"A quota nacional não é a quota de amigos" de Pedro Nuno Santos. Socialistas "acelerados, em esteroides" para fechar listas de deputados

16 jan, 08:00
Bastidores do 24º Congresso do PS

Pedro Nuno Santos tem um papel determinante na constituição das listas de candidatos a deputados. Umas eleições antes do tempo tornam tudo mais rápido. E, no meio da pressa, há ainda mais margem para surgirem descontentes

Para muitos socialistas, esta é a semana que verdadeiramente importa depois da queda do Governo de António Costa em novembro passado. Porque é nesta semana que se fecham as listas de deputados. E (quase) todos querem fazer parte. Sobretudo se conseguirem ficar numa posição elegível.

Os militantes ouvidos pela CNN Portugal admitem que esta definição de listas não tem precedentes no partido, sobretudo porque a escolha de um novo líder ditou um calendário comprimido nas restantes etapas.

"Vai ser feito numa semana algo que costuma demorar mês e meio. Vai certamente haver uma vertigem de contactos", conta um membro do novo secretariado de Pedro Nuno Santos.

Esta segunda-feira à noite deu-se um passo fundamental com o secretariado nacional socialista a definir os critérios a aplicar na constituição dessas listas. Entre eles, o peso dos jovens.

Isso não quer dizer que o restante trabalho não esteja em curso. Em muitas federações, é um processo ‘em escadinha’, que começa nas concelhias, que procuram condicionar nomes e escolhas. "Em distritos em que existem mais concelhos do que lugares, é preciso fazer essa gestão”, conta o presidente de uma federação do PS nessa situação, que está "em fase de auscultação".

Contudo, mesmo nas federações em que há muitos lugares para distribuir, é praticamente impossível impedir o mal-estar nesta fase do processo. Os socialistas dizem ser algo normal, um "clássico" que "acontece em todos os partidos". "É um mal-estar a que já estamos todos muito habituados", insistem.

"Como costumamos dizer, é ‘incha, desincha, depois passa’. Não há tempo para grandes confusões. Está tudo acelerado, em esteroides", diz o mesmo membro do secretariado nacional.

"O princípio de uma boa lista é uma lista que passa. Não conheço nenhum antigo presidente da minha federação que tenha saída desta reunião com uma ovação de pé. Já eu estou a fazer o puzzle mental", junta o responsável de federação referido acima. Um colega de outra federação resume: "Gera sempre problemas. As listas não esticam, há mais nomes do que lugares."

Um puzzle que, admitem dois outros socialistas muito próximos de Pedro Nuno Santos, não será difícil de construir porque se procurará cultivar uma ideia de "continuidade". Contingências de umas eleições antecipadas: "Não houve espaço para novos protagonistas se afirmarem e distinguirem."

LUSA

A influência de Pedro Nuno

Entre quinta e domingo, as comissões políticas das federações do PS vão fechar e votar as listas de possíveis deputados. Mas não controlam na totalidade estas escolhas. O novo secretário-geral do partido tem uma palavra relevante a dizer.

Dizem as regras que cabe a Pedro Nuno Santos indicar a quota nacional. Esta quota corresponde a um terço dos eleitos da última eleição. Um exemplo: como em Lisboa foram eleitos 21 deputados, o líder socialista tem direito a apontar agora o nome para sete lugares na lista.

No sábado passado, Pedro Nuno Santos teve uma conversa "muito genérica" com os diferentes presidentes das federações. Não lhes deu, garantem, qualquer pista ou indicação sobre as escolhas a fazer. Mas é algo que irá mudar dentro de dias, porque a indicação do cabeça de lista por cada distrito é "articulada" entre o líder do PS e os presidentes das diferentes federações.

Algumas opções podem parecer mais óbvias, como a integração de Alexandra Leitão (que concorreu anteriormente por Santarém) ou Marta Temido (ex-cabeça de lista por Coimbra) no círculo de Lisboa. A última, recorde-se, lidera a concelhia da capital e é apontada como trunfo para as próximas autárquicas.

Essas escolhas de Pedro Nuno Santos, admitem os militantes, podem ser geradoras de mal-estar a nível local, mexendo com "sensibilidades", sobretudo nos círculos mais pequenos, que podem ver nomes da terra a serem ultrapassados por camaradas de partido mais mediáticos, sem qualquer ligação àquele território.

"O próprio secretário-geral gostaria de ter mais tempo para ponderar, refletir melhor, envolver outros protagonistas", conta um dirigente próximo de Pedro Nuno Santos.

"A quota nacional não é a quota de amigos do secretário-geral. Muitas vezes é para gerir continuidades. Para evitar que nomes fortes fiquem de fora devido a conflitos locais", junta o membro do secretariado.

(Lusa/Miguel A. Lopes)

Calendário apertado

O prazo legal para a entrega de listas é 29 de janeiro. Até lá, é preciso cumprir várias etapas.

O secretariado do PS definiu as regras esta segunda-feira, 15. Entre quinta e domingo, seguem-se as federações, que discutem e votam as listas fechadas pelos respetivos presidentes. Às vezes, é preciso fazer ajustes de última hora. E será preciso também que Pedro Nuno Santos entregue, de antemão, as escolhas a que tem direito.

Depois de votadas essas listas, chegam à cúpula do partido. Na próxima terça-feira, 23 de janeiro, a Comissão Política Nacional irá reunir-se para a aprovação final, depois da luz verde do próprio secretariado [conhecido como o "núcleo duro" de Pedro Nuno Santos] às escolhas.

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