"Há doentes oncológicos que vão ficando para trás e doentes de patologia benigna que são operados antes": coordenador do Plano de Emergência do SNS quer hospitais a resolver "injustiças" nas listas de espera

3 jul, 23:48

O alerta é do coordenador do Plano de Emergência da Saúde, que verificou nos últimos dois meses situações de "injustiça" no acesso de doentes "mais antigos", alguns com doenças oncológicas, a cirurgias, em detrimento de outros "doentes de patologia benigna", pedindo por isso a responsabilização dos conselhos de administração

Eurico Castro Alves, o coordenador do Plano de Emergência da Saúde, alerta que os sistemas hospitalares criam "injustiças" no acesso a intervenções cirúrgicas de doentes, havendo casos de "doentes oncológicos que vão ficando para trás" em detrimento de outros, com patologia benigna, para ficarem bem colocados nos rankings das listas de espera.

Em entrevista à CNN Portugal, o médico que coordenou, nos últimos dois meses, o grupo de trabalho que definiu o plano de emergência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), diz ter verificado situações de "injustiça na distribuição e nas oportunidades de intervenções cirúrgicas" dos doentes. "Se formos aos históricos das intervenções cirúrgicas nos hospitais, é fácil encontrar doentes mais antigos na lista de espera - e o caso é mais preocupante quando falamos de doentes oncológicos - que vão ficando para trás e, muitas vezes, doentes de patologia benigna são operados antes", denuncia.

O médico diz que não está em causa uma "negligência grave" das administrações hospitalares, uma vez que estas situações resultam da forma como o sistema de gestão dos blocos operatórios está organizado, funcionando "quase em gestão automática, no dia a dia, na marcação das cirurgias".

"Daí eu querer responsabilizar os conselhos de administração porque eles têm de intervir diretamente na gestão das listas de espera", defende o médico, que diz ter verificado listas de espera "à escala nacional" e que "muitas delas não correspondiam à realidade". "Nós tínhamos doentes que já tinham sido operados e que constavam da lista, tínhamos nomes de pessoas que já tinham falecido, portanto há um conjunto de circunstâncias que mostrou que não havia uma gestão cuidadosa da lista de espera e isto é muito importante, porque isto é que dá eficiência ao sistema e aumenta o acesso das pessoas a tratamentos mais rapidamente", argumenta.

Questionado sobre o encerramento, de forma alternada, de unidades de saúde durante o verão, nomeadamente de serviços de urgência e maternidades, Eurico Castro Alves diz ter verificado que a gestão destes serviços está a ser feita "de uma forma muito inteligente, racional, com uma boa gestão dos recursos". O médico admite que, "no caso concreto das grávidas e da obstetrícia, há serviços que têm fechado, mas há outros que se mantêm abertos. "Tanto quanto eu sei, ninguém ficou por tratar", assinala.

"Eu acho que não é tão importante saber que serviço está aberto ou fechado. O importante é saber se há pessoas ou não há pessoas que ficam sem acesso a tratamentos e a cuidados de urgência. Se há um serviço de obstetrícia que fecha ou há um serviço de urgência que fecha, o importante é saber se há uma alternativa disponível numa localização razoável para que as pessoas não fiquem sem tratamento. E eu tenho notado que esse trabalho está a ser feito", sublinha.

No Plano de Emergência da Saúde, que já foi apresentado ao Governo, cabendo agora à nova direção-executiva do SNS e ao Ministério da Saúde a sua execução, Eurico Castro Alves defende "a criação de um sistema de avaliação da performance das administrações hospitalares". "Tenho de reconhecer que hoje em dia é muito difícil ser administrador hospitalar, porque ser administrador hospitalar é ser um gestor de escassez: faltam recursos humanos, falta dinheiro, faltam equipamentos, faltam investimentos em obras, portanto há um longo trabalho a fazer", admite.

Sobre a avaliação da performance, o coordenador explica que esse sistema permitiria "ver quais as equipas que estão a cumprir com a sua missão e que estão a ter bons resultados e aquelas equipas que eventualmente não se conseguiram adaptar nem apetrechar para cumprir com a missão assistencial que lhes foi pedida".

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