcionamento do hotel, horários, enfim. Por isso, fomos novamente à receção do hotel.
O funcionário, que deve ter menos de 30 anos, deixou a sala contígua ao balcão da receção e rapidamente esclareceu-nos em relação ao que queríamos fazer. Quando estávamos prestes a virar costas, ouvimos: «Mas não têm convites para o jogo?»
A cada encontro disputado começam a faltar justificações para a titularidade de Cristiano Ronaldo na Seleção - e não, não é ingratidão. É preciso entender que o desporto de alta competição é implacável (tal como a idade) e que até mesmo os nossos heróis perdem os seus superpoderes. E não há nada mais doloroso do que ver os maiores da história definharem na luta inglória contra o envelhecimento.
Ainda assim, Cristiano Ronaldo continua a ser a principal bandeira da Seleção nacional. É o motivo pelas multidões junto aos hotéis onde a equipa fica, pelo entusiasmo desenfreado (na Alemanha) em torno da comitiva nacional e pelo facto de (imagine-se) funcionários de hóteis pedirem bilhetes ou convites a jornalistas.
«Bilhetes do Euro» é um espaço de crónica do jornalista Vítor Maia, enviado especial do Maisfutebol ao Euro 2024.