Guimarães-Braga, 0-0 (crónica)

20 jan 2001, 19:05

Minho macrobiótico Um prato saudável, de venda duvidosa num Minho famoso pelas iguarias apaladadas. Deu para satisfazer, mas não empanturrou. As doçuras de Lixa ainda ameaçaram recuperar a refeição, mas a comida sem sabor permaneceria até ao fim.

O jogo vivia sem sal, perdido entre sabores neutros, paladares macrobióticos que atafulham o estômago, mas não satisfazem, que preenchem um espaço até aí composto exclusivamente por ar, mas não obrigam ninguém a relaxar a pressão do cinto. Tudo se resumia a iguarias que não prejudicam a saúde, que não alteram o normal funcionamento da máquina humana. Não havia rojões ou chouriços, sangue ou batata a murro. Azeitonas nem para aperitivo e o pão era integral, para poupar os intestinos. O Minho não era habitual. Faltava o vinho e só a água da chuva tinha intenções de regar algo que nada tinha de repasto. 

Servia, mas não satisfazia. O público, que retardara a visita ao D. Afonso Henriques, entretinha-se como podia. Picava aqui e ali, na correria de Lima ou nas ameaças de Nandinho, disfarçava um arroto no guardanapo e cumpria a vénia que a boa educação tornava obrigatória. Edmilson, outrora tópico destacado da ementa do Guimarães, era a entrada para o prato principal de assobios que seria servido na reprimenda a José Leirós ou na crítica descarada ao desatino constante de Geraldo. A cozinha era alternativa. Mais saudável, mas menos apimentada. Faltavam os nacos bem temperados e os perfumes avinhados, sobravam as sojas e os tofus, que empanturravam num instante. 

Álvaro, fiel à cartilha proposta inicialmente, queria arriscar sem comprometer a refeição instituída. Trocava de ponta-de-lança, tirava Evando do frasquinho das especiarias mais arrojadas e recriava a receita. O novo prato era mais interessante e agradava. O brasileiro quase marcava, de cabeça, mas Quim, no limite, com o cozinhado a caminho do forno, exigia a continuidade nos mesmos moldes. O Guimarães parecia enjoado de tanta tacanhez gastronómica e queria soltar a gula, lambusando-se em travos picantes e entusiasmantes. Fehér, do outro lado da mesa, quis imitar, mas Tomic fez questão de ser companheiro de Quim na apologia da tranquilidade. As bancadas pareciam indecisas. 

Lixa entraria para tentar cancelar a sobremesa isenta de açucar. Era a vez de surgir um doce para, a meias com o chá que interditava o café, bem mais stressante, servir de consolação a quem se limitava a disfarçar a fome. O avançado misturava-se rapidamente no jogo sensaborão, conquistando espaços que até aí não deixavam ninguém de água na boca. Estava quase. O requinte estava lá, o composto era finalmente perfumado, mas faltava uma pitada de golo, que Quim voltava a atirar para a dispensa, para desgosto dos comensais. Não ia dar. Nem mesmo com as tentativas finais do Braga. O jogo estava fadado a permanecer macrobiótico.

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