Tropas de Barreira: a prática soviética que usa os próprios soldados russos como "carne para canhão"

5 dez 2022, 11:04

Em Bakhmut, zona de combates intensos nos últimos dias, as perdas militares têm sido elevadas e há quem garanta que os homens mobilizados pelo grupo Wagner estão a ser usados como isco pelas próprias forças russas

São como "carne para canhão": soldados russos, recrutados pelo grupo Wagner, são enviados em pequenos grupos para a frente de batalha para denunciar as posições ucranianas, bem defendidas por artilharia, para permitir o ataque pesado do exército russo. 

Segundo o jornal El Mundo, que cita o comandante do batalhão Svoboda do exército ucraniano, responsável pela frente de batalha na cidade de Bakhmut, na região de Donetsk, a estratégia russa consiste em fazer entre seis a sete investidas por dia, sacrificando mais de 500 homens, para conseguir atacar as posições ucranianas. 

"Os russos persistem nas mesmas táticas: os condenados são lançados para as nossas frentes e temos de os destruir. Assim, o inimigo deteta os nossos postos de tiro e tenta atingi-los com a sua artilharia", explica Petro Kuzyk, acrescentando que, para além de usarem os soldados como "carne para canhão", ainda os usam como "alvo", uma vez que lhes permite deslocarem-se e ajudarem a localizar os bunkers ucranianos, acabando por morrer nos próprios bombardamentos russos. 

O comandante ucraniano diz mesmo que "as perdas do inimigo são colossais" e que os corpos não chegam a ser contados, ficando abandonados nos campos. "Os bosques em frente às nossas posições estão cheios de cadáveres." 

À CNN Portugal, o major-general Isidro de Morais Pereira explica que esta estratégia militar remonta aos tempos de Estaline, sendo uma prática marcadamente soviética. 

"O que está a acontecer é que para defender a autoestrada P66, os mobilizados pelo grupo Wagner, que foram retirados das prisões da Rússia, e também das prisões da República Centro-Africana, estão a ser lançados para a frente de batalha, tipo "carne para canhão". A primeira vaga são esses. Numa segunda vaga estão os mobilizados e mal preparados, desmoralizados e pouco convencidos a combater. Só atrás estão as tropas profissionais e os mercenários do grupo Wagner que são as tais tropas de barreira cuja finalidade é única e exclusivamente assegurar que aquelas duas primeiras vagas não deixam de dar combate. Aqueles que regressarem para a retaguarda são liminarmente fuzilados. É isto que está a acontecer."

O especialista militar assegura mesmo que o que está a acontecer na região é um "banho de sangue". "Fontes fidedignas dão conta de que, nesta grande batalha, estão a morrer cerca de 500/700 militares por dia."

"E, normalmente, quem ataca perde muitos mais homens", sublinha o major-general.

Isidro de Morais Pereira explicou ainda que o Estado Maior das Forças Ucranianas está a começar a reforçar as linhas em Bakhmut e que há também indicações de que os russos estão a tentar cercar a região, havendo ainda relatos de que "está em preparação uma nova contraofensiva por parte das forças ucranianas".

"Há uma possibilidade que é efetuar uma contraofensiva em grande escala para quebrar a ponte terrestre que liga o Donbass à Crimeia (...) e desequilibrar definitivamente o dispositivo das forças terrestres russas, mas também pode ser em Bakhmut", revela, afirmando que "a Ucrânia não irá perder Bakhmut num curto prazo", uma vez que "não fará o que aconteceu em Mariupol".

A cidade de Bakhmut, a este da região de Donetsk, tem sido palco de combates intensos de ambos os lados. Trata-se de uma cidade que se tornou um importante alvo da Rússia, que não tem conseguido avançar no terreno, sendo mesmo forçada a retirar em algumas zonas envolventes.

As forças russas cercaram a cidade e o grupo Wagner foi mesmo reforçado para tentar reconquistar Bakhmut. No entanto, depois de dois dias de avanços e recuos, no sábado, as forças ucranianas assinalaram uma vitória ao abater um avião russo que bombardeava a cidade. 

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