Um ano da morte de Isabel II. Se Vitória ainda hoje é uma mulher lendária, Isabel não será esquecida

7 set 2023, 10:00
Rainha Isabel II

Um ano depois da morte da rainha Isabel II e com um novo rei no trono, a monarquia britânica vive um período de "renovação da continuidade" apoiado no seio familiar. Carlos III, o novo monarca, tem dado continuidade aos ensinamentos da mãe ao mesmo tempo em que vai impondo o seu "espírito de sustentabilidade"

8 de setembro de 2022. O Reino Unido e o mundo recebiam com pesar a notícia da morte da rainha Isabel II, aos 96 anos, e viam Carlos III assumir o lugar de rei como era seu desígnio. Um ano depois, o que mudou? Para Alberto Miranda, especialista em assuntos da realeza, "muita coisa", apesar da "renovação da continuidade".

Em conversa com a CNN Portugal, o também escritor lembra que Isabel II "era uma figura à escala planetária e hoje é um dos grandes mitos da atualidade porque teve um reino sem mácula", uma mulher que considera que "não vai ser esquecida".

"Se a Rainha Vitória, que reinou no século XIX, é uma mulher lendária ainda hoje no Reino Unido, Isabel II, que viveu no século XX e no século XXI” com todo o poder das redes sociais, onde tudo é viral, “é uma mulher que não será esquecida", afirma o especialista em realeza. Alberto Miranda acrescenta que a popularidade da rainha "permanece intacta e hoje é uma figura recordada com saudade”.

E Carlos é o rei que se segue. “Um ano depois, vemos que Carlos foi coroado e que aquele mito de que iria abdicar e passar o trono ao filho, não se verificou", recorda o escritor.

Carlos subiu ao trono a 6 de maio e teve como uma das principais funções "arrumar a casa", começando pelo "elemento desestabilizador" - o filho Harry -, sempre dando continuidade aos ensinamentos da mãe.

"Harry publicou um livro em janeiro, a sua biografia e a Casa Real limitou-se à posição do silêncio. Não reage, não comenta. Esta posição é, no fim do caminho, também a posição de Isabel II, de que os assuntos da esfera pública permanecem na esfera pública, e os assuntos da família permanecem no recato do lar. Assim, só conhecemos a versão de Harry, não houve contraditório. Esta posição de Carlos também mostra que percebeu, na sua educação, que os assuntos da esfera privada não se comentam", explica Alberto Miranda.

Harry foi, aliás, a pessoa com quem Carlos terá tido mais assuntos a tratar, ainda que de forma indireta. Com a subida de Carlos ao trono, "uma das grandes mudanças também foi que os filhos de Harry conseguiram ganhar o título de príncipe", títulos que já tinham sido reclamados pelos duques de Sussex.

Para além disso, o novo monarca teve de redistribuir os títulos militares que antes pertenciam ao filho e que agora se encontram nas mãos de outros membros reais, como Camilla, a William e a Kate, que são o grande apoio de Carlos.

William e Kate, os príncipes de Gales

"William e Kate, os novos príncipes de Gales, são o grande apoio de Carlos. São elementos fortes na instituição, no fundo, porque Carlos sabe isso. William e Kate têm este poder de galvanizar as massas, de unir. E, sendo eles os próximos (reis), este papel de William e de Kate é muito importante para a continuidade da monarquia, para esta identificação. Porque os britânicos têm muito presente no ADN esta magia da monarquia, do sonho. E William e Kate representam isso. Representam esta continuidade, esta projeção nas massas, que é um dos garantes da sobrevivência da instituição", afirma.

Ao serviço da comunidade

Mas o rei Carlos III não se apoiou apenas em William e Kate, como lembra o especialista em realeza, até porque a "família real é uma família que está ao serviço da comunidade". Segundo Alberto Miranda, o novo monarca tem ainda como braço direito quer os novos duques de Edimburgo, quer a irmã, a princesa Anne.

"Ele contempla o irmão e granjeia-lhe o título, que era uma das grandes expectativas do duque de Edimburgo. Edward e Sophie são os novos duques de Edimburgo, mas ele também continua a contar com o apoio da irmã Anne que tem sido o seu braço direito e que é um dos elementos mais trabalhadores, mais ativos da família real. Porque uma família real é uma família que trabalha, que está ao serviço da comunidade. E o chamar dos irmãos é muito importante, porque eles representam o que é ser uma família real: é a primeira, é a que trabalha, é a que dá o exemplo, é a que está ao serviço".

E, perante este dever de família real, na opinião de Alberto Miranda, nem o príncipe Andrew, envolto em polémica nos últimos anos e afastados dos deveres reais, foi excluído pelo irmão.

"Ele não excluiu ninguém. É certo que o Andrew já não tem direito ao salário que recebia por ser membro ativo. Mas a verdade é que o Andrew esteve presente agora nas férias em Balmoral, até porque eles são irmãos e a rainha evocou muito a família neste espírito de união".

Apesar de uma monarquia ainda muito marcada pelos ensinamentos de Isabel II, que esteve 70 anos no trono, certo é que Carlos III, aos poucos, tem tentado impor o seu "espírito de sustentabilidade".

"Esta continuidade também tem aqui um fundo de renovação, de uma adaptação aos novos tempos. Por exemplo, a festa da coroação teve menos custos, menos tempo, menos pessoas envolvidas, o que têm a ver com esta renovação dos novos tempos. E depois havia aqui muito o espírito da sustentabilidade que esteve muito presente em todos os materiais usados, até nas cadeiras. Aqui este espírito de renovação também é importante".

As mudanças a pouco e pouco vão tendo impacto quer na família real quer na popularidade da monarquia no Reino Unido que parece não ter sido beliscada pela mudança de monarca.

"Podemos pensar nas duas grandes festas que aconteceram neste ano que passou: olhamos para a coração e para o Trooping the Colour, e o que vimos foi uma grande adesão popular. As multidões em volta da família real. Há aqui uma continuidade à volta da família real. Porque está muito arraigado no espírito dos britânicos. Se olharmos para estes dois grandes momentos, tanto a coroação como o Trooping the Colour, vemos que há uma grande comoção em volta da família real".

Alberto Miranda lembra ainda uma mudança amplamente comentada na imprensa britânica: o afastamento da assistente pessoal da rainha Isabel II.

"Foi a continuidade da renovação. Carlos afastou a assistente pessoal da rainha Isabel II, Angela Kelly. Afastou-a porque a função acabou e ela teve de sair da casa onde estava, no Castelo de Windsor. Mas, por exemplo, afastou Angela Kelly e promoveu Edward Young. O assistente pessoal, o secretário-privado da Rainha Isabel II, manteve-o para si".

A rainha Isabel II morreu a 8 de setembro, aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, rodeada pela família. O funeral decorreu em Londres e a monarca foi a enterrar em Windsor, na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, ao lado do marido, o duque de Edimburgo.

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