Não querem emigrar nem querem fazer horas extra não pagas. O que querem, afinal, os futuros médicos de Portugal?

1 mar, 18:00
Faculdade de Medicina (FMUP / FOTO: Joana Moser)

O QUE SE OUVE NOS CORREDORES DAS UNIVERSIDADES || Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

“Como é que vou ter um futuro em Portugal?”. “Como me vejo a ficar?”. Estas são perguntas de dois futuros médicos da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). É um dos cursos mais difíceis de entrar do país, com uma média de entrada de 18,3 valores (nota do último colocado na 1ª fase em 2023). Para além disso, formar um médico custa quase 100 mil euros - contas da ainda ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, seja no público ou no privado, ao longo de todo o processo de formação, que exige 11 anos no total: seis anos de licenciatura com mestrado integrado; realização da Prova Nacional de Acesso (PNA) no sexto ano; seguido do Ano Comum, onde trabalham rotativamente em várias áreas com diferentes doentes; mais quatro anos de Internato de Formação Especializada (IFE), dependendo da nota da PNA. “São 11 anos em que passamos a ser, passo a expressão, escravos da malta mais velha, por uma falta de condições e de recursos”, afirma Emília Pinho, 22 anos, estudante do 5.º ano de Medicina da FMUP. 

Mas há quem nem consiga entrar no IFE, optando por trabalhar enquanto “indeferenciados”, isto é, médicos não especialistas, ou emigrar. Em 2023, pelo menos 453 médicos pediram à Ordem dos Médicos a declaração que permite que possam emigrar para trabalhar, fazer estágios ou formações.

Este ano o problema não passou apenas pela emigração, mas sim pelo elevado número de vagas para especialidade que ficaram por preencher. Segundo o Sindicato Independente dos Médicos, foram mais de 400 vagas. “Por aqui se vê a atratividade que tem trabalhar no Serviço Nacional de Saúde”, lamentou a estrutura sindical. “Ou seja, houve pessoas que escolheram efetivamente não ingressar numa especialidade médica, mesmo após seis anos de curso”, afirma Emília num tom indignado. 

“Preocupa-me que, passados seis anos e um exame final puxadíssimo, as condições que Portugal propõe são tão baixas que as pessoas preferem não entrar para uma especialidade. Claramente não há condições”, acrescenta.

 

Relacionados

Decisão 24

Mais Decisão 24

Patrocinados