Bebidas 'sem açúcar' podem aumentar o risco de doenças cardíacas em 20%

CNN , Sandee LaMotte
31 mar, 16:00
Refrigerante (Freepik)

Beber dois ou mais litros por semana de bebidas adoçadas artificialmente – o equivalente a um refrigerante diet de fast-food de tamanho médio por dia – aumenta em 20% o risco de um batimento cardíaco irregular chamado fibrilhação auricular, quando comparado com pessoas que não beberam nenhum, revela um novo estudo.

Conhecida como A-fib [abreviatura do nome em inglês], a fibrilhação auricular é um batimento cardíaco irregular frequentemente descrito por muitas pessoas como um “tremor”, “vibração” ou “flip-flop” no coração.

Beber um número semelhante de bebidas com açúcar adicionado aumentou o risco da doença em 10%, enquanto beber cerca de 120 ml de sumos puros e sem açúcar, como sumo de laranja ou de vegetais, foi associado a um risco 8% menor de fibrilhação auricular, revela o estudo.

“É o primeiro estudo a relatar uma associação entre adoçantes sem ou com poucas calorias e também bebidas adoçadas com açúcar e aumento do risco de fibrilhação auricular”, disse, em comunicado, Penny Kris-Etherton, professora emérita de ciências nutricionais na Universidade Estadual da Pensilvânia, que não esteve envolvida no novo estudo.

Embora o estudo só tenha conseguido mostrar uma associação entre bebidas açucaradas e A-fib, a relação permaneceu após contabilizar qualquer suscetibilidade genética à doença. Um estudo de 2017 descobriu que pessoas com ascendência europeia tinham cerca de 22% de risco de herdar a doença.

“Ainda precisamos de mais investigações sobre estas bebidas para confirmar estas descobertas e para compreender completamente todas as consequências para a saúde, no que diz respeito a doenças cardíacas e outras condições de saúde”, disse Kris-Etherton, que também é membro da comissão de nutrição da American Heart Association.

“Entretanto, a água é a melhor escolha e, com base neste estudo, as bebidas adoçadas sem ou com poucas calorias devem ser limitadas ou evitadas”, acrescentou.

 

A fibrilhação auricular é perigosa e está a aumentar

A fibrilhação auricular é a principal causa de acidente vascular cerebral nos Estados Unidos. Além disso, os acidentes vasculares cerebrais associados à A-fib tendem a ser “mais graves do que os acidentes vasculares cerebrais com outras causas subjacentes”, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC).

A fibrilhação auricular também pode causar coágulos sanguíneos, insuficiência cardíaca e “pode aumentar o risco de ataque cardíaco, de demência e de doença renal. Todas essas doenças são provavelmente riscos de longo prazo”, disse Dr. Gregory Marcus, professor de medicina da Universidade da Califórnia - Escola de Medicina de São Francisco (UCSF) e diretor do departamento de investigação de cardiologia na UCSF, numa entrevista anterior que deu à CNN.

Quase 40 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com fibrilhação auricular, 6 milhões das quais só nos Estados Unidos, de acordo com a Heart Rhythm Society, que representa mais de 7.000 especialistas em perturbações do ritmo cardíaco de mais de 90 países.

Muitas dessas pessoas sofrem de dores no peito, palpitações, falta de ar e fadiga. Mas para outros, a A-fib é assintomática, um assassino potencialmente silencioso. Uma vez detetada, porém, a condição pode ser tratada com medicamentos, mudanças no estilo de vida e, se necessário, cirurgias para retardar ou restaurar o ritmo normal do coração.

A taxa de fibrilhação auricular na população dos EUA está a crescer: o CDC estima que cerca de 12 milhões de americanos terão A-fib até 2030.

“A idade é um dos fatores de risco mais importantes, por isso, com o envelhecimento da população, a doença está a tornar-se mais comum”, disse Marcus.

A epidemia de obesidade também está a contribuir para o aumento dos números, juntamente com outros fatores de risco, como hipertensão, diabetes, doença renal crónica, tabagismo e consumo de álcool.

“Investigações anteriores mostraram que o alto consumo de refrigerantes está associado ao aumento do risco de FA (fibrilação atrial)”, disse, em comunicado, Tom Sanders, professor emérito de nutrição e dietética do King’s College London, que não esteve envolvido no novo estudo.

“Sabe-se que o risco de FA está associado à diabetes tipo 2, ao consumo excessivo de álcool (comumente chamado de coração de férias), bem como ao uso de drogas ilícitas (cocaína)”, disse Sattar.

Possíveis ‘riscos adicionais para a saúde’

O estudo, publicado no início de março na revista Circulation: Arrhythmia and Electrophysicalology, analisou dados de quase 202 mil pessoas que participaram de um grande banco de dados biomédico chamado UK Biobank. Acompanhadas por uma média de 10 anos, as pessoas analisadas tinham idades entre 37 e 73 anos e mais da metade eram mulheres.

Os maiores consumidores de bebidas adoçadas artificialmente eram sobretudo mulheres, mais jovens, pesavam mais e tinham maior prevalência de diabetes tipo 2, concluiu o estudo. Aqueles que bebiam mais bebidas açucaradas eram sobretudo do sexo masculino, mais jovens, pesavam mais e tinham maior prevalência de doenças cardíacas.

As pessoas que bebiam bebidas adoçadas com açúcar e sumo puro eram “mais propensas a ter uma ingestão maior de açúcar total do que aquelas que bebiam bebidas adoçadas artificialmente”, de acordo o comunicado.

“As descobertas do nosso estudo não podem concluir definitivamente que uma bebida representa mais riscos para a saúde do que outra devido à complexidade das nossas dietas e porque algumas pessoas podem beber mais de um tipo de bebida”, disse o autor principal do estudo, Dr. Ningjian Wang, professor no Shanghai Ninth People’s Hospital e na Shanghai Jiao Tong University School of Medicine, em Shanghai, na China.

“No entanto, com base nessas descobertas, recomendamos que as pessoas reduzam ou até mesmo evitem bebidas adoçadas artificialmente e açucaradas sempre que possível”, disse Wang no comunicado. “Não tome como certo que beber bebidas com baixo teor de açúcar e poucas calorias, adoçadas artificialmente é saudável, pois pode representar riscos potenciais para a saúde.”

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