Sameh Maraaba: das prisões israelitas aos golos para o Mundial

17 jun 2015, 11:15
Maraaba (Palestina)

Goleador palestiniano está na lista negra do governo sionista. A incrível história de um rapaz de 23 anos, cujo maior sonho é jogar o Campeonato do Mundo

28 de abril, 2014.
Ponte Allenby, posto fronteiriço de Israel antes de território jordano. Sameh Maraaba, 23 anos e avançado da Palestina, é detido pelas tropas sionistas quando viajava com a comitiva da seleção para a Challenge Cup, nas Maldivas.

Maraaba desaparece durante oito meses. A acusação, pouco clara desde o início, rotula-o de colaboracionista com o Hamas. De calabouço em calabouço, o goleador clama inocência, mas só é libertado em dezembro.

16 de junho, 2015.
Sameh Maraaba marca dois golos à Malásia, em jogo da qualificação na zona asiática para o Mundial de 2018. E festeja como se estivesse a saborear tudo pela primeira vez.

Os momentos estão registados no seguinte vídeo (56s e 4m02s):

 
Com este triunfo esmagador, a Palestina passa a liderar a Grupo A com os mesmos pontos de Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. E Sameh pode muito bem acreditar com a presença no próximo Campeonato do Mundo. A volta que a vida dele deu.

Culpado ou inocente?
Bem, as versões, sem ponta de surpresa, divergem de parte a parte.

A federação palestiniana, pela voz do president Jibril Rajoub, colocou-se desde o primeiro instante ao lado de Sameh Maraaba.

«Ele encontrou-se com um antigo colega de equipa, agora a viver no Qatar, e recebeu uma quantia de dinheiro para apoiar o futebol palestiniano. Só isso»
.

O problema, do ponto de vista dos serviços de segurança de Israel, é que esse amigo de Maraaba tem fortes ligações ao Hamas. Ora, após esse contato, o futebolista entrou na lista negra do estado israelita e passou a ser mais um perigoso terrorista.

«Temos informações concretas de que o senhor Maraaba estava a conspirar com o inimigo e a servir de correio para o transporte de dinheiro e comunicações»
, referiu, semanas depois da da detenção, Paul Hirschon, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel.

«E se alguém do Hamas oferecer um donativo à Federação Palestiniana de Futebol? Qual é o problema nisso»
, ripostou Jibril Rajoub.

Nenhum, dirá o povo palestiniano. Todo o que houver no mundo, obstarão os israelitas.
 

Limitemo-nos aos factos: depois de ter sido preso, ainda com o fato de treino da seleção da Palestina, Sameh Maraaba andou de prisão em prisão e poucas notícias conseguiu dar à família.    

Nas ruas de Qalqilya, onde sempre viveu, a sua imagem decorou as fachadas de prédios e andou de mão em mão, como símbolo da resistência à opressão do invasor judaico.

Em junho de 2014, a ASI (Agência de Segurança Israelita) divulgou um longo comunicado, onde detalhava os motivos do aprisionamento do avançado palestiniano.

O documento - «um chorrilho de mentiras»
, atirou a federação palestiniana – incendiou os ânimos e arruinou as frágeis relações desportivas entre os dois estados.

O extenso documento oficial pode ser lido AQUI
, se o leitor estiver disposto a isso.

Sameh Maraaba resistiu ao isolamento e saiu em liberdade no final do ano. Nunca falou publicamente sobre o caso, a não ser para gritar a sua inocência.

Há poucas semanas, porém, voltou a ser incomodado. O seu nome não voltará a sair da lista negra israelita, isso é claro. A 21 de maio, novamente integrado na comitiva palestiniana e a caminho de um jogo na Tunísia, Sameh foi detido durante três horas.

Os responsáveis da federação recusaram abandonar o local – novamente a fronteira entre Israel e Jordânia – sem Sameh Maraaba. A pressão resultou e o atacante já marca golos e sorri.

Nota final e importante: a inexistência de aeroportos em território palestiniano obriga a seleção a viajar sempre por terra até Omã, na Jordânia, e daí partir para outros destinos.

Se a Palestina se qualificar para o Mundial, essa será a derradeira barreira a transpor.  

 



 

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