A explicação para as luzes estranhas vistas antes do sismo de Marrocos

CNN , Katie Hunt
24 set 2023, 15:00
Luzes do sismo de Marrocos vistas na Cidade do México. Antonio Lira

Por vezes, as luzes podem parecer semelhantes a relâmpagos comuns, ou podem ser como uma faixa luminosa na atmosfera semelhante à aurora polar. Outras vezes assemelham-se a esferas brilhantes que flutuam no ar. Podem também parecer pequenas chamas a tremeluzir ou a rastejar ao longo ou perto do solo ou chamas maiores a emergir do solo

Os relatos de "luzes de terremoto", como as que foram vistas em vídeos registados antes do sismo de 6,8 graus de magnitude em Marrocos, remontam a séculos, até à Grécia antiga.

Estas explosões de luz brilhante e dançante em diferentes cores há muito que intrigam os cientistas e ainda não há consenso sobre as suas causas, mas são "definitivamente reais", disse John Derr, geofísico reformado que trabalhava no Serviço Geológico dos EUA (USGS).  Ele é coautor de vários artigos científicos sobre luzes de terremoto, ou EQL.

"A observação de EQL depende da escuridão e de outros fatores favoráveis", explicou Derr à CNN.

Segundo o especialista, o vídeo recente de Marrocos partilhado online parecia-se com as luzes de terremoto captadas pelas câmaras de segurança durante o sismo de 2007 em Pisco, no Peru.

Juan Antonio Lira Cacho, professor de Física na Universidad Nacional Mayor de San Marcos, no Peru, e na Pontifícia Universidade Católica do Peru, que estudou o fenómeno, afirmou que os vídeos dos telemóveis e a utilização generalizada de câmaras de segurança tornaram mais fácil o estudo destas luzes.

"Há quarenta anos, era impossível", apontou. "Se as víssemos, ninguém acreditava no que víamos."

As luzes assumem diferentes formas

As luzes de terremoto podem assumir várias formas diferentes, de acordo com um capítulo sobre o fenómeno em coautoria com Derr e publicado na edição de 2019 do livro Encyclopedia of Solid Earth Geophysics.

Por vezes, as luzes podem parecer semelhantes a relâmpagos comuns, ou podem ser como uma faixa luminosa na atmosfera semelhante à aurora polar. Outras vezes assemelham-se a esferas brilhantes que flutuam no ar. Podem também parecer pequenas chamas a tremeluzir ou a rastejar ao longo ou perto do solo ou chamas maiores a emergir do solo.

Um vídeo gravado na China pouco antes do terremoto de Sichuan em 2008 mostra nuvens luminosas a flutuar no céu.

Para compreender melhor as luzes, Derr e os seus colegas reuniram informações sobre 65 terremotos americanos e europeus associados a relatos fidedignos de luzes de terremotos que remontam a 1600. Partilharam o seu trabalho num artigo publicado em 2014 na revista Seismological Research Letters.

Os investigadores descobriram que cerca de 80% das ocorrências de EQL estudadas foram observadas em terremotos com magnitudes superiores a 5,0. Na maioria dos casos, o fenómeno foi observado pouco antes ou durante o evento sísmico, e foi visível até 600 quilómetros do epicentro do terremoto.

Os sismos, especialmente os mais fortes, são mais prováveis de ocorrer ao longo ou nas proximidades das áreas onde as placas tectónicas se encontram. No entanto, o estudo de 2014 concluiu que a grande maioria dos terremotos ligados a fenómenos luminosos ocorreu dentro das placas tectónicas, e não nos seus limites.

Além disso, as luzes de terremotos eram mais prováveis de ocorrer em ou perto de vales de fenda, locais onde - em algum momento no passado - a crosta terrestre tinha sido separada, criando uma região de planície alongada que fica entre dois blocos de terra mais altos.

Luzes do sismo de Marrocos avistadas em Guayaquil, Equador. Antonio Lira

Possíveis causas das luzes

Friedemann Freund, colaborador de Derr, professor adjunto na Universidade de San Jose e antigo investigador do Centro de Investigação Ames da NASA, avançou com uma teoria para as luzes.

Freund explicou que, quando certos defeitos ou impurezas nos cristais das rochas são submetidos a tensões mecânicas - como durante a acumulação de tensões tectónicas antes ou durante um grande sismo - quebram-se instantaneamente e geram eletricidade.

A rocha é um isolante que, quando submetido a tensões mecânicas, se transforma num semicondutor, observou.

"Antes dos terremotos, grandes volumes de rocha - centenas de milhares de quilómetros cúbicos de rochas na crosta terrestre - estão a ser sujeitos a tensões e essas tensões provocam o deslocamento dos grãos, dos grãos minerais, uns em relação aos outros", acrescentou.

"É como ligar uma bateria, gerando cargas elétricas que podem fluir das rochas sob tensão para as rochas sem tensão e através delas. As cargas viajam rapidamente, até cerca de 200 metros por segundo", explicou num artigo de 2014 para o The Conversation.

Outras teorias sobre as causas das luzes incluem a eletricidade estática produzida pela fraturação da rocha e a emanação de radão, entre muitas outras.

Atualmente, não existe consenso entre os sismólogos sobre o mecanismo que causa as luzes de terremoto e os cientistas ainda estão a tentar desvendar os mistérios destas explosões.

Freund espera que um dia seja possível utilizar estas luzes, ou a carga eléctrica que as provoca, em combinação com outros fatores, para ajudar a prever a aproximação de um grande sismo.

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